segunda-feira, 24 de maio de 2010

CHOMSKY E AS 10 ESTRATÉGIAS DE MANIPULAÇÃO MIDIÁTICA


O lingüista estadunidense Noam Chomsky, principal intelectual de esquerda dos EUA, autor de diversos livros, elaborou a lista das “10 estratégias de manipulação” através da mídia:


1- A ESTRATÉGIA DA DISTRAÇÃO

O elemento primordial do controle social é a estratégia da distração que consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e das mudanças decididas pelas elites políticas e econômicas, mediante a técnica do dilúvio ou inundações de contínuas distrações e de informações insignificantes. A estratégia da distração é igualmente indispensável para impedir ao público de interessar-se pelos conhecimentos essenciais, na área da ciência, da economia, da psicologia, da neurobiologia e da cibernética. “Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, cativada por temas sem importância real. Manter o público ocupado, ocupado, ocupado, sem nenhum tempo para pensar; de volta à granja como os outros animais (citação do texto 'Armas silenciosas para guerras tranqüilas')”.

2- CRIAR PROBLEMAS, DEPOIS OFERECER SOLUÇÕES

Este método também é chamado “problema-reação-solução”. Cria-se um problema, uma “situação” prevista para causar certa reação no público, a fim de que este seja o mandante das medidas que se deseja fazer aceitar. Por exemplo: deixar que se desenvolva ou se intensifique a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de que o público seja o mandante de leis de segurança e políticas em prejuízo da liberdade. Ou também: criar uma crise econômica para fazer aceitar como um mal necessário o retrocesso dos direitos sociais e o desmantelamento dos serviços públicos.

3- A ESTRATÉGIA DA GRADAÇÃO

Para fazer com que se aceite uma medida inaceitável, basta aplicá-la gradativamente, a conta-gotas, por anos consecutivos. É dessa maneira que condições socioeconômicas radicalmente novas (neoliberalismo) foram impostas durante as décadas de 1980 e 1990: Estado mínimo, privatizações, precariedade, flexibilidade, desemprego em massa, salários que já não asseguram ingressos decentes, tantas mudanças que haveriam provocado uma revolução se tivessem sido aplicadas de uma só vez.

4- A ESTRATÉGIA DO DEFERIDO

Outra maneira de se fazer aceitar uma decisão impopular é a de apresentá-la como sendo “dolorosa e necessária”, obtendo a aceitação pública, no momento, para uma aplicação futura. É mais fácil aceitar um sacrifício futuro do que um sacrifício imediato. Primeiro, porque o esforço não é empregado imediatamente. Em seguida, porque o público, a massa, tem sempre a tendência a esperar ingenuamente que “tudo irá melhorar amanhã” e que o sacrifício exigido poderá ser evitado. Isto dá mais tempo ao público para acostumar-se com a idéia de mudança e de aceitá-la com resignação quando chegue o momento.

5- DIRIGIR-SE AO PÚBLICO COMO CRIANÇAS DE BAIXA IDADE

A maioria da publicidade dirigida ao grande público utiliza discurso, argumentos, personagens e entonação particularmente infantis, muitas vezes próximos à debilidade, como se o espectador fosse um menino de baixa idade ou um deficiente mental. Quanto mais se intente buscar enganar ao espectador, mais se tende a adotar um tom infantilizante. Por quê?“Se você se dirige a uma pessoa como se ela tivesse a idade de 12 anos ou menos, então, em razão da sugestionabilidade, ela tenderá, com certa probabilidade, a uma resposta ou reação também desprovida de um sentido crítico como a de uma pessoa de 12 anos ou menos de idade (ver “Armas silenciosas para guerras tranqüilas”)”.

6- UTILIZAR O ASPECTO EMOCIONAL MUITO MAIS DO QUE A REFLEXÃO

Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para causar um curto circuito na análise racional, e por fim ao sentido critico dos indivíduos. Além do mais, a utilização do registro emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente para implantar ou enxertar idéias, desejos, medos e temores, compulsões, ou induzir comportamentos…

7- MANTER O PÚBLICO NA IGNORÂNCIA E NA MEDIOCRIDADE

Fazer com que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os métodos utilizados para seu controle e sua escravidão. “A qualidade da educação dada às classes sociais inferiores deve ser a mais pobre e medíocre possível, de forma que a distância da ignorância que paira entre as classes inferiores às classes sociais superiores seja e permaneça impossíveis para o alcance das classes inferiores (ver ‘Armas silenciosas para guerras tranqüilas’)”.

