quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

John Williams interpreta 'Recuerdos de la Alhambra' de Francisco Tarrega

De João Pedro Stedile: Poder Judiciário nada republicano



Por João Pedro Stedile

Os princípios que deram base à instalação de regimes democrático-burgueses, a partir das revoluções da Inglaterra e da França, é que todo poder político do Estado emanaria da vontade popular, das maiorias.

Que todo cidadão teria direitos e deveres iguais.

E o Estado se organizaria dividido em três poderes independentes: Executivo, Legislativo e Judiciário.

Aqui, no Brasil, e na maioria dos países da América Latina, o poder judiciário está muito longe de ser republicano. Seu poder nem emana do povo, nem é exercido para defender os interesses da maioria. As mazelas desse poder, não democrático, aparecem todos os dias no conhecimento da população e nos jornais. Desde as pequenas falcatruas oportunistas tipicamente de quem se sente inatingível até grandes desvios provocados pelos interesses da classe dominante, que usa e abusa do poder judiciário para manter seus privilégios.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

UM ALMOÇO PARA EINSTEN



Artigo de Luiz Pinguelli Rosa publicado no O Globo

Apartir de agora, atividades acadêmicas e científicas nas universidades federais deverão seguir uma cartilha com 122 prescrições burocráticas da Controladoria-Geral da União (CGU) e do Ministério da Educação (MEC).

"A revolução dos bichos" ("Animal farm", no título original), sátira de George Orwell ao stalinismo por trair a revolução socialista, tinha também uma cartilha, com sete mandamentos: tudo o que ande sobre duas pernas é inimigo; tudo o que ande sobre quatro pernas ou tenha asas é amigo; nenhum animal usará roupas; nenhum animal dormirá em cama; nenhum animal beberá álcool; nenhum animal matará outro animal; todos os animais são iguais.

Há contradição, arbitrariedades, burocracia idiota, moralismo hipócrita e pontos éticos e corretos. Embora ficção, essa cartilha é paradigmática.

Na cartilha da CGU e do MEC, há contradições e interpretações que confrontam a Constituição. Se a cartilha for seguida à risca, nenhum professor em dedicação exclusiva poderá possuir ações de empresas, nem mesmo da Petrobras ou do Banco do Brasil, o que é um absurdo. Também não poderá participar de sociedade privada, logo os pesquisadores terão que abdicar de sociedades científicas, como a SBPC, e de outras, como o Clube de Engenharia. O item 11, por exemplo, limita a autonomia universitária listando leis e decretos e omitindo artigos da Constituição. Outros itens tratam colegiados acadêmicos como corporativos e ameaçam seus membros. O objetivo é incutir o medo que costuma paralisar as pessoas.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

A ERA DO OBSOLETO



Oscarino Arantes

Vivemos em uma era de transformações que estão ocorrendo numa velocidade tão desmedida que mal conseguimos – e não somos tentados – a compreendê-la. Nenhuma outra lhe serve de parâmetro. As mudanças são tantas e tão profundas as suas repercussões a nossa volta, que é comum perdermos os referenciais para formar uma compreensão ou juízo crítico de valor. O primeiro referencial perdido é o próprio tempo. Não temos mais a noção de nosso tempo. Aquilo que achávamos futuro nos surpreende no presente quando descobrimos que já é passado.  Universalizamos a noção de obsoleto como medida de nossas vidas alienadas de seu tempo. A dinâmica do processo histórico parece ter acelerado com inúmeras mudanças na base material contemporânea. Nos últimos 20 anos, segundo pesquisadores, se produziu mais conhecimento do que em toda a História humana anterior. Novas tecnologias são criadas e introduzidas em nosso cotidiano num ritmo incessante, alterando os paradigmas de nossa própria vida, de nossas relações em família, nosso trabalho, nossa comunidade, nossas instituições. São tantas as pequenas revoluções que se sucedem num frenesi incontido, que não damos conta de o quanto profundamente elas nos afetam: o computador pessoal, a telefonia celular, a internet, o smartphone, os transgênicos, os biocombustíveis, etc.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Os limites da pátria



