quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

A ERA DOS DIREITOS: o perigo de uma geração sem limites que acha que tem todos os direitos e nenhum dever

J’ACUSE !!!

[Eu acuso!]

Tributo ao professor Kássio Vinícius Castro Gomes

"Mon devoir est de parler, je ne veux pas être complice."
[Meu dever é falar, não quero ser cúmplice.]   (Émile Zola)


Foi uma tragédia fartamente anunciada. Em milhares de casos, desrespeito. Em outros tantos, escárnio. Em Belo Horizonte, um estudante processa a escola e o professor que lhe deu notas baixas, alegando que teve danos morais ao ter que virar noites estudando para a prova subsequente. (Notem bem: o alegado “dano moral” do estudante foi ter que... estudar!). A coisa não fica apenas por aí. Pelo Brasil afora, ameaças constantes. Ainda neste ano, uma professora brutalmente espancada por um aluno. O ápice desta escalada macabra não poderia ser outro. O professor Kássio Vinícius Castro Gomes pagou com sua vida, com seu futuro, com o futuro de sua esposa e filhas, com as lágrimas eternas de sua mãe, pela irresponsabilidade que há muito vem tomando conta dos ambientes escolares. Há uma lógica perversa por trás dessa asquerosa escalada. A promoção do desrespeito aos valores, ao bom senso, às regras de bem viver e à autoridade foi elevada a método de ensino e imperativo de convivência supostamente democrática. No início, foi o maio de 68, em Paris: gritava-se nas ruas que “era proibido proibir”. Depois, a geração do “não bate, que traumatiza”. A coisa continuou: “Não reprove, que atrapalha”. Não dê provas difíceis, pois “temos que respeitar o perfil dos nossos alunos”. Aliás, “prova não prova nada”. Deixe o aluno “construir seu conhecimento.” Não vamos avaliar o aluno. Pensando bem, “é o aluno que vai avaliar o professor”. Afinal de contas, ele está pagando... E como a estupidez humana não tem limite, a avacalhação geral epidêmica, travestida de “novo paradigma” (Irc!), prosseguiu a todo vapor, em vários setores: “o bandido é vítima da sociedade”, “temos que mudar ‘tudo isso que está aí’; “mais importante que ter conhecimento é ser ‘crítico’.” Claro que a intelectualidade rasa de pedagogos de panfleto e burocratas carreiristas ganhou um imenso impulso com a mercantilização desabrida do ensino: agora, o discurso anti-disciplina é anabolizado pela lógica doentia e desonesta da paparicação ao aluno–cliente... Estamos criando gerações em que uma parcela considerável de nossos cidadãos é composta de adultos mimados, despreparados para os problemas, decepções e desafios da vida, incapazes de lidar com conflitos e, pior, dotados de uma delirante certeza de que “o mundo lhes deve algo”. Um desses jovens, revoltado com suas notas baixas, cravou uma faca com dezoito centímetros de lâmina, bem no coração de um professor. Tirou-lhe tudo o que tinha e tudo o que poderia vir a ter, sentir, amar.

Ao assassino, corretamente , deverão ser concedidos todos os direitos que a lei prevê: o direito ao tratamento humano, o direito à ampla defesa, o direito de não ser condenado em pena maior do que a prevista em lei. Tudo isso, e muito mais, fará parte do devido processo legal, que se iniciará com a denúncia, a ser apresentada pelo Ministério Público. A acusação penal ao autor do homicídio covarde virá do promotor de justiça. Mas, com a licença devida ao célebre texto de Emile Zola, EU ACUSO tantos outros que estão por trás do cabo da faca:

EU ACUSO a pedagogia ideologizada, que pretende relativizar tudo e todos, equiparando certo ao errado e vice-versa;

EU ACUSO os pseudo-intelectuais de panfleto, que romantizam a “revolta dos oprimidos” e justificam a violência por parte daqueles que se sentem vítimas;

