segunda-feira, 29 de abril de 2013

Papa Francisco e a Teologia da Libertação


Não importa que o papa Francisco não use a expressão “teologia da libertação”. O importante mesmo é que ele fala e age na forma de libertação

Por Leonardo Boff

Muitos têm se perguntado que pelo fato de o atual papa Francisco provir da América Latina seja ele um adepto da teologia da libertação. Esta questão é  irrelevante. O importante não é ser da teologia da libertação, mas da libertação dos oprimidos, dos pobres e injustiçados. E isso ele o é com indubitável claridade.

Este, na verdade, sempre foi o propósito da teologia da libertação. Primeiramente vem a libertação concreta da fome, da miséria, da degradação moral e da ruptura com Deus. Esta realidade pertence aos bens do Reino de Deus e estava nos propósitos de Jesus. Depois, em segundo lugar, vem a reflexão sobre este dado real: em que medida aí se realiza antecipatoriamente o Reino de Deus e de que forma o cristianismo, com o potencial espiritual herdado de Jesus, pode colaborar, junto com outros grupos humanitários, nesta libertação necessária.

Esta reflexão posterior, chamada de teologia, pode existir ou não pois pode não haver pessoas que tenham condições de exercer esta tarefa. O decisivo é que o fato da libertação real ocorra. Mas sempre haverá espíritos atentos que ouvirão o grito do oprimido e da Terra devastada e que se perguntarão: com aquilo que aprendemos de Jesus, dos Apóstolos e da doutrina cristã de tantos séculos, como podemos dar a nossa contribuição ao processo de libertação? Foi o que realizou toda uma geração de cristãos, de cardeais a leigos e a leigas a partir dos anos 60 do século passado. Continua até os dias de hoje, pois os pobres não cessam de crescer e seu grito já se transformou num clamor.

domingo, 28 de abril de 2013

Efeitos colaterais do atentado de Boston

Por Luiz Eça

As bombas de Boston ainda podem fazer muitas outras vítimas: os islamitas e os imigrantes nos EUA.

Os políticos e a grande mídia dos EUA não perderam tempo em associar o atentado à Al-Qaeda ou outro movimento similar.

No entanto, não há um único indício que aponte nessa direção. Pelo contrário: sobram os fatos que a contradizem.

A própria natureza rudimentar da bomba, que poderia ser feita com base em instruções de websites jihadistas, não é típica da sofisticação técnica dos adeptos de Bin Laden.

Os terroristas comportaram-se como os mais inexperientes amadores. Em vez de fugirem do local do crime, ficaram por lá, bem à vista das inúmeras câmeras de segurança e das TVs, focando a linha de chegada da maratona.

Nos dias seguintes, em vez de permanecerem escondidos, eles foram roubar uma loja de conveniências, chamando a atenção da polícia.

Finalizando essa comédia de erros, os dois atores não tinham um carro preparado para a fuga; preferiram assaltar um motorista, contar a ele seus tenebrosos planos futuros e deixá-lo ir embora em busca do policial mais próximo.

Nenhuma organização terrorista seria tão incompetente ao ponto de planejar e realizar um atentado de uma forma, digamos, própria de adolescentes não muito espertos.

Outro dado que vale lembrar é a ausência do tradicional manifesto, através do qual as organizações terroristas costumam assumir o ato, apresentando suas razões.

sábado, 27 de abril de 2013

Obra completa de Paulo Freire grátis para download


Acervo digital disponibiliza toda a obra de Paulo Freire. Estão disponíveis para download gratuito vídeos de aulas, conferências, palestras, entrevistas, artigos e livros do educador
 

O Centro de Referência Paulo Freire, dedicado a preservar e divulgar a memória e o legado do educador, disponibiliza vídeos das aulas, conferências, palestras e entrevistas que ele deu em vida. A proposta tem como objetivo aumentar o acesso de pessoas interessadas na vida, obra e legado de Paulo Freire.

Para os interessados em aprofundar os ensinamentos freirianos, o Centro de Referência também disponibiliza artigos e livros que podem ser baixados gratuitamente.

Educação como liberdade

Internacionalmente respeitado, os livros do educador foram traduzidos em mais de 20 línguas. No Brasil, tornou-se um clássico, obrigatório para qualquer estudante de pedagogia ou pesquisador em educação. Detentor de pelo menos 40 títulos honoris causa (concedidos por universidades a pessoas consideradas notáveis), Freire recebeu prêmios como Educação para a Paz (Nações Unidas, 1986) e Educador dos Continentes (Organização dos Estados Americanos, 1992).