Por Mauro Santayana

É difícil saber se a Sra. Marina Silva é uma pessoa ingênua e de boas intenções, ou se optou, conscientemente, por defender os interesses das grandes potências que, sob o comando de Washington, exercem o solerte condomínio econômico do mundo e pretendem o absoluto império político. Há uma terceira hipótese que, com delicadeza, devemos descartar: desmesurada ambição de poder, sem as condições concretas para obtê-lo e exercê-lo.

Os admiradores lembram sempre sua origem modesta, o que não quer dizer tudo, mas não podem, com a mesma convicção, dizer que ela tenha mantido, ao longo da carreira, o que os marxistas chamam “consciência de classe”. Suas alianças são estranhas a esse sentimento. Ela se tornou uma figura homenageada pelos grandes do mundo, mas, sobretudo, do eixo Washington-Londres. Se ela mantivesse a consciência de classe, desconfiaria desses mimos. Para dizer a verdade, nem mesmo seria necessária a consciência de classe: bastaria a consciência de pátria.

A Sra. Silva, como alguns outros brasileiros que se pretendem na esquerda, é uma internacionalista. O meio ambiente, que querem preservar tais verdes e assimilados, não é o do Brasil para os brasileiros, mas é o do Brasil para o mundo. Quando a Família Real Inglesa e os círculos oficiais e financeiros norte-americanos cercam a menina pobre dos seringais de homenagens, usam de uma astúcia velha dos colonialistas, e fazem lembrar os franceses na aliança com a Confederação dos Tamoios, e os holandeses em suas relações com Calabar.

De Luigi Boccherini: La Musica Notturna delle Strade di Madrid. No. 6, Op. 30

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

A degradação moral da prática política



Por Frei Marcos Sassatelli

Alguns fatos destes últimos tempos, amplamente divulgados na Mídia, mostram, de maneira clara, o nível de degradação moral a que chegou a prática política de muitos de nossos parlamentares, governantes e juízes.

O primeiro fato é a eleição do presidente do Senado e da Câmara Federal. Que espetáculo deprimente! Renan Calheiros (PMDB-AL), que, em 4 de dezembro de 2007, renunciou à presidência do Senado para não ser cassado e é acusado de corrupção, foi reeleito e reconduzido, no dia 2 de fevereiro, à presidência do Senado, com o voto favorável da grande maioria dos senadores.

Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), que também é acusado de corrupção, foi eleito, no dia 4 de fevereiro, presidente da Câmara dos Deputados, com ampla maioria de votos. É uma prática política realmente vergonhosa e repugnante.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

OCASO DE UM MOVIMENTO: Occupy anulado pelo narcisismo?



Ao sobrevalorizar horizontalismo e consulta permanente às bases, movimento teria renunciado a formular propostas concretas, derrapando para elitismo e impotência

Por Thomas Frank, no Le Monde Diplomatique.

Uma cena vem à minha memória cada vez que tento recuperar o efeito excitante que o movimento Ocupar Wall Street (OWS) produziu em mim quando a manifestação ainda parecia ter um grande futuro. Estava no metrô de Washington,lendo um artigo sobre os manifestantes reunidos no Zuccotti Park de Manhattan. Fazia três anos que Wall Street havia se recuperado; dois anos que meu círculo de colegas e amigos havia abandonado a esperança de ver o presidente Barack Obama provar sua audácia; dois meses que os amigos republicanos dos banqueiros haviam conduzido o país à beira da moratória ao empreender um braço de ferro orçamentário com a Casa Branca. Como todos, já não aguentava mais.

