sexta-feira, 29 de março de 2013

Dilma e a utopia brasileira - artigo de Ruy Braga


Por Ruy Braga

Dois anos de raquitismo econômico foram suficientes para estimular até mesmo o apetite eleitoral de tradicionais aliados do Palácio do Planalto. Então, como explicar que, conforme recente pesquisa do Ibope, a popularidade de Dilma Rousseff tenha batido novo recorde? Em tempos de agudo descrédito dos políticos tradicionais, quando um movimento liderado por um comediante reivindica o cargo de primeiro-ministro na Itália, por exemplo, desconfio que uma aprovação pessoal de quase 80% configure êxito político incomparável, ao menos entre países democráticos.

A referência a Beppe Grillo serve apenas para acentuar a atual façanha da presidente, mas não provê hipóteses acerca de sua popularidade. Para tanto, recorrerei a outro italiano. Em seus Cadernos do Cárcere, Antonio Gramsci propôs que aquele que deseja interpretar a vida política nacional precisa apreender os movimentos “orgânicos” e “conjunturais” em sua unidade contraditória, isto é, como duas faces de uma mesma moeda. Assim, movimentos conjunturais transformam-se em atualizações de processos orgânicos, em seu “vir a ser” saturado de múltiplos sentidos.

quarta-feira, 27 de março de 2013

O império das 1000 bases


Por Hugh Gusterson

Antes de lerem este artigo, tentem responder a esta pergunta: Quantas bases militares têm os Estados Unidos noutros países?: a) 100; b) 300; c) 700; ou d) 1000.

De acordo com a própria lista PDF do Pentágono , a resposta é de cerca de 865, mas se incluirmos as novas bases no Iraque e no Afeganistão é de mais de mil. Estas mil bases constituem 95 por cento de todas as bases militares que todos os países do mundo mantém em território de outro país. Por outras palavras, os Estados Unidos estão para as bases militares como a Heinz está para o ketchup.


Antigamente, o colonialismo praticado pelos europeus consistia em conquistar países inteiros e administrá-los. Mas isso era deselegante. Os Estados Unidos foram os pioneiros numa abordagem mais requintada para um império global. Conforme diz o historiador Chalmers Johnson, "A versão americana da colônia é a base militar". Os Estados Unidos, diz Johnson, tem um "império de bases".

Este 'império de bases' dá aos Estados Unidos um alcance global, mas o modelo deste império, na medida em que inflecte para a Europa, é uma relíquia alargada e anacrônica da Guerra-fria".

terça-feira, 26 de março de 2013

A Dialética de Eduardo Galeano



"A natureza se realiza em movimento e também nós, seus filhos, que somos o que somos e ao mesmo tempo somos o que fazemos para mudar o que somos. Como dizia Paulo Freire, o educador que morreu aprendendo: “Somos andando”. A verdade está na viagem, não no porto.

Não há mais verdade do que a busca da verdade. Estamos condenados ao crime? Bem sabemos que os bichos humanos andamos muito dedicados a devorar o próximo e a devastar o planeta, mas também sabemos que não estaríamos aqui se nossos remotos avós do paleolítico não tivessem sabido adaptar-se à natureza, da qual faziam parte, e não tivessem sido capazes de compartilhar o que colhiam e caçavam.

Viva onde viva, viva como viva, viva quando viva, cada pessoa contém muitas pessoas possíveis e é o sistema de poder, que nada tem de eterno, que a cada dia convida para entrar em cena nossos habitantes mais safados, enquanto impede que os outros cresçam e os proíbe de aparecer.

Embora estejamos malfeitos, ainda não estamos terminados; e é a aventura de mudar e de mudarmos que faz com que valha a pena esta piscadela que somos na história do universo, este fugaz calorzinho entre dois gelos”.

