segunda-feira, 30 de junho de 2014

Edward Snowden, o criminoso mais procurado do mundo



Por Noam Chomsky

A fonte da instrução, como é óbvio, é o conjunto de documentos relativos ao sistema de vigilância da Agência Nacional de Segurança (NSA, pelas siglas em inglês), dado a conhecer pelo valoroso lutador pela liberdade Edward J. Snowden, habilmente resumido e analisado pelo seu colaborador Glenn Greenwald no seu novo livro No placetohide (Sem lugar para se esconder).

Os documentos revelam um projeto notável destinado a expor ao escrutínio estatal informação vital a respeito de todas as pessoas que caiam nas garras do colosso - as pessoas integradas na moderna sociedade eletrônica.

Nada tão ambicioso foi imaginado pelos profetas distópicos que descreveram sombrios mundos totalitários.

Não é de pouca importância que o projeto esteja a ser executado num dos países mais livres do planeta, e em radical violação da Carta de Direitos da Constituição dos Estados Unidos, que protege os cidadãos de "perseguições e capturas sem justificação" e garante a privacidade das suas "pessoas, domicílios, documentos e pertences".

domingo, 29 de junho de 2014

Se torcedor vaia até minuto de silêncio, por que não vaiaria Dilma?

Apupos com que a torcida premiou a presidente não é questão de segurança nacional, como governistas tentam vender à opinião pública


Por Cezar Santos

O eco foi atordoante: “ei, Dilma, vai tomar no c…” Já se passaram dez dias da estrondosa vaia à presidente Dilma Rousseff, na abertura da Copa do Mundo, no Itaquerão. O PT, no entanto, tratou de manter o assunto em voga, por considerar que poderia fazer desse limão uma boa limonada, ou seja, ganhar dividendos eleitorais.

Como o tema continua palpitante, teçamos algumas questões sobre ele. Jornalistas a serviço do governismo e militantes petistas levantam argumentos contra a falta de respeito dos manifestantes contra uma mulher, mãe de família, avó, e, por fim, a mandatária do País. Verdade, palavrão é no mínimo falta de educação. Mas, desde quando não foi assim nos estádios de futebol no Brasil? Desde quando a turba do chutebola, seja na várzea seja em arenas superfaturadas, endereça termos finos e respeitosos a autoridades, torcida e jogadores adversários e ao juiz — esse senhor cuja mãe, para os torcedores, é assídua frequentadora da mais baixa zona do meretrício?

Aqui, é fatal, não se pode deixar de lembrar o genial Nelson Ro­dri­gues (1912-1980), que cunhou a má­xi­ma de que “no Maracanã, vaia-se até minuto de silêncio”. O registro foi feito num artigo em “O Globo”, em 1970. Eis o trecho:

“… No Estádio Mário Filho, ex-Maracanã, vaia-se até minuto de silêncio, e, como dizia o outro, vaia-se até mulher nua.”

Pois é. Maracanã aí é uma metonímia, significa estádio de futebol. Todos e qualquer um. O torcedor é a irreverência em pessoa. Um bando. E gente, quando se junta em bando, perde compostura, senso de ridículo, e até mesmo a mais comezinha noção de civilidade.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Mídia: até The Economist fustiga domínio da Globo

Revista britânica aponta absurda concentração de audiência no Brasil e insinua: Dilma poderia adotar uma “Lei de Meios” semelhante à da Argentina


Por Inês Castilho

Uma amiga poeta do Rio de Janeiro expressou há alguns dias, em visita a São Paulo, quão espantoso é para ela, há anos sem tevê, ver todo mundo: o pobre, o rico e o remediado, analfabeto ou letrado, sentar-se diariamente diante do televisor para assistir ao jornal e/ou novela (e esticar o assunto em conversa com amigos). Não menos que 91 milhões de almas, 45% dos brasileiros, sintoniza na Globo todo dia, todo santo dia. Assustador, observou.

Até The Economist sabe, como mostra em reportagem (edição de 07.06), mas nós fingimos não perceber o poder que o Brasil confere às Organizações Globo. E olhe que a revista inglesa, conservadora, nem entrou nos detalhes sórdidos da sonegação fiscal do Grupo, nem na parte do leão de publicidade oficial que recebe do governo. Falou, isso sim, que muita gente no país começa a inquietar-se com tanto poder concentrado nas mãos de tão poucos. (A consciência vem em ondas, parece.)