“Defendo a educação desocultadora de verdades. Educando e educadores funcionando como sujeitos para desvendar o mundo”, dizia Freire. A educação como prática da liberdade, defendida por ele, enxerga o educando como sujeito da história, tendo o diálogo e a troca como traço essencial no desenvolvimento da consciência crítica.

Clique aqui para acessar o acervo Paulo Freire

Fonte: Revista Fórum (do Pragmatismo Político)

sexta-feira, 26 de abril de 2013

1964 Um Golpe Contra o Brasil - Documentário de Alípio Freire



"1964 - Um golpe contra o Brasil", de Alipio Freire.
O filme é uma realização do Núcleo de Preservação da Memória Política e da TVT - TV dos Trabalhadores, com apoio do Memorial da Resistência de São Paulo e da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Decisão, Desejo e Ação



A decisão é, na verdade, o que de mais próprio concerne a excelência e é melhor do que as próprias ações no que respeita à avaliação dos caracteres humanos. A decisão parece, pois, ser voluntária. Decidir e agir voluntariamente não é, contudo, a mesma coisa, pois, a ação voluntária é um fenômeno mais abrangente. É por essa razão que ainda que tanto as crianças como os outros seres vivos possam participar na ação voluntária, não podem, contudo, participar na decisão. Também dizemos que as ações voluntárias dão-se subitamente, mas não assim de acordo com uma decisão. 

Os que dizem que a decisão é um desejo, ou uma afecção, ou anseio, ou uma certa opinião, não parecem dizê-lo corretamente, porque os animais irracionais não tomam parte nela. Por outro lado, quem não tem autodomínio age cedendo ao desejo, e, desse modo, não age de acordo com uma decisão. Finalmente, quem tem autodomínio age, ao tomar uma decisão, mas não age, ao sentir um desejo. 


Um desejo pode opor-se a uma decisão, mas já não poderá opor-se a um outro desejo. O desejo tem em vista o que é agradável e o que é desagradável. A decisão, contudo, não é feita em vista do desagradável nem do agradável.

Aristóteles, in 'Ética a Nicómaco'

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Escola Margareth Thatcher


Por Paulo Metri

Determinado bem pertencente ao povo brasileiro, que vale no mercado em torno de US$ 1,5 trilhão, vai ser repassado, no próximo mês de maio, a empresas estrangeiras pelo pagamento de US$ 225 bilhões de royalties durante um período de 30 anos. Pode ser suposto que, para colocar o bem no mercado, as empresas precisam recuperar investimentos e custos realizados, além de ter um bom lucro, ou seja, elas precisam retirar US$ 600 bilhões do negócio. Em outras palavras, nosso povo deveria receber pelo bem em torno de US$ 900 bilhões (= US$ 1,5 trilhão - US$ 600 bilhões). Como recebe só US$ 225 bilhões, ele vai ter seu patrimônio subtraído exatamente em US$ 675 bilhões, parcela esta que irá para os caixas das empresas como superlucro.

O PIB do Brasil em 2012 foi de US$ 2,3 trilhões. Assim, esta subtração do patrimônio do nosso povo é igual a cerca de 30% do PIB brasileiro. No entanto, nenhum meio de comunicação tradicional, quer sejam os jornalões ou as revistas semanais ou as TV abertas ou por assinatura, falou sobre este fato. A população brasileira nada sabe sobre uma ação que representará uma gigantesca subtração de patrimônio público. Este silêncio é a comprovação da parcialidade da grande mídia, que oculta as verdadeiras questões de interesse da sociedade. Por outro lado, fica patente também a falta de compreensão da classe política, com raras exceções, com relação às prioridades da nossa sociedade. Se não for falta de compreensão, pode ser algo bem pior.

É preciso deixar claro que tudo será feito e o patrimônio será entregue estritamente dentro da lei. Uma lei extremamente injusta para com a sociedade e muito benéfica para as empresas, principalmente as estrangeiras. Mas é a lei vigente para blocos fora da área do Pré-sal, de número 9.478 de 1997. A referida subtração é aprovada a partir da entrega de áreas do território nacional como concessões para empresas explorarem e produzirem petróleo e gás, que ocorrerá na 11ª Rodada de leilões de blocos, promovida pelo governo brasileiro nos dias 14 e 15 de maio. A estimativa de petróleo a ser descoberto nestes blocos foi fornecida pela própria diretora-geral da ANP em seminário de promoção da Rodada.