Eduardo Galeano

segunda-feira, 25 de março de 2013

Número crescente de concessões ao capital é a resposta do governo à crise


Por Oswaldo Coggiola 

No início do ano pré-eleitoral (na verdade, já eleitoral) de 2013, todos os índices da economia brasileira apontam para a estagnação e o recuo. À queda, já anunciada, do PIB, veio somar-se agora o recuo industrial (o primeiro em uma década), o retrocesso do investimento por cinco trimestres consecutivos, o aumento do desemprego, que já afetava o setor industrial e agora se transmitiu para o setor comercial (sinalizando o fim do boom do consumo que foi a marca econômica e política do governo petista), o aumento da inflação (que teria superado 1% em dezembro passado, isto é, mais de 15% anual, se não mediasse a queda parcial das tarifas de energia - que irá reduzir em 28% o custo dos grandes consumidores e em 16% o dos pequenos e médios consumidores - e o adiamento dos reajustes de tarifa nos transportes), a queda do lucro bancário privado (- 5,3%) e o aumento (30% em média) das provisões contra calotes do setor financeiro, que lucrou R$ 27, 7 bilhões, com um total de... R$ 52 bilhões previstos para devedores duvidosos e inadimplentes. A Bolsa de Valores de São Paulo anunciou no início de 2012 que 45 companhias fariam ofertas públicas iniciais de cotização de ações (só três delas o fizeram). Em suma, um cenário de crise e recessão. O “remédio” do governo é a mesmice aumentada, ou mais e ainda mais do mesmo.

domingo, 24 de março de 2013

Hannah Arendt: A Pluralidade Humana


A pluralidade humana, condição básica da ação e do discurso, tem o duplo aspecto da igualdade e diferença. Se não fossem iguais, os homens seriam incapazes de compreender-se entre si e aos seus antepassados, ou de fazer planos para o futuro e prever as necessidades das gerações vindouras. Se não fossem diferentes, se cada ser humano não diferisse de todos os que existiram, existem ou virão a existir, os homens não precisariam do discurso ou da ação para se fazerem entender. Com simples sinais e sons poderiam comunicar as suas necessidades imediatas e idênticas.


Ser diferente não equivale a ser outro - ou seja, não equivale a possuir essa curiosa qualidade de «alteridade», comum a tudo o que existe e que, para a filosofia medieval, é uma das quatro características básicas e universais que transcendem todas as qualidades particulares. A alteridade é, sem dúvida, um aspecto importante da pluralidade; é a razão pela qual todas as nossas definições são distinções e o motivo pelo qual não podemos dizer o que uma coisa é sem a distinguir de outra. 

Na sua forma mais abstrata, a alteridade está apenas presente na mera multiplicação de objetos inorgânicos, ao passo que toda a vida orgânica já exibe variações e diferenças, inclusive entre indivíduos da mesma espécie. Só o homem, porém, é capaz de exprimir essa diferença e distinguir-se; só ele é capaz de se comunicar a si próprio e não apenas comunicar alguma coisa - como sede, fome, afeto, hostilidade ou medo. No homem, a alteridade, que ele tem em comum com tudo o que existe, e a distinção, que ele partilha com tudo o que vive, tornam-se singularidades e a pluralidade humana é a paradoxal pluralidade dos seres singulares.

Hannah Arendt, in 'A Condição Humana'

sábado, 23 de março de 2013

Nos dez anos da guerra de Bush: Iraque à venda - documentário completo




Paul Krugman: Marchas da insensatez, do Iraque ao déficit


Paul Krugman

Dez anos atrás, a América invadiu o Iraque; de alguma maneira, nossa classe política decidiu que nossa resposta a um ataque terrorista deveria ser travar guerra contra um regime que, por mais vil fosse, nada tinha a ver com aquele ataque. 

Algumas vozes avisaram que estávamos cometendo um erro terrível; que o argumento em favor da guerra era fraco, possivelmente fraudulento, e que, longe de render a prometida vitória fácil, era muito provável que a empreitada terminasse com sofrimento custoso. E os avisos foram acertados, é claro. 

Ficamos sabendo que não havia armas de destruição em massa; olhando em retrospecto, ficou evidente que a administração Bush enganou a nação propositalmente para conduzi-la à guerra. 

