segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

SONHO IMPOSSÍVEL

De Chico Buarque
Para o musical O Homem de La Mancha de Ruy Guerra/1972


Sonhar
Mais um sonho impossível

Lutar
Quando é fácil ceder

Vencer 
O inimigo invencível

Negar 
Quando a regra é vender

Sofrer 
A tortura implacável
Romper
 A incabível prisão
Voar 
Num limite improvável
Tocar 
O inacessível chão




É minha lei, é minha questão
Virar esse mundo
Cravar esse chão

Não me importa saber
Se é terrível demais 

Quantas guerras terei que vencer
Por um pouco de paz

E amanhã, se esse chão que eu beijei
For meu leito e perdão

Vou saber que valeu delirar
E morrer de paixão




E assim, seja lá como for
Vai ter fim a infinita aflição
E o mundo vai ver uma flor
Brotar 
Do impossível chão.




sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

2013, o ano do fim da unipolaridade

POR RAMEZ PHILIPPE MAALOUF

A construção ideológica

O corrente ano que se finda será lembrado pela comunidade internacional como o ano em que a (ou o mito ou a ilusão da) unipolaridade dos EUA foi extinta.

Desde sua fundação, no século XVIII, os Estados Unidos da América (EUA), constituídos como uma “república de proprietários” (proprietários brancos protestantes escravocratas), forjaram o mito do “destino manifesto” do “povo eleito por Deus” (os mesmos proprietários brancos protestantes escravocratas).

Um mito muito conveniente num momento em que combatiam a Inglaterra para preservarem a escravidão e se apropriarem dos territórios indígenas – expulsando e exterminando a população autóctone. Fanatismo religioso, racismo e opressão (aos trabalhadores pobres, índios e negros africanos escravizados) foram os elementos fundamentais do “lar dos bravos (proprietários)” e a “terra da liberdade (dos proprietários)”, criando o primeiro Estado racial da História.

Foi em nome da escravidão e, portanto, da propriedade que o sul do país se colocou em armas para combater aquele que ameaçava a liberdade de usufruir sua propriedade, isto é, de escravizar: o governo central. A revolta liberal gerou uma guerra genocida descomunal em 1863. E os EUA levaram sua “missão divina” ao resto do mundo: a liberdade da casta de proprietários brancos anglo-saxões protestantes de dominar a humanidade.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Belém: terra do pão


Por Dom Demétrio Valentini

Estamos chegando ao Natal de 2013. É o primeiro sob o papa Francisco. Ainda temos bem presente o impacto positivo, causado no final do conclave, com a dupla surpresa: a escolha de um cardeal que ninguém imaginava, junto com a escolha do nome Francisco.

Esta dupla surpresa abriu logo um amplo espaço de projeção de expectativas, que foram se confirmando. Como o Francisco de Assis, o agora “Francisco de Roma” também se defronta com o desafio de renovar a Igreja de Cristo, e de retornar à vivência dos valores evangélicos.

Foi dentro deste contexto que São Francisco teve a idéia de celebrar o Natal reproduzindo o cenário de Belém, de onde resultou o “presépio”, que acabou entrando na tradição cristã. Hoje não se celebra o Natal, sem um presépio, por simples que seja.

Pois bem, estas circunstâncias nos chamam a atenção para conferir como vai ser este Natal, com um nome que sintetiza bem dois personagens, colocados a serviço da missão de Cristo e da Igreja, o Francisco de Assis e o Francisco de Roma.

Em vista desta sintonia de duas figuras simbolizando os mesmos valores, a Diocese de Jales elaborou sua novena propondo um “Natal com Francisco”.

O “presépio” é fácil de fazer. O mais desafiador é sintonizar com os objetivos que o novo papa vem nos propondo, com surpreendente objetividade e impressionante firmeza.

Uma iniciativa, que encontra respaldo no contexto do Natal, é a campanha contra a fome no mundo, lançada pela Cáritas, e recomendada com particular insistência pelo papa Francisco.

Assumindo esta iniciativa concreta, em tempos ainda de definição do seu pontificado, resulta clara a intenção de fazer desta campanha contra a fome a inspiração para a Igreja se voltar para a sociedade, e abraçar suas causas importantes.

A fome é expressão da necessidade mais premente de toda pessoa humana. Todos temos absoluta necessidade de comer, para viver. A fome se torna símbolo das necessidades, que precisam ser atendidas para garantir um mínimo de dignidade humana.