“É o tipo de audiência que, nos Estados Unidos, pode ser alcançada apenas uma vez por ano, e somente pela rede que venceu a competição pelos direitos de transmissão do campeonato de futebol americano Super Bowl”, diz a revista em “Globo Domination”. Sua principal concorrente, a Record, não tem mais que 13% da audiência. Já a principal rede dos Estados Unidos, a CBS, alcança não mais que 12% nos picos, e as concorrentes, uma média de 8%. Isso parece mais democracia.

terça-feira, 24 de junho de 2014

Geopolítica da Copa do Mundo

Brasil organiza torneio no momento exato em que mídia ocidental, ressentida, tenta demonizar BRICS. Mas países do Sul serão capazes de propor ordem global alternativa?


Por Pepe Escobar | Tradução: Vila Vudu

Numa das imagens que, até aqui, definem a Copa do Mundo, vê-se a Mannschaft alemã – a seleção alemã de futebol – confraternizando com índios pataxó, a poucas centenas de metros de distância de onde o Brasil foi “descoberto”, em 1500. Praticamente, um redescobrimento dos trópicos exóticos.

E há também a seleção inglesa, deitando e rolando à beira-mar, numa base militar, com o Pão de Açúcar como deslumbrante pano de fundo, sob uma parafernália de equipamentos e respectivo especialista científico em umidade e ventiladores industriais (afinal, haverá o “Duelo na Selva” contra a Itália, no próximo sábado, “nas profundezas da Floresta Tropical Amazônica”, como dizem tabloides britânicos.)

A Copa do Mundo – o maior espetáculo da Terra – começa no momento em que uma incansável campanha de propaganda de demonização contra-China e contra-Rússia, inventada no Ocidente (estados-clientes incluídos), fez subir ao topo os níveis de histeria universal.

Significa que os BRICS estão no centro do alvo; no caso do Brasil, é a potência emergente localizada estrategicamente sobre a parte mais rica da floresta tropical amazônica, em tempos em que uma integração progressista da América Latina ousou reduzir a papel higiênico a Doutrina Monroe.

Nos anos recentes, o Brasil tirou pelo menos 30 milhões de pessoas, da miséria. A China investe em atenção pública à saúde e à educação. A Rússia recusa-se a se deixar abusar, como nos anos de Ieltsin, o bêbado. Nos anos recentes, a Copa do Mundo tem sido assunto, sempre, de países BRICS: África do Sul em 2010, Brasil agora, e Rússia em 2018. Qatar em 2022 – como acontece sempre – parece mais um programa de chantagem movido a petrodólares do Golfo, que saiu pela culatra.

É interessante verificar como a City de Londres – que ama o dinheiro russo, anseia por investimentos chineses e tem uma quedinha pelo poder soft do Brasil – está analisando o quadro.[1] Com um toque de humor britânico, poderiam facilmente interpretar o Duelo na Selva, como a OTAN combatendo na muito ambicionada floresta tropical (pensem nas guerras da água que virão em futuro próximo).

domingo, 22 de junho de 2014

Assange preso há dois anos: eis o capitalismo real


Jornalista que primeiro denunciou espionagem sistemática na internet segue confinado em Londres. É possível chamar isso de democracia?

Por Slavoj Žižek*, com tradução do DCM

Nós nos lembramos dos aniversários de eventos importantes de nossa época: 11 de setembro (não apenas o ataque às Torres Gêmeas em 2001, mas o golpe contra Salvador Allende, no Chile, em 1973), o Dia D etc. Talvez outra data deva ser adicionada a esta lista: 19 de junho.

A maioria de nós gostaria de dar um passeio durante o dia para tomar uma lufada de ar fresco. Deve haver uma boa razão para aqueles que não podem fazê-lo – talvez eles tenham um trabalho que os impede (mineiros, mergulhadores), ou uma estranha doença que faz com que a exposição à luz solar seja um perigo mortal. Mesmo prisioneiros têm a sua hora diária de caminhada ao ar fresco.

Faz dois anos desde que Julian Assange foi privado deste direito: ele está confinado permanentemente ao apartamento que abriga a embaixada equatoriana em Londres. Se sair, seria preso imediatamente. O que Assange fez para merecer isso? De certa forma, pode-se entender as autoridades: Assange e seus colegas whistleblowers são frequentemente acusados de serem traidores, mas são algo muito pior (aos olhos das autoridades).

terça-feira, 17 de junho de 2014

ISSO É BRASIL!



"Pensadores tentaram avisar, mas você fingiu que não viu, aqui a bunda vale mais que a mente, infelizmente isso é nosso Brasil."