E a guerra --depois de ceifar milhares de vidas americanas e dezenas de milhares de vidas iraquianas, depois de impor custos financeiros muitíssimo mais altos que seus fomentadores tinham previsto-- deixou a América mais fraca, não mais forte, e acabou por gerar um regime iraquiano que é mais próximo de Teerã que de Washington. 

Será que nossa elite política e nossa mídia aprenderam com esta experiência? Não é o que parece. O que realmente chamou a atenção no período que antecedeu a guerra foi a ilusão de consenso. 

Slavoj Žižek: um rebelde com causa


Slavoj Žižek, um dos mais instigantes pensadores contemporâneos, professor e diretor de instituições acadêmicas na Eslovênia e na Grã-Bretanha, começou por Porto Alegre um giro de lançamento de seu mais recente livro traduzido para o português, Menos que Nada (Boitempo Editorial). A seguir, uma síntese da entrevista ao jornal Zero Hora de Porto Alegre:

Zero Hora - Quais são suas impressões sobre o Brasil?
 
Slavoj Žižek - As impressões são sempre divididas, mas gosto do país. Por exemplo: sei que há muita divisão ideológica sobre o Brasil. Uma é de que é um país onde as pessoas sabem aproveitar a vida, dançar e fazer música. Mas sei que há também um outro lado. Sei que há muitos negros no Brasil, mas a elite política permanece branca. Nos governos de Lula, havia apenas aquele famoso cantor negro que era ministro da Cultura (Gilberto Gil). Talvez agora seja diferente. Isso me lembra um pouco os antigos regimes comunistas, onde havia sempre mulheres no governo, mas apenas em três pastas consideradas de segundo classe e afastadas do poder real: Cultura, Educação e Assistência Social. Por outro lado, meus amigos brasileiros dizem que há ainda uma forte divisão racial, mas que permanece invisível. O que deve surpreendê-lo a respeito do Brasil é que a divisão social, entre ricos e pobres, é visível. Você vê favelas. Durante minha primeira visita, no início dos anos 1990, fui convidado a uma reunião na casa do diretor da Volkswagen do Brasil. Era uma mansão luxuosa, mas de lá era possível ver, a pouco mais de um quilômetro, uma favela. Gosto disso. Vocês não escondem isso como em outras cidades. Vá a Buenos Aires, você não vê favelas. Estão escondidas. Inicialmente, fui cético a respeito do governo Lula. Toni Negri (Antonio Negri, sociólogo marxista italiano) me disse há muitos anos: "Não subestime Lula e não superestime Hugo Chávez". Me convenci cada vez mais de que Chávez não resolve realmente os problemas, injeta dinheiro neles. Ele não inventa nenhuma nova forma socioeconômica. Conheço essas formas de participação dos trabalhadores nas fábricas, mas sou cínico a esse respeito. Amigos me informam que há todas essas boas notícias sobre trabalhadores que controlam fábricas, cooperativas, mas que seria bom ir até lá um ano depois e ver o que aconteceu com a fábrica. Muitas vezes faliu.

De Francisco Tarrega: Capricho Árabe por Piotr Pakhomkin

sexta-feira, 22 de março de 2013

EDUCAÇÃO NO BRASIL: 3,6 milhões de crianças e jovens fora da escola


No Brasil, 3,6 milhões de crianças e jovens entre 4 e 17 anos estão fora da escola. A maioria (2 milhões) tem entre 15 e 17 anos e deveria estar cursando o ensino médio. O déficit também é grande entre aqueles com idade entre 4 e 5 anos (1 milhão), que deveriam estar na educação infantil.

Os dados foram divulgados ontem (6) no relatório De Olho nas Metas, do movimento Todos pela Educação (TPE)*. A entidade estabelece que até 2022, 98% ou mais dos jovens e crianças entre 4 e 17 anos estejam matriculados e frequentando a escola.