Vou repetir argumentações de outros artigos meus sobre este assunto, para explicar sumariamente como esta Rodada é pouco atraente. As empresas estrangeiras arrematarão grande número de blocos e irão exportar todo petróleo descoberto nestes blocos in natura. Na fase de investimentos, quase não irão comprar no país, não irão contratar desenvolvimento tecnológico nem engenharia no Brasil, quase não irão empregar mão de obra local e deixarão no Brasil o royalty, que é, em comparação com o lucro, uma parcela bem menor. Também, o Brasil perde a possibilidade de uso do fornecimento garantido de petróleo de médio prazo a outros países como instrumento de ação geopolítica. A lei 9.478 permite todas estas injustiças e usurpação da nossa riqueza.

À primeira vista, a alegria devido à morte de um ser humano pode ser considerada uma desumanidade. No entanto, pode também significar uma explosão de alívio, pois a fonte de opressão e insensibilidade, representada pelo morto, foi extinta. Foi o que aconteceu com a morte de Margareth Thatcher. Ou seja, o povo comemorou a execução pela Justiça divina, ou pelo acaso, daquilo que a Justiça terrestre foi incapaz de corrigir. Injustiças causadas pelo preposto do capital, com ajuda da mídia subalterna, tristemente suportadas pelo povo, oprimem tanto que a morte do algoz pode ser comemorada.

Apesar da inegável realização social dos governos Lula e Dilma, fica uma pergunta na nossa mente: qual o legado a presidente Dilma quer deixar neste setor? Ser lembrada como membro da Escola da privatista Margareth Thatcher?

Se você estiver convencido sobre o que foi explicado e quiser fazer valer seu desejo, mesmo porque a Constituição afirma que todo poder emana do povo, remeta um recado para a presidente Dilma através do endereço: https://sistema.planalto.gov.br/falepr2/index.php. Com relação aos deputados e senadores, mandar mensagens é mais complicado, porque teria que ser através de e-mails individuais. Um e-mail para cada um dos 513 deputados e cada um dos 81 senadores. No entanto, não deixe de mandar para aqueles nos quais você acredita. Sugiro, também, que você se defenda, pois estará sendo lesado. Lute como puder para esta usurpação ser barrada.

Fonte: Correio da Cidadania

segunda-feira, 22 de abril de 2013

O humanismo revolucionário de Rosa Luxemburgo


Sem liberdades democráticas é impossível a práxis revolucionária das massas, a autoeducação popular pela experiência prática, a autoemancipação revolucionária dos oprimidos e o próprio exercício do poder pela classe trabalhadora 

Por Michael Löwy

Durante anos, as únicas obras de Rosa Luxemburgo conhecidas no Brasil foram as editadas por alguns pioneiros como Mario Pedrosa – o ensaio sobre a Revolução Russa (em 1946) – ou Lívio Xavier: Reforma ou revolução (em 1955). Graças a Isabel Loureiro e à Editora Unesp, pela primeira vez existe no Brasil uma edição em três volumes dos principais escritos da revolucionária judia-polonesa-alemã e de sua correspondência, traduzidos de suas línguas originais.1 Por que esse atraso? Tem a ver, sem dúvida, com o peso que teve o stalinismo na história da esquerda brasileira...

