segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

SONHO IMPOSSÍVEL

De Chico Buarque
Para o musical O Homem de La Mancha de Ruy Guerra/1972


Sonhar
Mais um sonho impossível

Lutar
Quando é fácil ceder

Vencer 
O inimigo invencível

Negar 
Quando a regra é vender

Sofrer 
A tortura implacável
Romper
 A incabível prisão
Voar 
Num limite improvável
Tocar 
O inacessível chão




É minha lei, é minha questão
Virar esse mundo
Cravar esse chão

Não me importa saber
Se é terrível demais 

Quantas guerras terei que vencer
Por um pouco de paz

E amanhã, se esse chão que eu beijei
For meu leito e perdão

Vou saber que valeu delirar
E morrer de paixão




E assim, seja lá como for
Vai ter fim a infinita aflição
E o mundo vai ver uma flor
Brotar 
Do impossível chão.




sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

2013, o ano do fim da unipolaridade

POR RAMEZ PHILIPPE MAALOUF

A construção ideológica

O corrente ano que se finda será lembrado pela comunidade internacional como o ano em que a (ou o mito ou a ilusão da) unipolaridade dos EUA foi extinta.

Desde sua fundação, no século XVIII, os Estados Unidos da América (EUA), constituídos como uma “república de proprietários” (proprietários brancos protestantes escravocratas), forjaram o mito do “destino manifesto” do “povo eleito por Deus” (os mesmos proprietários brancos protestantes escravocratas).

Um mito muito conveniente num momento em que combatiam a Inglaterra para preservarem a escravidão e se apropriarem dos territórios indígenas – expulsando e exterminando a população autóctone. Fanatismo religioso, racismo e opressão (aos trabalhadores pobres, índios e negros africanos escravizados) foram os elementos fundamentais do “lar dos bravos (proprietários)” e a “terra da liberdade (dos proprietários)”, criando o primeiro Estado racial da História.

Foi em nome da escravidão e, portanto, da propriedade que o sul do país se colocou em armas para combater aquele que ameaçava a liberdade de usufruir sua propriedade, isto é, de escravizar: o governo central. A revolta liberal gerou uma guerra genocida descomunal em 1863. E os EUA levaram sua “missão divina” ao resto do mundo: a liberdade da casta de proprietários brancos anglo-saxões protestantes de dominar a humanidade.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Belém: terra do pão


Por Dom Demétrio Valentini

Estamos chegando ao Natal de 2013. É o primeiro sob o papa Francisco. Ainda temos bem presente o impacto positivo, causado no final do conclave, com a dupla surpresa: a escolha de um cardeal que ninguém imaginava, junto com a escolha do nome Francisco.

Esta dupla surpresa abriu logo um amplo espaço de projeção de expectativas, que foram se confirmando. Como o Francisco de Assis, o agora “Francisco de Roma” também se defronta com o desafio de renovar a Igreja de Cristo, e de retornar à vivência dos valores evangélicos.

Foi dentro deste contexto que São Francisco teve a idéia de celebrar o Natal reproduzindo o cenário de Belém, de onde resultou o “presépio”, que acabou entrando na tradição cristã. Hoje não se celebra o Natal, sem um presépio, por simples que seja.

Pois bem, estas circunstâncias nos chamam a atenção para conferir como vai ser este Natal, com um nome que sintetiza bem dois personagens, colocados a serviço da missão de Cristo e da Igreja, o Francisco de Assis e o Francisco de Roma.

Em vista desta sintonia de duas figuras simbolizando os mesmos valores, a Diocese de Jales elaborou sua novena propondo um “Natal com Francisco”.

O “presépio” é fácil de fazer. O mais desafiador é sintonizar com os objetivos que o novo papa vem nos propondo, com surpreendente objetividade e impressionante firmeza.

Uma iniciativa, que encontra respaldo no contexto do Natal, é a campanha contra a fome no mundo, lançada pela Cáritas, e recomendada com particular insistência pelo papa Francisco.

Assumindo esta iniciativa concreta, em tempos ainda de definição do seu pontificado, resulta clara a intenção de fazer desta campanha contra a fome a inspiração para a Igreja se voltar para a sociedade, e abraçar suas causas importantes.

A fome é expressão da necessidade mais premente de toda pessoa humana. Todos temos absoluta necessidade de comer, para viver. A fome se torna símbolo das necessidades, que precisam ser atendidas para garantir um mínimo de dignidade humana.