Ao meu lado, estava um cidadão impecavelmente vestido, talvez um quadro superior que acabara de sair de algum salão comercial, a julgar pela bolsa a tiracolo com slogans que se referiam ao dinheiro. As frases indicavam como otimizar os investimentos financeiros, sugeriam que o luxo é um benefício e que ser um ganhador é magnífico. O homem parecia realmente incomodado. Eu saboreava a situação: em outros tempos, eu é que teria vergonha de exibir a capa do meu jornal em um vagão lotado; hoje, são pessoas como ele que tentam passar despercebidas.

Alguns dias depois, assistia a um vídeo na internet que mostrava um grupo de militantes do OWS debatendo em uma livraria. Em um momento do filme, um participante se perguntou sobre a obsessão de seus camaradas em insistir que se expressam “por si mesmos”, em vez de assumir que pertencem a um coletivo. Outro, então, replicou: “Cada um pode falar apenas por si mesmo; ao mesmo tempo, o ‘si mesmo’ poderia muito bem se diluir em seu próprio questionamento, como convida todo pensamento pós-estruturalista que leva ao anarquismo [...]. Não posso falar apenas por mim: é o ‘apenas’ que conta nesse caso, e certamente é aí que muitos espaços se abrem”.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

COMO SE MATAM OS POETAS



Mauro Santayana

A justiça chilena determinou a exumação dos restos mortais do cidadão chileno Neftaly Ricardo Reyes, o poeta Pablo Neruda. Suspeita-se que Neruda tenha sido envenenado pelos esbirros de Pinochet, dias depois da morte de Allende, no golpe de 11 de setembro de 1973 – há quase 40 anos. Neruda, que se preparava para asilar-se no México - em uma concessão dos golpistas, sob pressão internacional - foi internado em uma clínica, com uma crise prostática. Ali, segundo denúncia de seu motorista, recebeu a falsa medicação que o matou.

Os poetas – e poucos que redigem poemas conseguem ser realmente poetas – pertencem a outra espécie de seres humanos. Encontram-se na vanguarda das emoções e dos sentimentos. Isso leva a maioria deles a desfazer-se dos escolhos das circunstâncias e exilar-se em geografia e tempo alheios, mas sem perder a bússola da realidade, sem perder sua paisagem e sem perder o seu povo.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

UM PARLAMENTO IMUTÁVEL



Por Mauro Santayana

(JB) - Os argumentos dos que contestam a eleição dos presidentes do Senado Federal e da Câmara dos Deputados podem ser outros – e não nos cabe analisá-los. O que incomoda à consciência dos mais bem informados é a permanência dos mesmos atores políticos no poder ao longo dos lustres e dos decênios. Como lamentava o jornalista José Aparecido durante o período da Ditadura, o único consolo é que podemos contar com a inexorável sucessão biológica.

Dois fatores, um mais antigo, e outro mais recente, contribuíram para a situação atual: a Ditadura, que impediu, mediante todos os artifícios do poder, a renovação dos quadros políticos, e o instituto da reeleição para os cargos executivos. A Ministra Carmem Lúcia disse, com acuidade, que a reeleição quebra o equilíbrio que deve haver, nas disputas políticas, entre o governo e a oposição. Podemos entender, no sentido lato, dentro de nossa língua e da nossa visão de Estado, que, como governo, compreende-se o poder executivo e a maioria parlamentar que o apóia. Com a reeleição, a vantagem dos que se encontram no poder esmorece e dificulta a ação dos opositores.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Escândalo 'Vatileaks' teria motivado renúncia, diz revista



Papa decidiu renunciar após ler relatório sobre "Vatileaks", diz revista

Segundo a 'Panorama', renúncia estaria ligada a uma grande "resistência na Cúria" às medidas de transparência almejadas por Joseph Ratzinger

O papa Bento XVI teria decidido renunciar ao pontificado em 17 de dezembro do ano passado, após receber um novo relatório sobre o escândalo do vazamento de documentos oficiais do Vaticano, conhecido como "Vatileaks", que apontava uma "forte resistência" na Cúria romana em relação às medidas de transparência exigidas por ele.