O bispo emérito de São Félix do Araguaia, Dom Pedro Casaldáliga, referindo-se ao debate sobre valores relativos e valores absolutos, com sua verve costumeira sentenciou: “só Deus é absoluto, e a fome!”.

Concordamos com D. Pedro, se entendemos que a fome dispensa qualquer discussão ou justificativa. Ela precisa ser atendida, e não pode esperar.

Nestes dias de Natal, nos encantamos com os gestos proféticos do papa Francisco, aproximando-se dos mendigos de Roma.

Estes gestos sinalizam o compromisso do combate à fome, que precisa ser colocado de maneira absoluta, pela Igreja e pela sociedade. Até o nome da cidade onde Jesus nasceu lembra o alimento mais necessário e mais universal.

Belém significa “terra do pão”. Que o Natal nos ensine de novo o gesto da partilha do pão, como fez Jesus, saciando as multidões.

Assim o Natal será, certamente, mais feliz, para todos!

D. Demetrio Valentini é bispo da diocese de Jales-SP.

Fonte: Correio da Cidadania

domingo, 22 de dezembro de 2013

O LATIFÚNDIO MULTINACIONAL

Por Mauro Santayana

Os grandes bancos já controlam, mediante o sistema constituído dos fabricantes de agrotóxicos, como a Monsanto, intermediários, exportadores, importadores e compradores locais,  usinas de beneficiamento, bolsas de futuros, silos e armazéns, o mercado mundial de alimentos. Agora, associados aos governos dos países centrais, estão avançando sobre as terras onde ainda há áreas férteis disponíveis. Só existem dois continentes com essa possibilidade: a África e a América do Sul.                

A China, cujo espaço territorial é quase todo árido e fragmentado em centenas de milhões de áreas reduzidíssimas, exploradas for famílias numerosas, está hoje à frente dessa  conquista territorial nos dois grandes continentes. Seu rival histórico, e que sofre da mesma dificuldade geológica, o Japão, mais antigo nesse movimento, disputa as mesmas áreas. Sobre o assunto, no que se refere à China, vale a pena conhecer o estudo de Dambisa Moyo, Winner Take All (O vencedor leva tudo). No caso da  China não se trata só de empreendedores privados, mas de operação conduzida pelo Estado, como controlador direto de toda a economia do país. Muitos se preocupam com a compra, direta, de jazidas minerais pelos chineses, mas se esquecem do mais estratégico bem da natureza, que é a terra e, com ela, a comida. Ao juntar a agricultura à mineração (a China comprou uma serra inteira ao Peru, uma das maiores reservas de cobre) os chineses buscam controlar o solo rico do planeta.

Empresas multinacionais, além das organizações chinesas e japonesas, estão adquirindo as áreas disponíveis nas margens dos rios africanos, onde é fácil a irrigação. O mesmo ocorre na América do Sul, e mais no Brasil, onde segundo informações oficiosas, já foram investidos 60 bilhões de dólares na compra de terras. Os chineses usam argentinos como laranjas, para constituir firmas agropecuárias de fachada. O projeto chinês é importar tudo o que produzir para seu  próprio consumo.

Ainda agora, na discussão, entre o governo e as Farc, na Colômbia,  soube-se que lá na há titularidade regular das terras. Bastou que o governo e os guerrilheiros se dispusessem a discutir, em primeiro lugar, o problema da terra, para que o presidente Santos fosse contestado pelas oligarquias, por meio do ex-presidente Uribe.

No caso da África, os compradores se entendem diretamente com os governantes, muitos deles notórios corruptos. Os pobres não têm como resistir aos governos e são expulsos, dando lugar a trabalhadores chineses. No mundo neoliberal, esse movimento de ocupação estrangeira, impelido pelo agronegócio, é a globalização do latifúndio.  Se, no Brasil, não houver uma reação forte e estratégica, seremos,  súditos dos novos donos das terras. E chegará o dia em que só as recuperaremos com sangue.


segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

As consequências do declínio norte-americano

Quando enfraquecimento da potência hegemônica torna-se nítido, abre-se período de caos geopolítico 

Por Immanuek Wallerstein

Tenho sustentado há muito que o declínio dos Estados Unidos como potência hegemônica começou por volta de 1970; e que este processo, no início lento, precipitou-se durante a presidência de George W. Bush. Comecei a escrever sobre o tema em 1980. À época, a reação a tal argumento, em todos os campos políticos, foi rejeitá-lo como absurdo. Nos anos 1990, acreditava-se em todas as faixas do espectro político que, ao contrário, os EUA tinham alcançado o ápice de seu domínio unipolar.