EU ACUSO os burocratas da educação e suas cartilhas do politicamente correto, que impedem a escola de constar faltas graves no histórico escolar, mesmo de alunos criminosos, deixando-os livres para tumultuar e cometer crimes em outras escolas;

EU ACUSO a hipocrisia de exigir professores com mestrado e doutorado, muitos dos quais, no dia a dia, serão pressionados a dar provas bem tranqüilas, provas de mentirinha, para “adequar a avaliação ao perfil dos alunos”;

EU ACUSO os últimos tantos Ministros da Educação, que em nome de estatísticas hipócritas e interesses privados, permitiram a proliferação de cursos superiores completamente sem condições, freqüentados por alunos igualmente sem condições de ali estar;

EU ACUSO a mercantilização cretina do ensino, a venda de diplomas e títulos sem o mínimo de interesse e de responsabilidade com o conteúdo e formação dos alunos, bem como de suas futuras missões na sociedade;

EU ACUSO a lógica doentia e hipócrita do aluno-cliente, cada vez menos exigido e cada vez mais paparicado e enganado, o qual finge que não sabe que, para a escola que lhe paparica, seu boleto hoje vale muito mais do que seu sucesso e sua felicidade amanhã;

EU ACUSO a hipocrisia das escolas que jamais reprovam seus alunos, as quais formam analfabetos funcionais só para maquiar estatísticas do IDH e dizer ao mundo que o número de alunos com segundo grau completo cresceu “tantos por cento”;

EU ACUSO os que aplaudem tais escolas e ainda trabalham pela massificação do ensino superior, sem entender que o aluno que ali chega deve ter o mínimo de preparo civilizacional, intelectual e moral, pois estamos chegando ao tempo no qual o aluno “terá direito” de se tornar médico ou advogado sem sequer saber escrever, tudo para o desespero de seus futuros clientes-cobaia;

EU ACUSO os que agora falam em promover um “novo paradigma”, uma “ nova cultura de paz”, pois o que se deve promover é a boa e VELHA cultura da “vergonha na cara”, do respeito às normas, à autoridade e do respeito ao ambiente universitário como um ambiente de busca do conhecimento;

EU ACUSO os “cabeças–boas” que acham e ensinam que disciplina é “careta”, que respeito às normas é coisa de velho decrépito,

EU ACUSO os métodos de avaliação de professores, que se tornaram templos de vendilhões, nos quais votos são comprados e vendidos em troca de piadinhas, sorrisos e notas fáceis;

EU ACUSO os alunos que protestam contra a impunidade dos políticos, mas gabam-se de colar nas provas, assim como ACUSO os professores que, vendo tais alunos colarem, não têm coragem de aplicar a devida punição.

EU VEEMENTEMENTE ACUSO os diretores e coordenadores que impedem os professores de punir os alunos que colam, ou pretendem que os professores sejam “promoters” de seus cursos;

EU ACUSO os diretores e coordenadores que toleram condutas desrespeitosas de alunos contra professores e funcionários, pois sua omissão quanto aos pequenos incidentes é diretamente responsável pela ocorrência dos incidentes maiores;