A revelação está em um artigo da revista italiana Panorama, que será publicado amanhã mas que teve alguns trechos divulgados nesta quarta-feira. Segundo a revista do grupo Mondadori, propriedade da família Berlusconi, em 17 de dezembro de 2012 Bento XVI recebeu os três cardeais que nomeou para investigar o vazamento de seus documentos pessoais e do Vaticano, que acabaram publicados em um livro de Gianluigi Luzzi e que levaram à prisão do mordomo do Papa, Paolo Gabriele.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

UMA VERDADE RADICAL


O FIM DA REELEIÇÃO



Oscarino Arantes

"Os partidos políticos existem para alcançar o poder." 
(Ulysses Guimarães)

Objetivamente, a razão de ser de um partido político é chegar ao poder. Todo o sentido de sua criação, todo o propósito de sua existência, sua organização e ação política, é voltada para esse objetivo. Pela via institucional numa democracia, a chegada ao poder, aqui compreendido como o governo central, ocorre por meio de eleição. Daí a importância fundamental da alternância democrática, ou princípio da alternância do poder. Isso porque, ao contrário do senso comum, a democracia não é apenas a vontade da maioria prevalecendo sobre a minoria. É também um conjunto de princípios e valores que ajudam a construir o referencial de uma ordem democrática: estado de direito, estabilidade das regras, respeito às minorias, livre manifestação de pensamento, divisão e autonomia dos poderes, entre outros.

É nesse sentido que faz parte da essência da própria democracia a alternância do poder, que permite um equilíbrio entre as forças políticas instaladas no governo e aquelas que lhe fazem oposição, contribuindo para a renovação política. Sem ela consolidam-se práticas autocráticas, personalismo, desvios éticos, a confusão entre partido e governo, o enfraquecimento da oposição, o esvaziamento do debate ideopolítico e o desprestígio da própria democracia.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

O Mundo Amanhã - Assange entrevista Noam Chomsky e Tariq Ali

Ninguém poderia tê-las previsto. Mas ainda com o mundo sob o efeito das revoluções no Oriente Médio, Assange se reuniu com dois pensadores de peso para saber o que eles pensam sobre o futuro.

Noam Chomsky, renomado linguista e pensador rebelde, e Tariq Ali, romancista de revoluções e historiador militar, encontram na Primavera Árabe questões sobre a independência das nações, a crise da democracia, sistemas políticos eficientes (ou não) e a legião de jovens ativistas que tem se levantado para protestar no mundo todo. ”A democracia é como uma concha vazia, e é isso que está revoltando a juventude, ela sente que faça o que fizer, vote em quem votar, nada vai mudar. Daí todos esses protestos”, explica Ali. “O que temos na política ocidental não é a extrema esquerda e nem a extrema direita, mas um extremo centro”, continua ele. “E esse extremo centro engloba tanto a centro-direita quanto a centro-esquerda, que concordam em fundamentos: travando guerras no exterior, ocupando países e punindo os pobres, punindo por meio de medidas de austeridade.

Não importa qual o partido no poder, seja nos Estados Unidos ou no mundo ocidental… “. Segundo o próprio Ali, a grande crise da democracia está pulsando nas mãos das corporações. “Quando você tem dois países europeus, como a Grécia e a Itália, e os políticos abdicando e dizendo ‘deixem os banqueiros comandar’… Para onde isso está indo? O que nós estamos testemunhando é a democracia se tornando cada vez mais despida de conteúdo”, critica o ativista.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

HISTÓRIA OCULTADA: O Lincoln que Spielberg — e os EUA — esqueceram

Além de anti-escravista, presidente norte-americano lia Marx, simpatizava com socialistas utópicos e defendia direitos trabalhistas radicais 