No entanto, depois do estouro da bolha financeira, em 2008, a opinião de políticos, teóricos e do público em geral começou a mudar. Hoje, uma ampla percentagem das pessoas (embora não todas) aceita a realidade de ao menos algum declínio relativo do poder, prestígio e influência norte-americanos. Nos EUA, este fato é aceito com muita relutância. Políticos e teóricos rivalizam-se em apresentar fórmulas sobre como o declínio ainda pode ser revertido. Acredito que ele é irreversível.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Mandela: uma luz na escuridão


“Não há iluminação em se encolher, para que os outros não se sintam inseguros, quando estão perto de você.

Nascemos para manifestar a glória do Universo que está dentro de nós. Não está apenas em um de nós: está em todos nós.

E conforme deixamos nossa própria luz brilhar, inconscientemente, damos às outras pessoas permissão para fazer o mesmo.

E conforme nos libertamos do nosso medo, nossa presença, automaticamente, libera os outros.” 

Nelson Rolihlahla Mandela

MANDELA VIVE!

 

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Estados Unidos, França e Grã-Bretanha apoiavam o regime do apartheid e consideravam Mandela um terrorista

50 verdades sobre Nelson Mandela

Por Salim Lamrani (*)

As grandes potências ocidentais opuseram-se até ao último instante à sua luta e apoiaram sempre o governo racista de Pretória. Mas o herói da luta contra o apartheid marcou para sempre a história da África. No crepúsculo da sua existência, Nelson Mandela passou a ser louvado por aqueles que sempre o combateram ou o ignoraram – como por exemplo Cavaco Silva. Eles agora choram lágrimas de crocodilo.

1. Nascido no dia 18 de julho de 1918, Nelson Rolihlahla Mandela, apelidado de Madiba, é o símbolo por excelência da resistência à opressão e ao racismo na luta pela justiça e pela emancipação humana.

2. Procedente de uma família de treze filhos, Mandela foi o primeiro a estudar em uma escola metodista e a cursar direito na Universidade de Fort Hare, a única que aceitava, então, pessoas de cor no governo segregacionista do apartheid.

3. Em 1944, aderiu ao Congresso Nacional Africano (ANC) e, particularmente, à sua Liga da Juventude, de inclinação radical.

4. O apartheid, elaborado em 1948 depois da vitória do Partido Nacional Purificado, instaurava a doutrina da superioridade da raça branca e dividia a população sul-africana em quatro grupos distintos: os brancos (20%), os indianos (3%), os mestiços (10%) e os negros (67%). Esse sistema segregacionista discriminava 4/5 da população do país.

5. Foram criados "bantustões", reservas territoriais destinadas às pessoas de cor, para amontoar as pessoas não brancas. Assim, 80% da população tinha de viver em 13% do território nacional, muitas vezes sem recursos naturais ou industriais, na total indigência.

domingo, 1 de dezembro de 2013

Black Bloc




Por Lincoln Secco

A imagem de um coronel da PM paulista agredido chocou a imprensa. Deixemos de lado o fato estranho: numa corporação militar não é comum que justamente o oficial de máxima patente fosse deixado sozinho em meio a manifestantes que não costumam ser bem tratados por seus soldados.

A presidente da República, movida pelas pesquisas de opinião, logo se declarou contra os “vândalos”. A Folha de S. Paulo já tinha uma pesquisa pronta para revelar que 95% dos paulistanos são contra os Black blocs. Mas o mesmo jornal não explica como a esmagadora maioria da população pode se posicionar sobre aquilo que ninguém sabe o que é! Afinal, a grande imprensa costuma mostrar o “vandalismo” como um ato irracional. Por que, afinal, alguém ataca caixas de banco?

Um articulista da Folha de S. Paulo sugeriu covardemente o uso do exército contra manifestantes! Já o governador paulista, sempre movido pelo feixe para onde convergem suas ideias, pede que as leis sejam mais duras para agressores de policiais. Ele sequer tem o pejo de violar o artigo 5 da Constituição. Não somos todos iguais perante a lei? Sobre a desmilitarização da polícia nenhuma palavra, afinal, é uma obra da ditadura tão intocável quanto os torturadores ainda soltos por aí.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Comissão palestina aponta Israel como "principal e único suspeito" da morte de Yasser Arafat


Forma como líder palestino teria sido envenenado com polônio ainda não foi descoberta 

Israel é o "principal e único suspeito do assassinato" do líder palestino Yasser Arafat, afirmou nesta sexta-feira (08/11) o presidente da comissão de investigação palestina, Tawfiq Tirawi, em entrevista coletiva realizada em Ramallah, na Cisjordânia.