Para que essa meta seja cumprida, seria necessário que em 2011, ano referente ao levantamento, 94,1% dos brasileiros dentro da faixa etária estivessem na escola. O número atual corresponde a 92%. Em relação aos que ficam de fora, em números absolutos, o estudo os compara a toda a população uruguaia (cerca de 3,4 milhões de pessoas). 


O desempenho dos alunos do ensino médio ficou abaixo do nível adequado, revela a pesquisa – Os alunos do ensino médio são os que apresentam maior defasagem no aprendizado. Menos de um terço, 29,2%, dos estudantes conhecem a língua portuguesa da forma adequada ao período de estudo e apenas 10,3% sabem matemática proporcionalmente ao ano de ensino. Os dados foram divulgados ontem (6) no relatório De Olho nas Metas do movimento Todos pela Educação (TPE).

Com base em dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e da Prova Brasil de 2011, o TPE constatou a maior defasagem em matemática. No relatório divulgado em 2011, com dados de 2009, a porcentagem de estudantes com conhecimento adequado ao 3º ano do ensino médio era 11%, inferior à meta de 14,3%. Neste ano, no entanto, além da redução da porcentagem (10,3%), a diferença para a meta do período (2011) aumentou: é de quase 10 pontos percentuais (19,6%).

Em português, a meta foi cumprida no último relatório, 28,9% dos estudantes tinham o conhecimento adequado e a meta era de 26,3%. Nesse ano, também houve piora. A porcentagem de estudantes teve um leve aumento, 29,2%, mas não foi suficiente para cumprir a meta para o período, que era de 31,5%. 

Extraído de matérias da Agência Brasil
 

quinta-feira, 21 de março de 2013

O enigma da “nova classe média”

Ruy Braga

No primeiro semestre de 2012, a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE) aprovou a nova definição de “classe média” que orientará a criação das políticas públicas do governo federal para os próximos anos. Em suma, trata-se da simples determinação de algumas faixas de renda que localizam os novos grupos recém saídos do pauperismo em relação àqueles indivíduos extremamente pobres e em relação à chamada “classe alta”. Ao fim e ao cabo, para o governo federal, fariam parte da classe média brasileira todos aqueles que recebem uma renda mensal per capita entre R$ 291 e R$ 1.019,00, ou seja, aproximadamente, 54% da População Economicamente Ativa (PEA) do país. (Não deixa de ser curioso que um governo liderado pelo Partido dos Trabalhadores tenha apagado conceitualmente a classe “trabalhadora” de seus assuntos estratégicos. Mas este não é o problema aqui…)

Sobre a teoria das classes, diria que, se nada mais soubessem, ainda assim os sociólogos saberiam que um debate minimamente sério a este respeito não pode se limitar a uma única variável, ainda que seja a “renda”. Exatamente porque as classes sociais são relações sociais multidimensionais e construídas historicamente, qualquer determinação unilateral deste fenômeno fatalmente criará mais desentendimentos do que esclarecimentos. Neste caso específico, argumentarão os mais crentes, o interesse do governo não é investigar cientificamente a realidade brasileira, mas apenas racionalizar suas políticas públicas. Trata-se de qualificar e atender carências específicas daquela faixa da população em termos de qualificação e educação financeira. Ok. Neste caso, vejamos então a relação entre as classes pobre, média e alta.

O Dieese calcula que o salário mínimo necessário para o trabalhador suprir despesas elementares de uma família de 4 pessoas deveria ser de R$ 2.349,26. Agora, imaginemos que um hipotético casal auferindo renda mensal per capita de R$ 642,00 (ou seja, o limite inferior da classe média “alta”, conforme a definição da SAE) resolva ter um filho. O governo entende que este casal, ao sair da maternidade, simplesmente passou para a classe média “baixa”. Para o Dieese, no entanto, eles acabaram de decair para o pauperismo. O curioso é que um fenômeno semelhante acontece com a tal “classe alta” – segundo a definição do governo. Se um casal da classe alta resolve ter um filho, bem, digamos que ele estará a uma distância de apenas 1 sandwiche de mortadela e dois refrigerantes a mais por dia da linha da pobreza… Bem, digamos que, atualmente, isto é o mais perto que o petismo consegue chegar da expropriação da burguesia. Ou seja, desconfio que, em breve, a “classe alta” também vai precisar dos programas de educação financeira que o governo anda planejando para a nova classe média…

quarta-feira, 20 de março de 2013

Nos dez anos da invasão do Iraque: documentário "Razões para a Guerra"