Uma multidão de filhos tiranos que se tornam alunos-clientes, serão despejados na vida como adultos eternamente infantilizados e totalmente despreparados, tanto tecnicamente para o exercício da profissão, quanto pessoalmente para os conflitos, desafios e decepções do dia a dia. Ensimesmados em seus delírios de perseguição ou de grandeza, estes jovens mostram cada vez menos preparo na delicada e essencial arte que é lidar com aquele ser complexo e imprevisível que podemos chamar de “o outro”. A infantilização eterna cria a seguinte e horrenda lógica, hoje na cabeça de muitas crianças em corpo de adulto: “Se eu tiro nota baixa, a culpa é do professor. Se não tenho dinheiro, a culpa é do patrão. Se me drogo, a culpa é dos meus pais. Se furto, roubo, mato, a culpa é do sistema. Eu, sou apenas uma vítima. Uma eterna vítima. O opressor é você, que trabalha, paga suas contas em dia e vive sua vida. Minhas coisas não saíram como eu queria. Estou com muita raiva. Quando eu era criança, eu batia os pés no chão. Mas agora, fisicamente, eu cresci. Portanto, você pode ser o próximo.” Qualquer um de nós pode ser o próximo, por qualquer motivo. Em qualquer lugar, dentro ou fora das escolas. A facada ignóbil no professor Kássio dói no peito de todos nós. Que a sua morte não seja em vão. É hora de repensarmos a educação brasileira e abrirmos mão dos modismos e invencionices. A melhor “nova cultura de paz” que podemos adotar nas escolas e universidades é fazermos as pazes com os bons e velhos conceitos de seriedade, responsabilidade, disciplina e estudo de verdade.

Igor Pantuzza Wildmann
Advogado – Doutor em Direito. Professor universitário.

América Latina segue iniciativa do Brasil e reconhece o Estado palestino com as fronteiras de 1967


Um Estado palestino com as fronteiras de 1967

Enquanto os países latino-americanos seguem o caminho indicado pelo Brasil, de reconhecer o Estado palestino independente das fronteiras de 1967, Israel dá as costas ao mundo, intensifica construções ilegais na Cisjordânia e reforça os laços militares com os EUA

Por Niko Schvarz

Há alguns dias (23 de dezembro) o chanceler Luis Almagro e o subsecretário Roberto Conde animaram um debate sobre um balanço da gestão do Ministério, na presença de parlamentares das comissões de Assuntos Internacionais do Parlasul, de diretores de assuntos internacionais dos ministérios e de dirigentes da Frente Ampla, da Comissão de Relações Internacionais da Frente Ampla e de outros setores da sociedade, e deram origem a uma troca de opiniões viva e franca em um tema que, segundo o ânimo coletivo, vai se ampliar. Uma conclusão primária é que a chancelaria realizou um trabalho intenso e eficaz, que se desdobrará em múltiplas iniciativas em 2011, e que será conveniente adotar medidas para que estas atividades cheguem ao conhecimento das pessoas comuns.

Um dos temas que esteve sobre a mesa foi o reconhecimento do Estado palestino, que o governo assumirá o compromisso de tornar concreto no início de 2011. Será discutido se este reconhecimento, que contará com um apoio generalizado, deve realizar-se (ou não) na base das fronteiras anteriores a junho de 1967.

A resposta deve ser afirmativa, em minha opinião, e o problema das fronteiras não pode ficar no limbo. Assim o fizeram os países latino-americanos que, em rápida sucessão, estão se incorporando ao reconhecimento do Estado palestino, como já o fizeram uma centena de países em todos os continentes. Isso foi expresso na carta do presidente Lula ao presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmud Abbas, em 3 de dezembro. O comunicado oficial do Ministério de Relações Exteriores da República Argentina, em 6 de dezembro, diz: a presidente da Nação Argentina, Cristina Fernandez de Kirchner, enviará uma nota ao presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmud Abbas, pela qual lhe comunicará que o governo argentino reconhece a Palestina como um estado livre e independente, dentro das fronteiras existentes em 1967. De imediato, sobreveio o anúncio uruguaio e o do presidente Evo Morales, da Bolívia. Em 25 de dezembro os telegramas informaram que o presidente equatoriano Rafael Correa vai assinar também o reconhecimento oficial do Equador ao Estado palestino como livre e independente, com suas fronteiras de 1967, segundo comunicou o presidente a Mahmud Abbas e o embaixador equatoriano na ONU ao seu colega palestino.