Isso é Brasil!
Mc Garden

sexta-feira, 13 de junho de 2014

A silenciosa sovietização dos Estados Unidos

Há sessenta anos, censura a “Doutor Jivago” resultou em desastre midiático. Hoje, russos são mais livres, na vida privada, que norte-americanos

Por Paul Craig Roberts | Tradução Cauê Seignemartin Ameni

A propaganda americana no período da Guerra Fria teve pouco, ou nada, a ver com o colapso da União Soviética. No entanto, ao dramatizar as mentiras soviéticas o mundo ficou cego com as de Washington.

Quando as autoridades soviéticas recusaram-se a publicar Doutor Jivago, obra do destacado escritor soviético Boris Pasternak, a CIA transformou o gesto num golpe midiático. Um jornalista italiano e membro do Partido Comunista soube do manuscrito censurado e se ofereceu para levá-lo a um editor de Milão, próximo dos comunistas: Giangiacomo Feltrinelli, que publicou o livro em italiano em 1957, apesar das objeções soviéticas. Feltrinelli acreditava que o Doutor Jivago era uma obra-prima e que o governo da União Soviética era tolo, ao não capitalizar em seu favor a obra de um grande escritor. Em vez disso, o Kremlin, dogmático e inflexível, caiu na arapuca da CIA.

Os soviéticos fizeram tanta sujeira com o livro, que a controvérsia elevou o perfil da obra. De acordo com documentos recentemente revelados pela CIA, o órgão de espionagem norte-americano vislumbrou uma oportunidade para os cidadãos soviéticos se perguntarem por que o romance de um proeminente escritor russo só estava disponível no exterior.

A CIA organizou uma edição na língua russa, publicada e distribuída aos cidadãos soviéticos na Feira Mundial de Bruxelas, em 1958. O golpe midiático foi consumado quando Pasternak recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em outubro de 1958.

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Pobreza da aritmética

Houve uma perda de poder aquisitivo

Por Cristovam Buarque

O Brasil passou a acreditar que 22 milhões de brasileiros teriam saído da pobreza extrema. Este discurso se baseava na ideia de que estas famílias passaram a receber complemento de renda suficiente para ultrapassar a linha de R$ 70 por pessoa por mês. Esta visão aritmética não resiste a uma análise social que efetivamente cuide da pobreza.

Nada indica que uma família sem adequada provisão de escola, saúde, cultura, segurança, moradia, água e esgoto saia da pobreza apenas porque pode comprar aproximadamente oito pães por pessoa a cada dia. A linha da pobreza não deve ser horizontal, separando quem tem mais de R$ 2,33 por dia e quem não tem, mas uma linha vertical, separando quem tem e quem não tem acesso aos bens e serviços essenciais.

É como se, na época da escravidão, o povo fosse convencido de que o país era menos escravocrata apenas porque o proprietário gastava mais dinheiro na alimentação de seus escravos. A separação entre o escravo e o trabalhador livre não era uma linha horizontal definida aritmeticamente pela quantidade de comida que recebia, mas uma linha vertical separando quem tinha e quem não tinha liberdade. Hoje, a linha da pobreza efetiva deve ser determinada por quem tem e por quem não tem acesso aos bens e serviços essenciais. E neste sentido, o Brasil não está avançando na educação, na saúde, no transporte e na segurança.

domingo, 8 de junho de 2014

O pavor dos abastados: a desigualdade e a taxação das riquezas

Por Leonardo Boff

Está causando furor entre os leitores de assuntos econômicos, economistas e principalmente pânico entre os muito ricos um livro de 700 páginas escrito em 2013 e publicado em muitos países em 2014. Transformou-se num verdadeiro best-seller. Trata-se de uma obra de investigação, cobrindo 250 anos, de um dos mais jovens (43 anos) e brilhantes economistas franceses, Thomas Piketty. O livro se intitula O capital no século XXI (Seul, Paris 2013). Aborda fundamentalmente a relação de desigualdade social produzida por heranças, rendas e principalmente pelo processo de acumulação capitalista, tendo como material de análise particularmente a Europa e os EUA.

A tese de base que sustenta é: a desigualdade não é acidental, mas o traço característico do capitalismo. Se a desigualdade persistir e aumentar, a ordem democrática estará fortemente ameaçada. Desde 1960, o comparecimento dos eleitores nos EUA diminuiu de 64% (1960) para pouco mais de 50% (1996), embora tenha aumentado ultimamente. Tal fato deixa perceber que é uma democracia mais formal que real.