"Os relatórios de Rússia e Suíça confirmam as conclusões da investigação em curso (...) Arafat não morreu de causas naturais nem por doença, o polônio foi o causador", disse o dirigente.

Corpo de Arafat tinha nível de polônio 18 vezes maior que o normal

Estes relatórios foram realizados a partir de amostras biológicas recolhidas no dia 27 de novembro de 2012 dos restos mortais de Arafat. Segundo o chefe da equipe médica da comissão de investigação, Abdullah al Bashir, a causa da morte foi envenenamento.

Os testes forenses realizados no corpo exumado da vítima indicaram que o nível de polônio, substância rara e letal em seus ossos e pélvis era ao menos 18 vezes maior que o normal.

Além de acusar Israel, a comissão oficial palestina que investiga as causas da morte do histórico líder palestino se queixou também do procedimento seguido após o falecimento do dirigente em Paris.

O funcionário, também membro do Comitê Executivo do movimento Fatah, afirmou, no entanto, a forma como o envenenamento ocorreu ainda é objeto de investigação. "A instrumentalização resta um grande mistério", afirmou.

Suha Arafat, a viúva, afirmou à rede de TV Al Jazeera, na ocasião da divulgação do relatório, que as evidências sugerem que seu marido, que morreu em 2004, depois de quatro semanas de uma doença que se iniciou após um jantar, foi quase com certeza assassinado por envenenamento. “É o crime do século”, afirmou.

Na quinta-feira, ex-assessores ligados a Ariel Sharon, então primeiro-ministro israelense na ocasião da morte de Arafat, afirmaram que Israel não tinha interesse na morte do dirigente palestino.

Fonte: Opera Mundi

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

OS MERCADORES DE ILUSÃO


Lula e Eike Batista nasceram um para o outro: os dois são vendedores de nuvens 

Por Augusto Nunes


Nenhuma farsa dura para sempre, avisou em 23 de abril o post abaixo reproduzido, inspirado nas semelhanças que transformaram Eike Batista e Lula numa dupla muito afinada. Nesta quarta-feira, o império imaginário de Eike sucumbiu ao peso de uma dívida sem garantias que soma U$ 5,1 bilhões. “Pedido de recuperação judicial”, como o formulado pela petroleira OGX, é o nome do velho e inconfundível calote quando praticado por gente fina.

A tapeação chegou ao fim. O candidato a empresário mais rico do mundo faliu. O ex-presidente continua empinando seus malabares. Mas está condenado a descobrir, não importa quando, que acabou a freguesia dos camelôs de palanque. Lula é Eike amanhã, previne o texto que se segue:

Lula é o Eike Batista da política. Eike é o Lula do empresariado. Um inventou o Brasil Maravilha. Só existe na papelada que registrou em cartório. Outro ergueu o Império do X. No caso, X é igual a nada.

O pernambucano falastrão que inaugurava uma proeza por dia se elogia de meia em meia hora por ter feito o que não fez. O mineiro gabola que ganhava uma tonelada de dólares por minuto se louvou o tempo todo pelo que disse que faria e não fez.

O presidente incomparável prometeu para 2010 a transposição das águas do São Francisco. O rio segue dormindo no mesmo leito. O empreendedor sem similares adora gerúndios e só conjuga verbos no futuro. Estava fazendo um buquê de portos. Iria fazer coisas de que até Deus duvida. Não concluiu nem a reforma do Hotel Glória.

Lula se apresenta como o maior dos governantes desde Tomé de Souza sem ter concluído uma única obra visível. Eike entrou e saiu do ranking dos bilionários da revista Forbes sem que alguém conseguisse enxergar a cor do dinheiro.

Lula berrou em 2007 que a Petrobras tornara autossuficiente em petróleo o país que, graças às jazidas do pré-sal, logo estaria dando as cartas na OPEP. A estatal agora coleciona prejuízos e o Brasil importa combustível. Eike vivia enchendo milhões de barris com o mundaréu de jazidas que continuam enterradas no fundo do Atlântico.

Político de nascença, Lula agora enriquece como camelô de empresas privadas. Filho de um empresário admirável, Eike adiou à falência graças a empréstimos fabulosos do BNDES (com juros de mãe e prestações a perder de vista), parcerias com estatais (sempre prontas para financiar aliados do PT com o dinheiro dos pagadores de impostos) e adjutórios obscenos do governo federal.