Orquestra-se subida dos juros a partir de fictícias pressões inflacionárias

Por Guilherme C. Delgado

A última reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central manteve a taxa básica de juros em 7,25% ao ano, mas a orquestração do setor financeiro pela sua elevação continuou, em nome de presumidas pressões inflacionárias que a economia enfrentaria por todo o ano de 2013. Essas pressões para elevar juros se apresentam com base em dois argumentos distintos: 1) de que há tensões inflacionárias reais em perspectiva; 2) de que essas tensões devem ser combatidas pela elevação dos juros internos.

A primeira proposição tem certa dose de realidade, mas não se deduza daí que esta corrobora a segunda, como se verá pela argumentação subsequente.

terça-feira, 19 de março de 2013

Theodore Adorno: O Poder da Indústria Cultural

O poder magnético que sobre os homens exercem as ideologias, embora já se lhes tenham tornado decrépitas, explica-se, para lá da psicologia, pelo derrube objetivamente determinado da evidência lógica como tal. Chegou-se ao ponto em que a mentira soa como verdade, e a verdade como mentira. Cada expressão, cada notícia e cada pensamento estão preformados pelos centros da indústria cultural. O que não traz o vestígio familiar de tal preformação é, de antemão, indigno de crédito, e tanto mais quanto as instituições da opinião pública acompanham o que delas sai com mil dados factuais e com todas as provas de que a manipulação total pode dispor. A verdade que intenta opor-se não tem apenas o caráter de inverossímil, mas é, além disso, demasiado pobre para entrar em concorrência com o altamente concentrado aparelho da difusão.
 
Theodore Adorno, in "Minima Moralia"

segunda-feira, 18 de março de 2013

A Poesia de Agostinho Neto



Poema para todos

Para quê chorar
porque esperamos
que outros venham consolar?

Para quê querer uma ilusão
para apagar uma mentira?

o choro cansou o mundo
e a nós mesmo já causa tédio
e quando julgamos que o riso é choro
ele é riso simplesmente
porque já nem sabemos lamentar

Mas olha a tua volta
abre bem os olhos
-vês?

Aí está o mundo
construamos.



Novo rumo

Na alta noite dos caminhos
sem nome
o nosso nome é ritmo
o nosso destino é vida

O ritmo
dos passos incertos dum filho pródigo
que por herança teve azorragues
e se esbanjou em fé
em hesitações em amor
e regressa desiludido
mas ainda crente
procurando em si
o homem que perdeu

O destino
é a própria História
o Início
a Concordância

Somos o ritmo construtivo
do novo
na alta noite
dos caminhos sem nome.


Sinto na minha voz…

Sinto na minha voz as vozes duma multidão
No coração sinto um mundo
No meu braço um exército

A multidão calou
O mundo perdi-o
O exército foi vencido

Mas a multidão silente não morreu
O exército vencido não desapareceu
E no coração tenho a certeza

De que o amanhã
não será ilusão.


domingo, 17 de março de 2013

La Catedral obra prima de Agustin Barríos na interpretação magistral de John Williams


Assim os EUA tornam-se cada vez mais desiguais


Um vídeo impressionante revela como antigo país da “igualdade de oportunidades” está se transformando em nação de contrastes e segregações

Por Cynara Menezes, em seu blog Socialista Morena


Essa é para quem acredita na balela da “igualdade de oportunidades” do capitalismo. Nos EUA, o número de pobres vem crescendo de 2007 para cá. Em 2011 havia 200 mil famílias pobres a mais do que em 2010. Agora, 47,5 milhões de norte-americanos vivem em situação “análoga à pobreza”. O índice dos que vivem em “extrema pobreza” (com menos de 2 dólares por pessoa por dia) mais que dobrou nos últimos 15 anos e atualmente 1 em cada 15 americanos é considerado “muito pobre”.