Os volumes estão organizados em ordem cronológica: o primeiro corresponde ao período que vai de 1899 a 1914. Nesse volume se encontram textos célebres, como a polêmica contra o “revisionismo” de Eduard Bernstein – “Reforma social ou revolução?”(1899) –, a crítica do centralismo leninista – “Questões de organização da social-democracia russa” (1903-1904) – ou a discussão sobre a greve geral – “Greve de massas, partido e sindicatos”(1906) –, mas também outros menos conhecidos, sobre “A Igreja e o socialismo”, que seguramente vai interessar aos leitores brasileiros, ou sobre o direito de voto das mulheres. O “corte” histórico é, evidentemente, o 4 de agosto de 1914: a adesão da social-democracia à Primeira Guerra Mundial. O segundo vai de 1914 a 1919, isto é, desde os primeiros textos contra a guerra imperialista até o assassinato de Rosa Luxemburgo pelos paramilitares (Freikorps) levados a Berlim pelo ministro social-democrata Gustav Noske para esmagar a insurreição de janeiro de 1919. Figuram nesse volume: a famosa “Brochura de Junius” – “A crise da social-democracia” (1916) –, texto fundamental na história do pensamento marxista, que avança a perspectiva de uma história aberta, ainda a ser decidida: socialismo ou barbárie; o manuscrito sobre “A Revolução Russa”, de 1918; os últimos escritos em torno da Revolução Alemã, defendendo as posições da Liga Spartakus e do recém-fundado Partido Comunista Alemão (1918-1919). O terceiro volume contém uma seleção da correspondência, diretamente traduzida do alemão e do polonês, dando prioridade às cartas de caráter pessoal, dirigidas a seus amantes (Leo Jogiches, Costia Zetkin, Hans Diefenbach, Paul Levi) e suas amigas (Sophie Liebknecht, Luise Kautsky, Mathilde Wurm). Só ficaram faltando os escritos econômicos, a “Introdução à economia política”e a “Acumulação do capital”, que, por seu volume, necessitam uma publicação separada.

sábado, 20 de abril de 2013

O PODER E SUA MALDIÇÃO

Por Mauro Santayana

Desde que a história do poder começou a ser escrita, dela tem sido inseparável o registro da corrupção. Contra a corrupção do poder, Savonarola, sugeriu um governo de santos. Platão um governo de sábios austeros. Em uma de suas famosas cartas, algumas tidas como apócrifas, ele fala da perversão do poder pelo hedonismo em Siracusa – ele que fora mal sucedido conselheiro de dois de seus tiranos, Dione e Dionísio. Pôde entender Platão que uma coisa são as idéias, outras, os homens.

Savonarola é o modelo de todos os combatentes da corrupção na História. Coube-lhe opor-se ao mais corrupto e corruptor de todos os papas, Rodrigo Borgia, que ocupou o trono com o nome de Alexandre VI. O frade dominicano desafiou o papado e soube esquivar-se da astúcia do Pontífice, que lhe ofereceu tudo, até mesmo o chapéu cardinalício, com o propósito de  retirá-lo da Toscana, onde se sentia seguro.

O monge acabou sendo vencido pelas armas, preso, julgado e condenado à morte. Naquele episódio, e em outros, Mamon, o deus do papa, se sobrepôs ao Cristo de Savonarola.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

O pragmatismo abduziu a esquerda brasileira



Discurso do senador Roberto Requião (PMDB/PR) feito no dia 30/03/2012 no Senado da República:

Senhoras e senhores senadores.

Faz quase um ano que morreu, em Paris, o militante e escritor espanhol Jorge Semprún. Ele foi um dos intelectuais e dirigentes políticos mais fascinantes do século passado e início deste. Lutou na Guerra Civil Espanhola, contra os fascistas; participou da Resistência Francesa, contra o nazismo; conheceu os horrores dos campos de concentração de Hitler, ao ficar preso em Buchenwald. E, por muitos anos, correndo o risco da prisão, tortura e morte foi o principal dirigente clandestino do Partido Comunista na Espanha ditatorial do generalíssimo Franco.

Quando já estava no fim da vida, perguntam a Semprún se arrependia de alguma coisa.

Ele mesmo formula a pergunta e responde:

“Arrependo-me e renego ter sido militante do comunismo estalinista? Não. Creio que naquele momento havia uma justificativa para tal”.

“Arrependo-me de não haver saído do Partido Comunistas em 1956, ano dos movimentos anti-estalinistas populares na Polônia e na Hungria? Não. Porque sou espanhol. Se fosse francês, teria sido o momento de romper. Mas na Espanha, quaisquer que fossem os crimes de Stalin, lutar com o Partido Comunista contra  Franco valia a pena”.

Por fim, querem saber se a palavra-de-ordem “o bem é roubar o pão e reparti-lo bem”, usada pelos prisioneiros de Buchenwald ,continuava válida. Ele responde. “Não. Essa fórmula não a repetiria hoje. No entanto, o bem, desde sempre, é repartir. E é possível repartir melhor. O absurdo da situação é que se pode repartir melhor”. E não se faz.