O fluxo continua. Chile e México estão avaliando adotar atitude semelhante. No caso do Chile, o chanceler Alfredo Moreno confirmou (dia 23) que o presidente Sebastian Piñera se reunirá com o líder palestino Mahmud Abbas em 1º de janeiro em Brasília, durante a posse de Dilma Rousseff.

Ao mesmo tempo, dez países da União Europeia anunciaram que a elevação do nível de suas relações diplomáticas com a Autoridade Nacional Palestina (ANP) poderá ter lugar nas próximas semanas. Os países europeus que mantêm contato com a ANP, nesse sentido, são Alemanha, Reino Unido, Bélgica, Suécia, Finlândia, Dinamarca, Áustria, Luxemburgo e Malta. Espanha e França o fizeram anteriormente. No mesmo dia em que Lula anunciou sua decisão (3 de dezembro) o chefe da missão palestina na França apresentou suas credenciais ao presidente Nicolas Sarkozy em presença da ministra de Relações Exteriores Michele Alliot-Marie em uma cerimônia inédita que mostra a elevação do estatuto da representação palestina na França, decidida em julho, segundo se informa. O presidente Dimitri Medvedev fez o mesmo em nome da Federação Russa.

Fontes diplomáticas israelenses citadas por La Vanguardia, de Barcelona, expressaram o temor de que esta onda de apoio à Palestina procedente da América Latina se converta em um tsunami diplomático global e irreversível. Depois que se apagaram as chamas do trágico incêndio do Monte Carmelo, o diretor geral da chancelaria israelense, Rafael Barak, enviou (dia 20), um telegrama urgente às embaixadas israelenses recomendando que façam todos os esforços para boicotar as tentativas do governo de Ramalah de obter um reconhecimento.

Previamente, o vice-chanceler israelense, Daniel Ayalon, havia condenado em termos agressivos a conduta de Brasil, Argentina e Uruguai sobre esta questão, além de cobrir de impropérios o presidente Hugo Chávez. O chanceler Avigdor Lieberman é um partidário extremado da continuação sem limites das construções israelenses em território palestino.

O fato é que enquanto o diálogo palestino-israelense está paralisado, as novas construções e colônias israelenses na Cisjordânia e em Jerusalém oriental se multiplicam. A lista é muito extensa e é acompanhada da destruição de casas habitadas por palestinos, para entregá-las a ocupantes israelenses. Além disso, telegramas do dia 21 noticiaram a destruição de moradias e pequenos comércios palestinos no bairro de Issaweya em Jerusalém oriental, de uma pequena gráfica reduzida a uma pilha de escombros e metais retorcidos. Vê-se também o espancamento de garotos palestinos na mesma região. A ONU critica Israel por estas práticas e o acusa de ignorar os apelos do Quarteto (ONU, União Europeia, Rússia e EUA) para deter a construção de colônias em terras palestinas, inclusive Jerusalém oriental (declarações do coordenador especial da ONU para a região, Robert Serry, divulgadas pelo porta-voz oficial da organização, Martin Nesirky).

O governo dos EUA solicitou de Israel uma breve moratória nas construções após o vencimento, em setembro, do prazo estabelecido anteriormente, e recebeu uma negativa contundente de Netanyahu. A posição de Israel não mudou nem mesmo quando o governo dos EUA lhe ofereceu, em troca, um pacote considerável de incentivos, que incluía 20 aviões de combate F-35 supermodernos, insumos para as Forças Armadas israelenses, 205 milhões de dólares para comprar sistemas de defesa antiaérea, um aumento significativo dos programas de capacitação militar, além da promessa de vetar, no Conselho de Segurança da ONU, toda resolução contra Israel e toda tentativa da ANP de promover a criação do Estado palestino. E enquanto as construções ilegais israelenses intensificam seu ritmo, em surdina o secretário de Defesa de Israel, Ehud Barak e o chefe do Pentágono, combinaram em Washington os termos de novos acordos militares.
Acrescente-se a tudo isto que um conjunto de personalidades europeias levará uma documentada nota sobre este tema à Presidência do Conselho Europeu que, por sua importância, examinaremos em separado.