O apartheid geográfico fica a cada dia mais intenso: na maioria das cidades, pobres e ricos estão separados por “boas” e “más” vizinhanças. A recessão empurra mais e mais americanos para as “vizinhanças ruins”. Hoje, 47 milhões de pessoas estão utilizando o programa do governo Food Stamp, que dá auxílio às pessoas de baixa renda ou sem renda para comprar comida.

Um vídeo que circula na internet tornou-se viral nos últimos dias ao mostrar a realidade sobre a desigualdade nos EUA. É simplesmente assustador para um país que sempre se gabou de ser a “terra das oportunidades”.



sábado, 16 de março de 2013

UM DESCASO DE DÉCADAS: Brasil tem a menor média de anos de estudos da América do Sul, diz Pnud


Adulto estuda em média 7,2 anos; MEC contesta e diz que média é 7,4. ONU divulgou dados do Índice de Desenvolvimento Humano nesta quinta.

A média de escolaridade no Brasil, um dos critérios educacionais que o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) leva em conta na elaboração do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), é de 7,2 anos, segundo dados divulgados nesta quinta-feira (14) pelo órgão. Ela permaneceu estagnada no Brasil entre 2011 e 2013. O número é o menor, ao lado do Suriname, entre os países da América do Sul (veja tabela abaixo).

O Ministério da Educação contesta os dados do órgão da ONU. Em nota, diz que os dados da pesquisa são defasados e que o IBGE de 2011 revelou que a média de escolaridade no país é de 7,4 anos. Se fosse considerado este índice, o Brasil ficaria à frente de Colômbia e Suriname na América do Sul. A maior média de escolaridade do mundo é dos Estados Unidos: 13,3 anos. Segundo o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, o governo brasileiro vai pedir à ONU a revisão dos dados.

Fonte: G1


sexta-feira, 15 de março de 2013

Jorge Mario Bergoglio, o novo Roncalli?

Angelo Giuseppe Roncalli, Papa João XXIII

Papável confiável, com experiência, decidido, daqueles que não tremem o pulso, "limpo" e com audácia para terminar a limpeza que Bento XVI não pôde ou não o deixaram fazer: o IOR, o Banco do Vaticano e a Cúria.

A reportagem é de José Manuel Vidal, publicada no sítio Religión Digital, 13-03-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Jovem, com boa saúde e reformador. Até agora, essas pareciam ser as premissas inevitáveis para começar a buscar o novo papa. Mas, no fim, a primeira condição parece ter perdido importância e ganhou pontos a tríade de reformador, mais velho e com poucos defeitos. Busca-se um novo Roncalli, papel que pode ser encarnado pelo novo papa, Francisco, o argentino Jorge Mario Bergoglio, arcebispo de Buenos Aires, que se assemelha em muitas coisas ao Papa Bom, menos na aparência.

Mais alto e menos gordo do que João XXIII, o papa platense não saiu nas loterias em torno dos papáveis. Mas, devido ao bloqueio entre o "partido romano" dos curiais e o "partido reformista" dos estrangeiros, especialmente norte-americanos e alemães, a opção pelo argentino parece ter se revelado providencial.

Leonardo Boff: O Papa Francisco, chamado a restaurar a Igreja




Por Leonardo Boff

Nas redes sociais havia anunciado que o futuro Papa iria se chamar Francisco. E não me enganei. Por que Francisco? Porque São Francisco começou sua conversão ao ouvir o Crucifixo da capelinha de São Damião lhe dizer: “Francisco, vai e restaura a minha casa; olhe que ela está em ruínas” (S. Boaventura, Legenda Maior II,1).