O bispo emérito de São Félix do Araguaia, Dom Pedro Casaldáliga, referindo-se ao debate sobre valores relativos e valores absolutos, com sua verve costumeira sentenciou: “só Deus é absoluto, e a fome!”.

Concordamos com D. Pedro, se entendemos que a fome dispensa qualquer discussão ou justificativa. Ela precisa ser atendida, e não pode esperar.

Nestes dias de Natal, nos encantamos com os gestos proféticos do papa Francisco, aproximando-se dos mendigos de Roma.

Estes gestos sinalizam o compromisso do combate à fome, que precisa ser colocado de maneira absoluta, pela Igreja e pela sociedade. Até o nome da cidade onde Jesus nasceu lembra o alimento mais necessário e mais universal.

Belém significa “terra do pão”. Que o Natal nos ensine de novo o gesto da partilha do pão, como fez Jesus, saciando as multidões.

Assim o Natal será, certamente, mais feliz, para todos!

D. Demetrio Valentini é bispo da diocese de Jales-SP.

Fonte: Correio da Cidadania

domingo, 22 de dezembro de 2013

O LATIFÚNDIO MULTINACIONAL

Por Mauro Santayana

Os grandes bancos já controlam, mediante o sistema constituído dos fabricantes de agrotóxicos, como a Monsanto, intermediários, exportadores, importadores e compradores locais,  usinas de beneficiamento, bolsas de futuros, silos e armazéns, o mercado mundial de alimentos. Agora, associados aos governos dos países centrais, estão avançando sobre as terras onde ainda há áreas férteis disponíveis. Só existem dois continentes com essa possibilidade: a África e a América do Sul.                

A China, cujo espaço territorial é quase todo árido e fragmentado em centenas de milhões de áreas reduzidíssimas, exploradas for famílias numerosas, está hoje à frente dessa  conquista territorial nos dois grandes continentes. Seu rival histórico, e que sofre da mesma dificuldade geológica, o Japão, mais antigo nesse movimento, disputa as mesmas áreas. Sobre o assunto, no que se refere à China, vale a pena conhecer o estudo de Dambisa Moyo, Winner Take All (O vencedor leva tudo). No caso da  China não se trata só de empreendedores privados, mas de operação conduzida pelo Estado, como controlador direto de toda a economia do país. Muitos se preocupam com a compra, direta, de jazidas minerais pelos chineses, mas se esquecem do mais estratégico bem da natureza, que é a terra e, com ela, a comida. Ao juntar a agricultura à mineração (a China comprou uma serra inteira ao Peru, uma das maiores reservas de cobre) os chineses buscam controlar o solo rico do planeta.

Empresas multinacionais, além das organizações chinesas e japonesas, estão adquirindo as áreas disponíveis nas margens dos rios africanos, onde é fácil a irrigação. O mesmo ocorre na América do Sul, e mais no Brasil, onde segundo informações oficiosas, já foram investidos 60 bilhões de dólares na compra de terras. Os chineses usam argentinos como laranjas, para constituir firmas agropecuárias de fachada. O projeto chinês é importar tudo o que produzir para seu  próprio consumo.

Ainda agora, na discussão, entre o governo e as Farc, na Colômbia,  soube-se que lá na há titularidade regular das terras. Bastou que o governo e os guerrilheiros se dispusessem a discutir, em primeiro lugar, o problema da terra, para que o presidente Santos fosse contestado pelas oligarquias, por meio do ex-presidente Uribe.

No caso da África, os compradores se entendem diretamente com os governantes, muitos deles notórios corruptos. Os pobres não têm como resistir aos governos e são expulsos, dando lugar a trabalhadores chineses. No mundo neoliberal, esse movimento de ocupação estrangeira, impelido pelo agronegócio, é a globalização do latifúndio.  Se, no Brasil, não houver uma reação forte e estratégica, seremos,  súditos dos novos donos das terras. E chegará o dia em que só as recuperaremos com sangue.


segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

As consequências do declínio norte-americano

Quando enfraquecimento da potência hegemônica torna-se nítido, abre-se período de caos geopolítico 

Por Immanuek Wallerstein

Tenho sustentado há muito que o declínio dos Estados Unidos como potência hegemônica começou por volta de 1970; e que este processo, no início lento, precipitou-se durante a presidência de George W. Bush. Comecei a escrever sobre o tema em 1980. À época, a reação a tal argumento, em todos os campos políticos, foi rejeitá-lo como absurdo. Nos anos 1990, acreditava-se em todas as faixas do espectro político que, ao contrário, os EUA tinham alcançado o ápice de seu domínio unipolar.