Lula só poderia chegar ao coração do poder num lugar onde tanta gente confia nos eikes batistas. Eike só poderia ter posado de gênio dos negócios num país que acredita em lulas.

É natural que tenham viajado tantas vezes no mesmo jatinho. É natural que se tenham entendido tão bem. Nasceram um para o outro. Os dois são vendedores de nuvens. 



domingo, 24 de novembro de 2013

Inesquecível: Nessun dorma de Puccini na voz dos Três Tenores





Primeira apresentação dos "Três Tenores", Plácido Domingos, José Carreras e Luciano Pavarotti, sob a regência de Zubin Metha, realizada em 1990 nas ruínas romanas de Caracala.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Por que Kennedy ainda desponta como mito nos EUA, 50 anos depois de sua morte?


Por Dodô Calixto

A queda de um mito. Esta é uma frase clássica nos EUA para explicar como a morte de John Fitzgerald Kennedy afetou o país em 22 de novembro de 1963. “Qualquer que fosse o desastre natural”, disse o cronista Gay Talese, teria tido um efeito menos catastrófico que o assassinato do presidente. A razão? O jovem democrata, morto aos 46 anos foi responsável pelas ideias mais notórias acerca de questões sociais, econômicas e políticas no século XX na América do Norte, de acordo com historiadores e especialistas. Todavia, 50 anos depois, ainda restam controvérsias sobre o seu legado.

A discussão é que, em vez de políticas públicas, o carisma e a energia com que Kennedy apresentava suas opiniões, somados às conspirações e aos contornos dramáticos de sua morte, teriam transformado o democrata em mito – que persiste, mesmo há 50 anos do fatídico disparo em Dallas, Texas. Diversos críticos de sua gestão afirmam que o estadunidense era muito mais um personagem, inspirado em heróis do cinema, do que um governante, capaz de desenvolver soluções para a problemática da sociedade.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Um espectro ronda o Brasil: o da terceirização total


Por Ricardo Antunes

Um espectro ronda o Brasil: o da terceirização total, não só das atividades-meio, como já existe, mas também das atividades-fim, como propõe o projeto de lei nº 4.330, do deputado Sandro Mabel (PMDB-GO).

Sua justificativa é singela: "A empresa moderna tem de concentrar-se em seu negócio principal e na melhoria da qualidade do produto ou da prestação de serviço". Mas a propositura é eivada de falácias, como vamos indicar neste espaço.

Primeira falácia: a terceirização cria empregos. Como hoje temos aproximadamente 12 milhões de terceirizados no Brasil, ela cumpriria papel de relevo na ampliação do mercado de trabalho.

Mas esse argumento omite que os terceirizados têm jornada de trabalho em média bem maior do que o conjunto dos assalariados contratados sem tempo determinado.

Assim, o que ocorre é que onde três trabalham com direitos e por tempo não determinado, aproximadamente dois terceirizados acabam por realizar o mesmo trabalho, padecendo de maior intensificação e jornadas mais longevas. Desse modo, em vez de efetivamente empregar, a terceirização desemprega.

Segunda falácia: os terceirizados percebem salários, assim devem agradecer pelo emprego que obtêm.

Mas esse argumento "esquece" que os salários dos terceirizados são bem menores do que os dos demais trabalhadores, especialmente os que estão na base da indústria e dos serviços.

O que as pesquisam mostram, quando realizadas com rigor científico, é que os terceirizados trabalham mais e recebem menos.

Terceira falácia: os terceirizados têm direitos. Esse argumento omite que é exatamente neste âmbito das relações de trabalho que a burla e a fraude se expandem como praga. E quanto mais na base da pirâmide estão os assalariados terceirizados, maiores são as subtrações.

Bastaria dizer que, na Justiça do Trabalho, há incontáveis casos de terceirizados que não conseguem nem sequer localizar a empresa contratante, que não poucas vezes desaparece sem deixar rastro.

Muitos terceirizados estão há anos sem usufruir as férias, pois a contingência e a incerteza avassalam o seu cotidiano.

E, vale lembrar, só uma minoria consegue ir à Justiça do Trabalho, pois o terceirizado não tem nem tempo nem recurso e quase sempre carece do apoio de sindicatos para fazê-lo. E sabemos que, nos serviços, setor no qual se expande celeremente a terceirização, viceja também a ampla informalidade e a alta rotatividade.