Por Vicenç Navarro* | Tradução: Gabriela Leite

O filme Lincoln, produzido e dirigido por um dos diretores mais conhecidos dos EUA, Steven Spielberg, deu nova vida a um grande interesse pela figura de Abraham Lincoln, um dos presidentes que, como Franklin D. Roosevelt, sempre desfrutou, no imaginário estadunidense, de grande lembrança popular. Sua figura política destaca-se como a de quem garantiu a unidade dos EUA, depois de derrotar os confederados que aspiravam a secessão dos Estados do Sul. É também uma figura que ressalta na história dos EUA por ter abolido a escrevidão, e ter dado a liberdade e cidadania aos decendentes das populações imigrantes de origem africana — ou seja, a população negra, que nos EUA é conhecida como a população afroamericana.

Lincoln foi também um dos fundadores do Partido Republicano. Este, em suas origens, era o completo oposto do que é hoje, quando está fortemente influenciado por um movimento — o Tea Party — chauvinista, racista e reacionário ao extremo. O Partido Republicano fundado por Lincoln era, ao contrário, uma organização federalista, que considerava o governo federal como garantia dos Direitos Humanos. Entre eles, a emancipação dos escravos, tema central da película Lincoln, foi aquele ao qual Lincoln deu maior ênfase. Terminar com a escravidão significava que o escravo passava a ser trabalhador, dono de seu próprio trabalho.

Contudo, Lincoln, inclusive antes de ser presidente, considerou outras conquistas sociais como parte dos Direitos Humanos. Entre ela, o direito do mundo do trabalho controlar não só seu trabalho, mas também o produto dele. O direito de emancipação dos escravos transformava-os em pessoas livres assalarianas, unidas — segundo ele — em laços fraternais com os outros membros da classe trabalhadora, independentemente da cor de sua pele. Suas demandas de que o escravo deixasse de sê-lo e de que o trabalhador — tanto branco como negro — fosse o dono, não só de seu trabalho, mas também do produto de seu trabalho, eram igualmente revolucionárias. O segundo tipo de emancipação, no entanto, nem sequer é citado no filme Lincoln. Ele a ignora. E utilizo a expressão “ignora” ao invés de “oculta” porque é muito possível que os autores do filme e do livro em que ele se baseia nem sequer conheçam a história real de Lincoln.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Ideais anticapitalistas e/ou interesse estrangeiro



Gelio Fregapani

Sem a bandeira comunista para se opor ao capitalismo, aos anticapitalistas restou o ambientalismo e o indigenismo, que ao final do século XX, uniram-se formando um movimento contrário a qualquer projeto desenvolvimentista. No Brasil isto é tão forte a ponto de seguir freando por mais de três décadas o processo de desenvolvimento do país.

Foram poucos os projetos de desenvolvimento no Brasil que não esbarraram e estagnaram ante alguma resistência, seja de terra indígena, unidade de conservação, comunidade quilombola ou comunidade tradicional. Raramente, por reivindicações legitimas. Mas são grupos se opondo de forma veemente e sistemática contra qualquer iniciativa ou obra de desenvolvimento. Sempre contrários à aberturas de estradas, ferrovias, hidrovias ou usina hidrelétrica, em grande parte obras que os beneficiariam pessoalmente, fizeram o jogo do grande capital internacional, regiamente recompensados por eles.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

A história de Irena Sendler: o Anjo do Gueto de Varsóvia

Nem sempre o prêmio é atribuído a quem mais o merece...


Aos 98 anos de idade, Irena Sendlerowa faleceu em 12 de maio de 2008. Conhecida como "o anjo do Gueto de Varsóvia", sua história é uma lição de vida que merece ser perpetuada. 
Durante a 2ª Guerra Mundial, Irena conseguiu uma  autorização para trabalhar no Gueto de Varsóvia, como especialista de canalizações. Mas os seus planos iam mais além... Sabia quais eram os planos dos nazistas relativamente aos judeus (sendo cristã e alemã!).