Essas reflexões finais de Jorge Semprún deveriam dar o que pensar a todos os que se dizem de esquerda em nosso país, especialmente ao partido que, com frequência, reivindica, se não o monopólio, pelos menos a co-autoria da posição.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Slavoj Žižek: Rabinovitch no Chipre


Por Slavoj Žižek

Recordemos a cena clássica dos desenhos animados em que um gato chega à beira do precipício e continua caminhando, ignorando o fato de que não há chão sob suas patas; ele só começa a cair quando olha para baixo e se vê pairando sobre o abismo. Não é assim que o povo do Chipre se sente hoje em dia? As pessoas sabem que o Chipre nunca mais será o mesmo, que logo adiante haverá uma queda catastrófica no padrão de vida, mas o impacto total dessa queda ainda não foi sentido devidamente; então, por um curto período, as pessoas se dão ao luxo de continuar vivendo normalmente, como o gato que caminha tranquilo no ar. E não podemos condená-las: esse adiamento do colapso total também é uma estratégia de sobrevivência – o verdadeiro impacto acontecerá em silêncio, quando o pânico tiver acabado. Por isso é que agora, quando a crise no Chipre desapareceu em grande medida da mídia, devemos falar e escrever sobre ela.

Há uma piada famosa, contada na última década da União Soviética, sobre Rabinovitch, um judeu que quer emigrar. O funcionário do departamento de emigração pergunta o motivo, e ele responde: “Há dois motivos. O primeiro é o medo de que os comunistas percam o poder na União Soviética, e o novo governo coloque sobre nós, judeus, toda a culpa pelos crimes comunistas – e daí haverá mais pogroms…” O funcionário interrompe, dizendo: “Mas isso é uma bobagem, nada vai mudar na União Soviética, o poder dos comunistas vai durar para sempre!” “Pois então, esse é o segundo motivo”, responde Rabinovitch tranquilamente.

terça-feira, 16 de abril de 2013

Juros: quem quer a alta, e por quê


Para conter a inflação, há outros remédios. Mas oligarquia financeira pressiona – porque quer voltar a ganhar os mesmos rios de dinheiro de antes

Por Antonio Martins

Um assunto único domina, hoje (11/4), as manchetes dos jornais brasileiros mais vendidos. Folha, Globo Estado destacam, em frases quase idênticas que a inflação anualizada subiu (para 6,59%) e “estourou a meta” fixada pelo Banco Central (BC). Em consequência, não restaria, ao próprio banco, outra alternativa exceto iniciar uma nova rodada de elevação da taxa básica de juros (Selic), já na próxima semana. A presidenta Dilma Roussef, que se manifestou contra a alta, há poucos dias, teria sido vencida. A Folha chega até a prever o montante e o ritmo do ascenso: a Selic, hoje em 7,5% ao ano, passaria a 8,5%, após “quatro aumentos de 0,25 ponto percentual, até dezembro”.

Noam Chomsky cunhou certa vez o termo “fabricação de consensos” – provavelmente sem cogitar que alguém tentasse praticá-la de modo tão caricatural quanto a mídia brasileira. Há três abusos claros nas manchetes de hoje: a) a inflação não está mais em alta, nem deve ser reduzida a qualquer custo; b) elevar os juros não é receita eficaz para fazê-lo; c) por trás do suposto “remédio” esconde-se a luta da oligarquia financeira para capturar uma parcela ainda maior da riqueza coletiva. Os jornais, é claro, escondem esta tentativa.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Offshore Leaks: as caixas pretas do poder global


Por Antonio Martins

Um facho de luz está iluminando o lado obscuro do poder global desde o início do mês, sem que os jornais brasileiros pareçam interessados em segui-lo. Após 15 meses de trabalho, uma equipe do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ, em inglês) começou a publicar reportagens muito constrangedoras sobre os centros financeiros offshore, também conhecidos pelo termo eufemístico de “paraísos fiscais”. Por envolverem políticos e magnatas conhecidos do público, as revelações já estão provocando sobressaltos políticos em países tão diferentes como França (onde caiu o ministro das Finanças), Canadá, Indonésia, Filipinas, Venezuela, Rússia e Azerbaijão.