Fonte: La República, 27 de dezembro de 2010

sábado, 18 de dezembro de 2010

Desconfie do óbvio: WikiLeaks pode estar sendo usado para a maior campanha de contra-informação pela CIA?

Quanto tempo você acredita que levaria para a internet ser usada desta maneira?

Depois de algumas semanas sendo revelados pela imprensa o conteúdo dos "arquivos secretos" divulgados pelo WikiLeaks, uma incomoda sensação de obviedade passou a martelar minha cabeça. Há algo de muito óbvio, muito "clean" nesses arquivos. Os EUA que surge supostamente desvelado em seus reconditos expedientes de poder, não é o império aético-facínora que por interesse econômico impôs a guerra e devastação ao povo iraquiano. Surpreendentemente, é quase ético. Vemos nesses documentos um traço significativo de "soft power", do tipo que Obama se propôs a inaugurar. O problema é que muitos desses documentos demandam questões ainda da era Bush e aí  fica evidente o serviço de limpeza, que já induz uma releitura da história recente. Há uma dose latente de frustração ainda não assumida por muitos críticos da geopolítica americana.

Uma possibilidade que considero cada vez mais plausível é que o WikiLeaks pode estar sendo usado para contra-informação por Washington. Algumas verdades habilmente contextualizadas com diversas mentiras, deixadas à vista para um providencial vazamento, seria um enredo perfeito, não? A contra-informação é uma atividade intensa na geopolítica, não se engane. E é evidente que a manipulação da verdade se torna muito mais producente quando parece uma revelação casual, ou melhor, uma contrariedade 'desvendada' por terceiros (inocentes úteis), nos quais havia sido cudadosamente 'plantada'.

Até os pequenos constrangimentos diplomáticos causados, me parecem danos colaterais devidamente calculados. Que melhor para superar desconfianças profundas com aliados, do que uma súbita e inesperada (?) transparência. Algo que mostrasse um traço de fragilidade humana na pax americana. Para isso uma gigantesca campanha de contra-informação seria necessário e nada mais eficiente do que a internet. Obama conheceu o poder da internet. em sua campanha. O WikiLeaks pode estar sendo usado na maior campanha de contra-informação da história.

Oscarino Arantes


WikiLeaks: ataque cibernético de Israel/Washington

Heinz Dieterich 

Além das agressões concretas, a "Operação WikiLeaks" prepara o controle ideológico estrito sobre a internet e os portais progressistas.
Os serviços secretos de Israel e a CIA conseguiram outra grande vitória em sua guerra cibernética. Depois de danificar as centrífugas do programa nuclear iraniano (Natanz) mediante um software maligno (Stuxnet), conseguiram utilizar o WikiLeaks e Julian Assange como vetor (portador) de agressão cibernética em grande escala, contra seus "inimigos". O método é o usual da guerra informática: mesclar documentos verdadeiros, mas triviais, com as falsificações que servem como mísseis teledirigidos contra os verdadeiros alvos. 

A autoria dessa agressão cibernética se esclarece com o axioma da criminalística Cui bono, vale dizer, "A quem beneficia o crime?" O padrão dos documentos proporciona a resposta: a Israel, Washington e ao imperialismo ocidental em geral, incluídos seus satélites mercantis-feudais árabes. Prejudica grosseiramente, com suas mentiras, a uma série de alvos particulares, como: Irã, que supostamente é odiado pelo mundo árabe. China, que supostamente aceita o futuro domínio estadunidense sobre a Coreia do Norte; Brasil, cujo Ministro da Defesa, Nelson Jobim, seria informante de Washington; Bolívia, cujo presidente, Evo Morales, teria um grande "tumor" na cabeça; e a Venezuela bolivariana, que seria refúgio do ETA e das FARC, igualmente Cuba. Além das agressões concretas, a "Operação WikiLeaks" prepara o controle ideológico estrito sobre a internet e os portais progressistas. Um mundo fundamentalmente antidemocrático, como o capitalista-burguês atual, não pode permitir o livre fluxo de informação e debates na internet. Declarar o WikiLeaks uma organização terrorista e matar ou prender Julian Assange, como solicitaram importantes setores da classe política estadunidense, seria um grande passo adiante na Gleichschaltung hitleriana (uniformização mental) que os amos do sistema requerem ante a crise capitalista global. Outros portais, como http://www.kaosenlared.net/ e http://www.aporrea.org/, apareciam no index librorum (lista negra) por apologia da violência e antissemitismo.