Esta tese sempre sustentada pelos melhores analistas sociais e repetida muitas vezes pelo autor destas linhas, se confirma: democracia e capitalismo não convivem. E se ela se instaura dentro da ordem capitalista, assume formas distorcidas e até traços de farsa. Onde ela entra, estabelece imediatamente relações de desigualdade que, no dialeto da ética, significa relações de exploração e de injustiça. A democracia tem por pressuposto básico a igualdade de direitos dos cidadãos e o combate aos privilégios. Quando a desigualdade é ferida, abre-se espaço para o conflito de classes, a criação de elites privilegiadas, a subordinação de grupos, a corrupção, fenômenos visíveis em nossas democracias de baixíssima intensidade.

sábado, 7 de junho de 2014

Documentário "Ucrânia 14" - para entender a crise política que pode virar uma guerra






O site Opera Mundi e a Expresso 4 Filmes apresentam o documentário "Ucrânia 14". Dividido em duas partes, "Ucrânia 14" apresenta uma revisão dos fatos ocorridos no país desde o início da crise política, em novembro de 2013, quando a polícia reprimiu estudantes que protestavam contra a decisão do então presidente Viktor Yanukovich de suspender as negociações por um acordo com a União Europeia.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Paul Krugman: O pânico a Piketty e a direita sem ideias

Em resposta ao “Capital no Século XXI”, não há argumentos, só silêncio e preconceitos. Partidários da desigualdade foram pegos no contrapé


Por Paul Krugman

O novo livro do economista francês Thomas Piketty, “O capital no século XXI”, é um prodígio de honestidade. Outros livros de economia foram um sucesso nas vendas, mas diferentemente da maioria deles, a contribuição de Piketty tem uma séria erudição, capaz de mudar a retórica. E os conservadores estão aterrorizados.

Por isso, James Pethokoukis, do American Interprise Institute, adverte na revista “National Review” que o trabalho de Piketty precisa ser refutado porque, do contrário, “se propagará entre a clerezia e dará nova forma ao cenário da economia política em que  serão travadas todas as futuras batalhas sobre política”.

Pois bem, lhes desejo boa sorte nesta empreitada. Por enquanto, o que de fato surpreende no debate é a direita parecer incapaz de organizar qualquer tipo de contra-ataque significativo à tese de Piketty. Em vez disso, sua reação consistiu exclusivamente em desqualificá-lo. Concretamente, em alegar que Piketty é um marxista e, portanto, alguém que considera a desigualdade de renda e de riqueza uma questão importante. Em breve voltarei à questão da desqualificação. Antes, vejamos por que o livro está tendo tanta repercussão. 

terça-feira, 3 de junho de 2014

Aos 25 anos do Massacre da Praça da Paz Celestial (Tian'anmen) na China

"Nenhuma ideia vale uma vida."


No dia 04 de Junho de 1989 tropas do exército chinês deram início à violenta repressão aos estudantes que protestavam por reformas no governo e ocupavam desde 15 de abril daquele ano a Praça da Paz Celestial (Tian'anmen) em Pequim.




domingo, 1 de junho de 2014

Joshua Bell toca Rachmaninoff - Vocalise, Opus 34 nº 14



Joshua Bell executa Vocalise de Rachmaninoff regido pelo maestro Michael Stern da Orchestra of St. Luke's.

Uma guerra mundial se aproxima

Com os postos avançados da OTAN localizados no Leste Europeu e nos Bálcãs, o último amortecedor que faz fronteira com a Rússia está sendo dividido.


Por John Pilger - CounterPunch

Porque toleramos a ameaça de uma nova Guerra Mundial? Porque permitimos mentiras que justificam esse risco? A escala da nossa doutrinação, escreveu Harold Pinter, é um “brilhante, até espirituoso e altamente bem sucedido ato de hipnose,” como se a verdade “nunca tivesse acontecido mesmo quando está acontecendo.”

Todo ano o historiador americano William Blum publica seu “sumário atualizado do relatório da polícia externa dos EUA” o qual mostra que, desde 1945, os EUA tentaram derrubar mais de 50 governos, muitos democraticamente eleitos; interferiu grossamente nas eleições de 30 países; bombardeou a civilização de 30 países; usou armas químicas e biológicas; e tentou assassinar líderes internacionais.

Em vários casos a Inglaterra colaborou. O nível do sofrimento humano, não só criminalmente falando, não é muito conhecido no Oeste, mesmo com a presença da comunicação mais avançada do mundo e do jornalismo mais ‘livre.’ Que as maiores vítimas do terrorismo – nosso terrorismo – são muçulmanos, é um fato.