8- ESTIMULAR O PÚBLICO A SER COMPLACENTE NA MEDIOCRIDADE

Promover ao público a achar que é moda o fato de ser estúpido, vulgar e inculto…

9- REFORÇAR A REVOLTA PELA AUTOCULPABILIDADE

Fazer o indivíduo acreditar que é somente ele o culpado pela sua própria desgraça, por causa da insuficiência de sua inteligência, de suas capacidades, ou de seus esforços. Assim, ao invés de rebelar-se contra o sistema econômico, o individuo se auto-desvalida e culpa-se, o que gera um estado depressivo do qual um dos seus efeitos é a inibição da sua ação. E, sem ação, não há revolução!

10- CONHECER MELHOR OS INDIVÍDUOS DO QUE ELES MESMOS SE CONHECEM

No transcorrer dos últimos 50 anos, os avanços acelerados da ciência têm gerado crescente brecha entre os conhecimentos do público e aquelas possuídas e utilizadas pelas elites dominantes. Graças à biologia, à neurobiologia e à psicologia aplicada, o “sistema” tem desfrutado de um conhecimento avançado do ser humano, tanto de forma física como psicologicamente. O sistema tem conseguido conhecer melhor o indivíduo comum do que ele mesmo conhece a si mesmo. Isto significa que, na maioria dos casos, o sistema exerce um controle maior e um grande poder sobre os indivíduos do que os indivíduos a si mesmos.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Duas cosmologias em conflito



Por Leonardo Boff*


O prêmio Nobel em economia Joseph Stiglitz disse recentemente:"O legado da crise ecômico-financeira será um grande debate de idéias sobre o futuro da Terra". Concordo plenamente com ele. Vejo que o grande debate será em torno das duas cosmologias presentes e em conflito no cenário da história.

Por cosmologia entendemos a visão do mundo - cosmovisão - que subjaz às idéias, às práticas, aos hábitos e aos sonhos de uma sociedade. Cada cultura possui sua respectiva cosmologia. Por ela se procura explicar a origem, a evolução e o propósito do universo e definir o lugar do ser humano dentro dele.

A nossa atual é a cosmologia da conquista, da dominação e da exploração do mundo em vista do progresso e do crescimento ilimitado. Caracteriza-se por ser mecanicista, determinística, atomística e reducionista. Por força desta cosmovisão, criaram-se inegáveis benefícios para a vida humana mas também contradições perversas como o fato de que 20% da população mundial controlar e consumir 80% de todos os recursos naturais, gerando um fosso entre ricos e pobres como jamais havido na história. Metade das grandes florestas foram destruidas, 65% das terras agricultáveis, perdidas, cerca de 5 mil espécies de seres vivos anualmente desaparecidas e mais mil agentes químicos sintéticos, a maioria tóxicos, lançados no solo, no ar e nas águas. Construiram-se armas de destruição em massa, capazes de eliminar toda vida humana. O efeito final é o desequilíbrio do sistema-Terra que se expressa pelo aquecimento global. Com os gases já acumulados, até 2035 fatalmente se chegará a 2 graus Celsius, e se nada for feito, segundo certas previsões, serão no final do século 4 ou 5 graus, o que tornará a vida, assim como a conhecemos hoje, praticamente impossível.

A predominância dos interesses econômicos especialmente especulativos, capazes de reduzirem paises à mais brutal miséria e o consumismo trivializaram nossa percepção do risco sob o qual vivemos e conspiram contra qualquer mudança de rumo.

Em contraposição, está comparecendo cada vez mais forte, uma cosmologia alternativa e potencialmente salvadora. Ela já tem mais de um século de elaboração e ganhou sua melhor expressão na Carta da Terra. Deriva-se das ciências do universo, da Terra e da vida. Situa nossa realidade dentro da cosmogênese, aquele imenso processo de evolução que se iniciou a partir do big bang, há cerca de 13,7 bilhões de anos. O universo está continuamente se expandindo, se auto-organizando e se autocriando. Seu estado natural é a evolução e não a estabilidade, a transformação e a adaptabilidade e não a imutabilidade e a permanência. Nele tudo é relação em redes e nada existe fora desta relação. Por isso todos os seres são interdependentes e colaboram entre si para coevoluirem e garantirem o equilíbrio de todos os fatores. Por detrás de todos os seres atua a Energia de fundo que deu origem e anima o universo e faz surgir emergências novas. A mais espetacular delas é a Terra viva e nós humanos como a porção consciente e inteligente dela e com a missão de cuidá-la.