A autoria do delito israelense-estadunidense cibernético não só se revela ante o princípio cui bono do Direito Romano, mas também ante a absurda pretensão logística, de que um jovem soldado homossexual, Bradley Manning, da 10ª Divisão de Montaña dos Estados Unidos, estacionado em uma remota base militar no Iraque (FOB Hammer), pode selecionar, copiar e reenviar 260.000 documentos classificados (!!). Se Manning pudesse fazer isto, deixaria Bill Gates como um mero aprendiz de computação.

A obstrução das centrífugas nucleares do Irã em 2010, em Natanz, seguiu o exemplo de uma exitosa operação da CIA contra um gasoduto da União Soviética, nos anos oitenta, levado a cabo sob o comando de William Casey. Quando a CIA se inteirou que Moscou ia comprar ou piratear um sofisticado software canadense para as bombas, turbinas e válvulas do novo gasoduto da Sibéria, não bloqueou sua venda, mas injetou, em conspiração com a empresa canadense, uma bomba lógica, um malware (Trojan horse) no software, que alterava os parâmetros de velocidade e pressão no sistema, fazendo-o explodir em 1982.

A operação contra o centro nuclear iraniano de Natanz segue esse mesmo modelo. Os serviços ocidentais infiltraram as redes de compra do Irã para o novo reator e injetaram no software das centrífugas o verme eletrônico "Stuxnet", desenvolvido sob todas as luzes pela Inteligência Militar israelense. Igualmente ao "Cavalo de Tróia" de 1982, o Stuxnet faz flutuar as velocidades e pressões das centrífugas, as quais, atuando em cadeia, destroem-se. Calcula-se que a capacidade operativa das centrífugas em Natanz se reduziu em 30% pelo ataque informático.

O modo de operação da CIA e da Mossad abarca três passos: a) Necessitam informação preliminar sobre os planos do "inimigo". No caso do WikiLeaks, Adrian Lamo, um hacker com quem Manning correspondia, informou ao FBI. b) Sobre essa informação, decidem de que forma atuar. No caso da URSS, de Natanz e do WikiLeaks, resolveram não bloquear de frente a operação planejada, mas aproveitá-la para uma operação cibernética própria de contra-inteligência. c) Os grandes meios de doutrinação burguesa e os governos respectivos manipulam os eventos criados por eles, durante longo tempo. Nesse sentido, os documentos do WikiLeaks serão como o segundo computador de Raúl Reyes. Uma fonte inesgotável de guerra psicológica contra os adversários do Império.

As operações cibernéticas e de desinformação são só um aspecto dos projetos de desestabilização dos Estados Unidos e Israel, como demonstra seu exitoso programa de assassinatos de cientistas nucleares iranianos. A Venezuela, com sua extensa rede de gasoduto e oleodutos, cujo software é parcialmente operado a partir de satélites, com sua monoestrutura elétrica, com a fragilidade de seu Metrô, com suas fronteiras selvagens e marítimas abertas e uma forte quinta coluna adentro, tem que se preparar muito bem para neutralizar a investida que Washington e Tel Aviv tem preparada para o país de Bolívar.

(Traduzido para o Diário Liberdade por Lucas Morais)