Quarta falácia: terceirizar é bom, pois "especializa" e "qualifica" a empresa. Mas seria bom explicar por que essas atividades terceirizadas são as que frequentam com mais constância as listas de acidentes de trabalho. E mais: no serviço público, elas não raro aumentam os custos, sendo fonte inimaginável de corrupção.

Bastaria lembrar as empresas terceirizadas que fazem a coleta do lixo urbano. E a brutalidade sem limites que é ver um trabalhador correr como louco atrás dos caminhões para manter as "metas" e a "produtividade" na coleta privada dos lixos nas cidades.

O essencial que o PL 4.330 tenta esconder, em meio a tantas falácias, é que a terceirização, especialmente para os "de baixo" que não dispõem do capital cultural que sobra aos estratos superiores, têm dois objetivos basais. Primeiro, reduzir salários, diminuindo direitos. Segundo, e não menos importante: fragmentar e desorganizar ainda mais a classe trabalhadora, agora convertida em classe "colaboradora".

Se aprovado esse PL 4.330, ele terá um efeito erosivo ainda maior na nossa já gigantesca falésia social.

Ricardo Antunes é professor titular de sociologia do trabalho na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenador da coleção Mundo do Trabalho.

Fonte: Rede Liberdade


CLIQUE E ASSINE O ABAIXO-ASSINADO ON-LINE CONTRA O PROJETO DE LEI Nº 4.330. DIGA NÃO À TERCEIRIZAÇÃO SEM LIMITES NO BRASIL.

DIGA NÃO AO PL 4330

A VOLTA DE JANGO




Por Mauro Santayana

A recepção do corpo do Presidente João Goulart, em Brasília, esta semana, com honras de chefe de Estado, é um importante passo para a consolidação e o fortalecimento da democracia em nosso país.

Ao contrário do que muitos pensam, Jango nunca foi comunista. Fiel seguidor do Presidente Getúlio Vargas, ele era, pelo contrário, filho de uma rica família de fazendeiros gaúchos, que aprendeu, com Getúlio a se preocupar com as condições de vida dos mais pobres.

Foi levado, pela história, a assumir o Brasil em um momento difícil – criado pela irresponsável renúncia do Presidente Jânio Quadros. Ele sabia que o país não iria progredir se não fizesse várias reformas que ainda hoje estão pendentes, como a própria reforma agrária.

Foram os mesmos golpistas que mataram Getúlio – levando-o a suicidar-se, com um tiro no coração, em 24 de agosto de 1954, no Palácio do Catete - que derrubaram Jango dez anos depois, com o Golpe Militar de 1964.

Antes, já haviam tentado impedir a eleição e o extraordinário governo de Juscelino Kubitscheck de Oliveira.   Carlos Lacerda dizia aos militares golpistas – é preciso ressalvar que muitos militares defendiam a democracia e pagaram caro por isso mais tarde – que JK não podia se eleger. Se eleito, não podia tomar posse. E se tomasse posse tinha que ser derrubado.

Se isso tivesse acontecido, não existiriam  hoje Brasília, nem as grandes rodovias, nem grandes hidroelétricas, nem a indústria automobilística, conquistas alcançadas por JK em um governo totalmente democrático, que resistiu a várias tentativas de golpe, como a “Crise de Novembro” ,  Jacareacanga e Aragarças.

Pressionado pela necessidade imperiosa de mudar o país, mas também pela constante sabotagem dos golpistas - esses dirigidos e apoiados por uma potência estrangeira, os EUA – que não aceitavam um projeto independente e soberano de desenvolvimento para o Brasil - Jango finalmente foi derrubado.

Uma frota norte-americana já se aproximava das costas brasileiras, para, se necessário, desembarcar tropas para ajudar os golpistas, caso houvesse resistência, organizada, de início, por corajosos chefes militares que depois tiveram de render-se.

Antes disso, em sua Carta Testamento – na qual denunciava as forças e interesses nacionais e internacionais que se organizavam contra o Brasil – Getúlio Vargas afirmou, dirigindo-se ao povo brasileiro:

“Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História.”

Esta semana, em Brasília, Jango entrou mais uma vez para a história, agora com a pompa, as circunstâncias e as honras que lhe cabem como ex-Presidente da República e um dos principais líderes de nosso país no século XX.

São Borja que nos desculpe, mas seu corpo – assim como de outros presidentes que lutaram pela liberdade e o estado de direito - deveria ficar na Capital da República, no Panteão da Liberdade e da Democracia.

Fonte: http://www.maurosantayana.com