O trabalho do ICIJ tem como fonte um vazamento de informações extraordinário. Um operador anônimo, de uma instituição financeira que opera nas Ilhas Virgens britânicas, enviou a Gerard Ryle, diretor do Consórcio, um disco rígido de computador contendo 260 gigabytes de dados – 2,5 milhões de documentos, acumulados ao longo de trinta anos. Em volume, são 160 vezes mais dados que o material vazado, pelo Wikileaks, a partir do Departamento de Estado dos EUA. Por isso, o caso tornou-se internacionalmente conhecido como o “offshore leaks”. Uma equipe de 86 jornalistas, de 37 publicações (nenhuma brasileira…) analisou as informações e está produzindo as reportagens. É possível acompanhá-las, por exemplo, em seções especiais criadas no próprio site do ICIJ, mas também no Guardian, de Londres, e no Le Monde, de Paris.

sábado, 13 de abril de 2013

FORJEMOS NOSSAS ARMAS




Por Mauro Santayana

(JB) - O governo da Presidente Dilma Roussef decidiu alterar as leis sobre a indústria bélica e editar normas para a política de defesa, que incentivam a produção nacional de armas e o desenvolvimento de processos tecnológicos autônomos. Os nossos leitores habituais devem recordar-se de matéria sobre o assunto que publicamos neste mesmo Jornal do Brasil sobre o tema em 16 de agosto do ano passado. No texto, citávamos a dramática advertência do general Maynard Santa Rosa: em caso de agressão estrangeira, só dispomos de munição para uma hora de resistência.
Um dos maiores erros dos governos de Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso, se não o mais grave, foi desarmar o Brasil. A doutrina FHC se baseava no falso conformismo de que jamais poderíamos nos defender do poderio bélico norte-americano e seria melhor transformar as forças armadas em corpos policiais destinados ao combate ao tráfico de drogas, sob o comando continental dos Estados Unidos, of course.
Todos os povos que se prezam são obrigados a defender-se dos eventuais inimigos. As nações se formam dentro de espaços naturais, em que devem viver em paz, preocupando-se com seus recursos, com a felicidade e com a defesa de sua liberdade. À soma de espaço e liberdade chamamos soberania, no léxico político moderno. Nas guerras, sempre indesejadas, as nações agredidas, qualquer que seja a sua capacidade bélica, são eticamente obrigadas a resistir.
Churchill, ao opor-se à capitulação de Chamberlain, ponderou que uma nação , quando se defende com a coragem do patriotismo, pode ser derrotada sem perder a honra, mas, ao capitular sem luta, perde o respeito do inimigo e das nações neutras.
O vencedor trata  com natural desprezo os que se entregam sem luta, ainda que em nome da paz. É essa a diferença entre os soviéticos, que perderam rios de sangue na Segunda Guerra Mundial, e puderam hastear sua bandeira no Reichstag, enquanto Hitler se matava - e os franceses de Pétain e Laval, que se entregaram quase sem luta e colaboraram com a repressão nazista dentro de seu próprio território. Ainda bem que, no caso da França, os maquisards salvaram a face de seu povo, na dura resistência contra os ocupantes.
O Brasil é um dos poucos países do mundo capazes de viver com autonomia dentro de suas próprias fronteiras, o que o dispensa da sedução de conquista de espaços alheios. É um dos maiores do mundo em extensão territorial contínua, em que se fala a mesma língua, com invejável insolação e imensos depósitos de água potável. E exatamente por isso é obrigado a manter forças armadas capazes de dissuadir os eventuais cobiçosos.
A experiência continental nos adverte de que não podemos manter alinhamentos internacionais automáticos. Não cabe discutir aqui se a Argentina agiu bem, ao tentar recuperar, pela força, o que pela força perdera, ou seja, a soberania sobre as Malvinas. O fato é que Washington não interveio em favor da paz: colocou-se inteiramente ao lado de Mme. Thatcher, sem ir mais fundo na discussão da soberania argentina, reconhecida por todos os seus vizinhos da América do Sul.
A nova doutrina brasileira busca estabelecer parcerias não só comerciais, mas estratégicas. E, para que não ocorra a pressão sobre os nossos parceiros, é melhor negociar com países emergentes – no caso, os BRICS.
Cometemos um erro estratégico ao assinar o famoso Tratado de Não Proliferação Nuclear. A decisão de não usar determinado instrumento bélico não nos deve tolher o processo de sua fabricação e a técnica de seu emprego.
Armemo-nos todos, ou nos desarmemos todos, sem exceção.

Fonte: www.maurosantayana.com