No entanto, depois do estouro da bolha financeira, em 2008, a opinião de políticos, teóricos e do público em geral começou a mudar. Hoje, uma ampla percentagem das pessoas (embora não todas) aceita a realidade de ao menos algum declínio relativo do poder, prestígio e influência norte-americanos. Nos EUA, este fato é aceito com muita relutância. Políticos e teóricos rivalizam-se em apresentar fórmulas sobre como o declínio ainda pode ser revertido. Acredito que ele é irreversível.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Mandela: uma luz na escuridão


“Não há iluminação em se encolher, para que os outros não se sintam inseguros, quando estão perto de você.

Nascemos para manifestar a glória do Universo que está dentro de nós. Não está apenas em um de nós: está em todos nós.

E conforme deixamos nossa própria luz brilhar, inconscientemente, damos às outras pessoas permissão para fazer o mesmo.

E conforme nos libertamos do nosso medo, nossa presença, automaticamente, libera os outros.” 

Nelson Rolihlahla Mandela

MANDELA VIVE!

 

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Estados Unidos, França e Grã-Bretanha apoiavam o regime do apartheid e consideravam Mandela um terrorista

50 verdades sobre Nelson Mandela

Por Salim Lamrani (*)

As grandes potências ocidentais opuseram-se até ao último instante à sua luta e apoiaram sempre o governo racista de Pretória. Mas o herói da luta contra o apartheid marcou para sempre a história da África. No crepúsculo da sua existência, Nelson Mandela passou a ser louvado por aqueles que sempre o combateram ou o ignoraram – como por exemplo Cavaco Silva. Eles agora choram lágrimas de crocodilo.

1. Nascido no dia 18 de julho de 1918, Nelson Rolihlahla Mandela, apelidado de Madiba, é o símbolo por excelência da resistência à opressão e ao racismo na luta pela justiça e pela emancipação humana.

2. Procedente de uma família de treze filhos, Mandela foi o primeiro a estudar em uma escola metodista e a cursar direito na Universidade de Fort Hare, a única que aceitava, então, pessoas de cor no governo segregacionista do apartheid.

3. Em 1944, aderiu ao Congresso Nacional Africano (ANC) e, particularmente, à sua Liga da Juventude, de inclinação radical.

4. O apartheid, elaborado em 1948 depois da vitória do Partido Nacional Purificado, instaurava a doutrina da superioridade da raça branca e dividia a população sul-africana em quatro grupos distintos: os brancos (20%), os indianos (3%), os mestiços (10%) e os negros (67%). Esse sistema segregacionista discriminava 4/5 da população do país.

5. Foram criados "bantustões", reservas territoriais destinadas às pessoas de cor, para amontoar as pessoas não brancas. Assim, 80% da população tinha de viver em 13% do território nacional, muitas vezes sem recursos naturais ou industriais, na total indigência.

domingo, 1 de dezembro de 2013

Black Bloc




Por Lincoln Secco

A imagem de um coronel da PM paulista agredido chocou a imprensa. Deixemos de lado o fato estranho: numa corporação militar não é comum que justamente o oficial de máxima patente fosse deixado sozinho em meio a manifestantes que não costumam ser bem tratados por seus soldados.

A presidente da República, movida pelas pesquisas de opinião, logo se declarou contra os “vândalos”. A Folha de S. Paulo já tinha uma pesquisa pronta para revelar que 95% dos paulistanos são contra os Black blocs. Mas o mesmo jornal não explica como a esmagadora maioria da população pode se posicionar sobre aquilo que ninguém sabe o que é! Afinal, a grande imprensa costuma mostrar o “vandalismo” como um ato irracional. Por que, afinal, alguém ataca caixas de banco?

Um articulista da Folha de S. Paulo sugeriu covardemente o uso do exército contra manifestantes! Já o governador paulista, sempre movido pelo feixe para onde convergem suas ideias, pede que as leis sejam mais duras para agressores de policiais. Ele sequer tem o pejo de violar o artigo 5 da Constituição. Não somos todos iguais perante a lei? Sobre a desmilitarização da polícia nenhuma palavra, afinal, é uma obra da ditadura tão intocável quanto os torturadores ainda soltos por aí.