quinta-feira, 10 de junho de 2010

Voto do Brasil no Conselho de Segurança não isola o país


É um erro crasso a opinião de comentaristas e colunistas sobre um possível ônus que o Brasil assumiu ao votar, junto com a Turquia, contra a nova rodada de sanções impostas ao Irã. A visão corrente é que esse voto contrário isolou o país no cenário internacional e o afastou da tão sonhada cadeira permanente no Conselho de segurança da ONU. Mas essa visão simplista é, por demais, embaraçosa. Por 50 anos o Brasil tem participado intermitentemente do CS, como membro eleito (é o país que mais vezes foi eleito para o CS), sempre mantendo uma participação discreta, sem se opor aos interesses do império, e nem por isso podemos dizer que esteve mais perto de obter uma vaga permanente, reivindicada há décadas. Além disso, é preciso compreender que o mundo de hoje não comporta mais as posturas de alinhamento automático ou de não-alinhamento, tão comum nos idos da Guerra Fria. Esse é o significado prático do multilateralismo que todos anunciam, mas que poucos se dispõem a praticar.

É um desatino pensar que um país como o Brasil, com crescente peso nas relações internacionais, não pode firmar posição de dissenso num tema que está longe de ser uma unanimidade. Por qualquer ângulo que se examine o assunto, abstraindo as bravatas de Armadinejad, não se justifica as sanções impostas. O Irã não pode ser tido como um país “fora-da-lei”, como rotulam americanos e israelenses. Goste ou não do regime dos Aiatolás, a verdade é que o Irã não invadiu nenhum país, não provocou nenhuma guerra, não bombardeou nenhum país vizinho, muito menos mantém ocupação militar de territórios alheios. O seu apoio ao grupo Hizbolah do Líbano e ao Hamas em Gaza, não é diferente do apoio que a CIA deu a Osama Bin Laden e outros radicais islâmicos na luta contra a URSS no Afeganistão na década de 80.

Fato é que no acordo com Brasil e Turquia, o Irã sinalizou de forma positiva, aceitando os termos básicos que lhe eram exigidos. Foram os EUA e seus aliados no CS que viraram as costas para essa via diplomática, preferindo aplicar sanções que, por seu conteúdo, pouco ou nada resultarão contra o programa nuclear iraniano. Pelo contrário, o sinal para Teerã é claro: construa a bomba o mais rápido, caso contrário será destruído. Tivesse Saddan Hussein realmente construído Armas de Destruição em Massa e os americanos não se meteriam a invadir o Iraque. Essa lógica distorcida é o resultado da política paranóica de segurança que o império americano dita ao mundo e que não tem tornado nem o mundo, nem os EUA, mais seguros. Obama havia dito em sua campanha que não se furtaria em sentar para conversar com os chamados inimigos dos EUA. Eleito, parece que Obama esqueceu essa boa disposição e assumiu o papel que sempre cabe ao inquilino da Casa Branca.

Oscarino Arantes

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