Irena trazia crianças escondidas no fundo da sua caixa de ferramentas e levava um saco de sarapilheira na parte de trás da sua caminhoneta (para crianças de maior tamanho). Também levava na parte de trás da caminhoneta um cão a quem ensinara a ladrar aos soldados nazis quando entrava e saia do Gueto. Claro que os soldados não queriam nada com o cão e o ladrar deste encobriria qualquer ruído que os meninos pudessem fazer.

Enquanto conseguiu manter este trabalho, conseguiu retirar e salvar cerca de 2500 crianças.

Por fim os nazistas apanharam-na. Souberam dessas atividades e em 20 de Outubro de 1943 Irena Sendler foi presa pela Gestapo e levada para a infame prisão de Pawiak, onde foi brutalmente torturada. Num colchão de palha encontrou uma pequena estampa de Jesus Misericordioso com a inscrição: “Jesus, em Vós confio”, e conservou-a consigo até 1979, quando a ofereceu ao Papa João Paulo II.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Identidades Vazias artigo de Slavoj Žižek



Eleger a internet como exemplo democrático é esconder diferenças sociais, institucionais e psicológicas entre as vidas “real” e “virtual”

Slavoj Žižek


Na edição de 25 de dezembro da revista “Time”, o prêmio tradicional de “Pessoa do Ano” não foi concedido a Mahmoud Ahmadinejad [presidente do Irã], Kim Jong-Il [ditador norte-coreano], Hugo Chávez [presidente venezuelano] ou qualquer outro membro da gangue dos usuais suspeitos, mas a “você”: a todos e a cada um de nós… usuários e criadores de conteúdo na web. A capa mostra um teclado branco com um espelho para uma tela de computador onde cada um de nós, leitores, pode ver seu reflexo. Para justificar a escolha, os editores mencionaram a transição das instituições para os indivíduos, que estão ressurgindo como cidadãos da nova democracia digital.

Há coisas que os olhos não conseguem ver, nessa escolha, e em um sentido mais amplo do que o comum nessa expressão. Se algum dia já houve uma escolha ideológica, esse é um caso que merece perfeitamente a classificação: a mensagem -uma nova democracia cibernética na qual milhões podem se comunicar e organizar diretamente, contornando o controle estatal centralizado- encobre uma série de brechas e tensões perturbadoras.

A primeira e mais evidente das ironias é que cada pessoa que olhe a capa da “Time” não verá as demais pessoas com quem supostamente se relaciona diretamente, e sim um reflexo de sua própria imagem. Não admira que Leibniz [1646-1716] seja uma das referências filosóficas preferenciais dos teóricos do ciberespaço: afinal, a imersão das pessoas no ciberespaço não se enquadra perfeitamente à nossa redução a uma mônada leibniziana que, embora “sem janelas” capazes de se abrir diretamente para as realidades externas, espelha em si mesma todo o universo?

Será que o típico internauta atual, sentado sozinho diante da tela de seu computador, não representa mais e mais uma mônada sem janelas diretas para a realidade, envolvido apenas com simulacros virtuais, e no entanto mais e mais imerso na rede mundial, e se comunicando de maneira sincrônica com todo o planeta?

Uma das mais recentes modas entre os radicais do sexo são as maratonas de masturbação, eventos coletivos nos quais centenas de homens e mulheres se autopropiciam satisfação sexual para fins de caridade. A masturbação cria uma coletividade a partir de indivíduos dispostos a compartilhar uns com os outros… o quê?

O solipsismo de uma diversão estúpida. Seria possível propor que as maratonas de masturbação são a forma de sexualidade que se enquadra de maneira mais perfeita às coordenadas do ciberespaço.
Mas isso é apenas uma parte da história. O que se torna preciso acrescentar é que o “você” que se reconhece enquanto imagem em uma tela padece de uma profunda divisão: eu jamais me limito a ser a persona que assumo na máquina. Primeiro, existe o (bastante evidente) excesso do eu como pessoa corpórea “real” além da persona virtual.