Vivemos tempos de urgência. O conjunto das crises atuais está criando uma espiral de necessidades de mudanças que, não sendo implementadas, nos conduzirão fatalmente ao caos coletivo e que assumidas, nos poderão elevar a um patamar mais alto de civilização. É neste momento que a nova cosmologia se revela inspiradora. Ao invés de dominar a natureza, nos coloca no seio dela em profunda sintonia e sinergia. Ao invés de uma globalização niveladora das diferenças, nos sugere o bioregionalismo que valoriza as diferenças. Este modelo procura construir sociedades autosustentáveis dentro das potencialidades e dos limites das bioregiões, baseadas na ecologia, na cultura local e na participação das populações, respeitando a natureza e buscando o "bem viver" que é a harmonia entre todos e com a mãe Terra.

O que caracteriza esta nova cosmologia é o cuidado no lugar da dominação, o reconhecimento do valor intrínseco de cada ser e não sua mera utilização humana, o respeito por toda a vida e os direitos e a dignidade da natureza e não sua exploração.

A força desta cosmologia reside no fato de estar mais de acordo com as reais necessidades humanas e com a lógica do próprio universo. Se optarmos por ela, criar-se-á a oportunidade de uma civilização planetária na qual o cuidado, a cooperação, o amor, o respeito, a alegria e espiritualidade ganharão centralidade. Será a grande virada salvadora que urgementemente precisamos.

*Leonardo Boff junto com Mark Hathaway escreveu o livro The Tao of Liberation. Exploring the Ecology of Transformation, N.Y. 2009.

Fonte: Revista Digital Envolverde
http://www.envolverde.com.br/materia.php?cod=74684&edt=

terça-feira, 18 de maio de 2010

O Brasil enredado na fábula do pensamento único

Testemunhamos no Brasil de hoje o que chamo de fábula do pensamento único. Produzimos uma democracia mergulhada num perigoso consensualismo político-pragmático, viciada no clientelismo, onde não há espaço para o dissenso. Uma anestesia lenta como veneno, que entorpece e paralisa o pensamento crítico, corroendo o processo político. Esse talvez venha ser o pior legado do governo Lula, quando puder ser analisado à distância no tempo.
Sem dúvida que nossa democracia empobreceu nos últimos anos com a completa falta de debate e confrontações de idéias. Quando Lula assumiu seu primeiro mandato, avaliei que o maior risco era o seu governo não ter oposição e isso, infelizmente, se confirmou. O governo PT incorporou rapidamente quadros do governo PSDB, sem qualquer constrangimento ou contradição com suas idéias, principalmente no comando da política econômica. Isso porque desde os anos do governo FHC, foi urdido nos bastidores de nossa mal fadada política uma falsa polarização entre PT e PSDB, com o intuito de delimitar o pluralismo partidário, em favor de uma hegemonia ideopolítica que pouco se difere e não se contradiz em seu discurso tecnocrata. Esvaziando os rompantes retóricos, qual a diferença significativa entre o PT e o PSDB no governo? Sem dúvida que momentos diferentes, produziram problemas diferente e, com isso, prioridades diferentes. Porém no essencial, as similitudes e afinidades superaram em muito as poucas divergências.
A despeito das regras que impedem a campanha antecipada, basta abrir qualquer jornal para vermos que as campanhas dos dois principais candidatos já estão a pleno vapor. Sem querer fazer qualquer trocadilho, mas a distância entre o discurso de Dilma e Serra, dificilmente caberia uma Marina. Isso pode parecer saudável para os senhores do mercado sem-lei e seus investidores sem-face. Mas a História ensina que uma democracia dificilmente sobrevive sem espaço real para o dissenso, a não ser como farsa.
O pluralismo de uma sociedade moderna, dinâmica e multicultural, exige a mais ampla confrontação de idéias e o múltiplo protagonismo dos mais diversos matizes. Sem dúvida que a democracia formal não é um valor absoluto, nem a forma constitucional de um Estado Democrático de Direito assegura por si só, uma democracia substancial. É preciso fomentar o senso crítico para confrontar as verdades estabelecidas e reproduzidas em torno do poder. Só assim evitaremos a degeneração da democracia em demagogia, possibilidade que Aristóteles advertiu há 2.400 anos. Porém hoje, no perigoso declive da monocromia ideopolítica o Brasil está mergulhando, refém da retórica do continuísmo do “seguir no caminho”, seja lá onde isso for nos levar.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Acordo Nuclear com Irã adia, mas não altera a intenção dos EUA de impor sanções