Francisco tomou ao pé da letra estas palavras e reconstruíu a igrejinha da Porciúncula que existe ainda em Assis dentro de uma imensa catedral. Depois entendeu que se tratava de algo espiritual: restaurar a “Igreja que Cristo resgatara com seu sangue” (op.cit). Foi então que começou seu movimento de renovação da Igreja que era presidida pelo Papa mais poderoso da história, Inocêncio III. Começou morando com os hansenianos e de braço com um deles ia pelos caminhos pregando o evangelho em língua popular e não em latim.

É bom que se saiba que Francisco nunca foi padre mas apenas leigo. Só no final da vida, quando os Papas proibiram que os leigos pregassem, aceitou ser diácono à condição de não receber nenhuma remuneração pelo cargo.

Por que o Card. Jorge Mario Bergoglio escolheu o nome de Francisco? A meu ver foi exatamente porque se deu conta de que a Igreja, está em ruínas pela desmoralização dos vários escândalos  que atingiram o que ela tinha de mais precioso: a moralidade e a credibilidade.

Francisco não é um nome. É um projeto de Igreja, pobre, simples, evangélica e destituída de todo o poder. É uma Igreja que anda pelos caminhos, junto com os últimos; que cria as primeiras comunidades de irmãos que rezam o breviário debaixo de árvores junto com os passarinhos. É uma Igreja ecológica que chama a todos os seres com a doce palavra de “irmãos e irmãs”. Francisco se mostrou obediente à Igreja dos Papas e, ao mesmo tempo, seguiu seu próprio caminho com o evangelho da pobreza na mão. Escreveu o então teólogo Joseph Ratzinger: “O não de Francisco àquele tipo de Igreja não poderia ser mais radical, é o que chamaríamos de protesto profético” (em Zeit Jesu, Herder 1970, 269). Ele não fala, simplesmente inaugura o novo.

Creio que o Papa Francisco tem em mente uma Igreja assim, fora dos palácios e dos símbolos do poder. Mostrou-o ao aparecer em público. Normalmente os Papas e Ratizinger principalmente punham sobre os ombros a mozeta aquela capinha, cheia de brocados e ouro que só os imperadores podiam usar. O Papa Francisco veio simplesmente vestido de branco e com a cruz de bispo. Três pontos são de ressaltar em sua fala e são de grande significação simbólica.

O primeiro: disse que quer “presidir na caridade”. Isso desde a Reforma e nos melhores teólogos do ecumenismo era cobrado. O Papa não deve presidir com como um monarca absoluto, revestido de poder sagrado como o prevê o direito canônico. Segundo Jesus, deve presidir no amor e fortalecer a fé dos irmãos e irmãs.

O segundo: deu centralidade ao Povo de Deus, tão realçada pelo Vaticano II e posta de lado pelos dois Papas anteriores em favor da Hierarquia. O Papa Francisco, humildemente, pede que o Povo de Deus reze por ele e o abençoe. Somente depois, ele abençoará o Povo de Deus. Isto significa: ele está ai para servir e não par ser servido. Pede que o ajudem a construir um caminho juntos. E clama por fraternidade para toda a humanidade onde os seres humanos não se reconhecem como irmãos e irmãs mas reféns dos mecanismos da economia.

Por fim, evitou toda a espetacularização da figura do Papa. Não estendeu os braços para saudar o povo. Ficou parado, imóvel, sério e sóbrio, diria, quase assustado. Apenas se via a figura branca que olhava com carinho para a multidão. Mas irradiava paz e confiança. Usou de humor falando sem uma retórica oficialista. Como um pastor fala aos seus fiéis.

Cabe por último ressaltar que é um Papa que vem do Grande Sul, onde estão os pobres da Terra e onde vivem 60% dos católicos. Com sua experiência de pastor, com uma nova visão das coisas, a partir de baixo, poderá reformar a Cúria, descentralizar a administração e conferir um rosto novo e crível à Igreja.

Leonardo Boff é autor de São Francisco de Assis: ternura e vigor, Vozes 1999.

Fonte: http://leonardoboff.wordpress.com