O anunciado acordo com o Irã sobre a questão nuclear, longe do ufanismo lulista, deve ser analisado pela ótica do ceticismo demonstrado pelas chancelarias das chamadas potências ocidentais. É óbvio que Lula pisou no pé do gigante do Norte. A Casa Branca muito a contragosto, por ver um aliado seu envolvido diretamente (no caso, a Turquia), usou da habitual polidez diplomática (coisa nova em tempos de Obama) ao saldar esse acordo como um passo, sob graves ressalvas. O distanciamento é evidente. Não há nenhuma boa-vontade na política externa do atual governo americano, apenas uma mudança de retórica e tática: em vez de atirar primeiro e perguntar depois, pergunta-se primeiro e atira-se depois. Os objetivos estratégicos permanecem os mesmos da era Bush, apenas mais matizados por uma tonalidade multilateral. Apenas os interesses americanos movem a política externa da América, nada mais. E os interesses continuam os mesmos, pautados pelo controle militar das grandes reservas energéticas do planeta. E o Irã, com seu presidente boquirroto, suas gigantescas reservas de petróleo e posição estratégica no Oriente Médio, é hoje um perfeito aspirante ao papel do “Império do Mal”. Pouco importa se tem ou não a intenção de criar armas nucleares. Basta a hipótese, por mais improvável que seja para a gigantesca máquina de propaganda de Tio Sam produzir uma “certeza”. Foi assim com o Iraque, que a Casa Branca jurava possuir ADMs (Armas de Destruição em Massa). No final, vimos que a única ADM que havia no Iraque, era o criminoso bloqueio econômico imposto ao país, que ceifou a vida de centenas de milhares de crianças iraquianas, segundo dados da ONU. As sanções foram usadas para debilitar a capacidade de resistência interna contra a invasão, desde o início pretendida pelos americanos. Mas acontece que no Iraque o tiro saiu pela culatra, afinal os falcões de Bush não primavam pelo intelecto. A derrubada do regime sunita de Saddan Hussein e a “promoção da democracia” alçaram ao poder a maioria xiita do Iraque, altamente afinada com o regime xiita da República Islâmica do Irã. Por tudo isso, o Irã virou a bola-da-vez, ou melhor, o “Império do Mal” do momento e dificilmente o acordo costurado em Teerã, produzirá uma alteração significativa na rota do desastre que se anuncia.

domingo, 16 de maio de 2010

Lula em Teerã: uma chance à paz ou alimento dos falcões?

Perceberam como os EUA tentam reverter o jogo do tabuleiro internacional a seu favor, convertendo a tentativa do presidente Lula de conseguir um acordo para a questão nuclear do Irã em ultimato para o regime de Teerã? Lula com seu carisma e boa vontade, tentou ganhar pontos para o Brasil na agenda principal da seara geopolítica, marcando posição contrária aos EUA sobre aplicação de sanções ao Irã, empunhando a bandeira da paz. Parecia uma tacada inteligente e sem dúvida ousada de um país que aspira a condição de potência. O histórico de sanções aplicadas é altamente desfavorável, pois estas acabam legitimando um regime de força, silenciando a oposição interna. No caso do Irã, as recentes manifestações internas demonstram que o país possui uma oposição ativa, que se tiver tempo, conseguirá desequilibrar a balança do poder político. Por outro lado, o desastre da guerra do Iraque, destruindo todo um país que afinal não significava nenhuma ameaça (lembram das “armas de destruição de massa” de Saddan?), gerando mais um foco de instabilidade e terrorismo na região, desacredita as proposições de Washington com relação ao regime iraniano. Tudo isso, obviamente, foi considerado pelo Planalto. Justamente por não ter nenhum grande interesse estratégico diretamente envolvido no Oriente Médio, o Brasil possui credenciais para a mediação. Além disso, nosso país possui um ‘capital’ de credibilidade por seu histórico não-alinhamento, que agora começa ser usado na difícil costura dessa nova ordem. Ocorre que ao deixar sua histórica posição de “não-alinhado” para tomar posição em questões geopolíticas, o Brasil gasta esse ‘capital’. Afinal entre a percepção difusa da emergência de uma nova ordem mundial e o estabelecimento desta, há um grande caminho, entrecortado por fracassos, desgastes e até confrontos. Sem dúvida que o Brasil precisa assumir o papel que lhe cabe no cenário político internacional. E isso exige iniciativa, independência e coragem. Só é preciso perder a ingenuidade e aprender logo que geopolítica é um jogo pesado com regras e dinâmica muito diferentes. O resultado desse jogo não importa tanto quanto o movimento das peças.