sexta-feira, 23 de setembro de 2011

POR UMA PALESTINA LIVRE

Oscarino Arantes

Obama está certíssimo ao afirmar que a paz não pode ser alcançada por resolução da ONU. Ninguém melhor do que o presidente norte-americano para saber disso. Segundo o receituário da Casa Branca, resoluções da ONU servem para fazer guerra, não a paz. Sérvia e Iraque descobriram isso tarde. Em cinco décadas, Israel descumpriu mais de duas dúzias de resoluções da ONU para se retirar dos territórios árabes ocupados e nada lhe aconteceu. Saddan Hussein descumpriu uma única resolução para sair do Kwuait e atraiu a “Desert Storm” sobre seu país.

Acontece que os palestinos não estão batendo à porta da ONU em busca da paz, mas de um Estado, Mr. Obama. Uma pretensão mais do que justa, com toque de sutil ironia: foi a ONU que criou o Estado de Israel. Agora, 63 anos depois, tem a mesma ONU a oportunidade de equilibrar um pouco a assimetria do conflito entre israelenses e palestinos.

Obama pede tempo e paciência aos palestinos. Para quê? Nada oferece. O tempo trabalha para Israel, que sempre adiou o desfecho de negociações para aumentar a colonização nos territórios ocupados e inviabilizar um futuro Estado Palestino. Tell Aviv usa a tática do “consumatum est” para ceder cada vez menos e obter cada vez mais, até o ponto (num futuro breve) de não ter que ceder mais nada.

A máquina de propaganda sionista insiste em rotular a iniciativa palestina na ONU como "unilateral". Seria então um estranho caso de unilateralismo, único na História, que postula formalmente perante o principal organismo multilateral do mundo. Sem dúvida inusitado. Importante lembrar que a resolução 181, aprovada pela ONU em 1947, já previa a criação de um Estado palestino na região, ao lado de Israel. Portanto não há novidade no pedido da Autoridade Palestina.

Não Mr. Obama, a paz não virá de negociações entre palestinos e israelenses. A paz virá de posições corajosas de outros países que desafiem Israel a alterar sua política egocêntrica e etnocida com relação aos palestinos. Como disse recentemente o primeiro ministro turco, Israel virou uma criança mimada. Uma criança sentada num arsenal nuclear, diga-se de passagem. Isso é uma verdade devido ao apoio cego e incondicional de Washington, refém do lobby judaico. Hoje, não se sabe mais quem é o Estado cliente, nessa relação doentia, quase simbiótica. Os EUA pagam um preço alto demais por sua “aliança” cega com Israel e não dão sinal de mudança, pelo que se viu dos últimos dias. Mas o tempo da impostura está acabando, como anunciam as vozes do levante árabe. Por isso o medo de isolamento diplomático que o governo sectário de Benjamin Netanyahu sente, pode ser a melhor chance nos últimos anos, para uma real mudança de perspectiva que destrave as negociações de paz. 

POESIA PALESTINA DE RESISTÊNCIA


Não iremos embora

Tawfic Zayyad*

Aqui
Sobre vossos peitos
Persistimos
Como uma muralha
Em vossas goelas
Como cacos de vidro
Imperturbáveis
E em vossos olhos
Como uma tempestade de fogo
Aqui
Sobre vossos peitos
Persistimos
Como uma muralha
Em lavar os pratos em vossas casas
Em encher os copos dos senhores
Em esfregar os ladrilhos das cozinhas pretas
Para arrancar
A comida de nossos filhos
De vossas presas azuis
Aqui sobre vossos peitos
Persistimos
Como uma muralha
Famintos
Nus
Provocadores
Declamando poemas
Somos os guardiões da sombra
Das laranjeiras e das oliveiras
Semeamos as idéias como o fermento na massa
Nossos nervos são de gelo
Mas nossos corações vomitam fogo
Quando tivermos sede
Espremeremos as pedras
E comeremos terra
Quando estivermos famintos
Mas não iremos embora
E não seremos avarentos com nosso sangue
Aqui
Temos um passado
E um presente
Aqui
Está nosso futuro

*Tawfic Zayyad, palestino de Nazaré, é considerado um pioneiro da poesia de resistência. A maior parte de sua obra foi escrita na prisão.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

O Oriente Médio nunca será o mesmo

Estado palestino não virá esta semana. Mas debate na ONU vai sacudir geopolítica da região, e superar décadas de subserviência


Por Robert Fisk

Os palestinos não conseguirão seu estado essa semana. Mas os palestinos provarão – se obtiverem votos suficientes na Assembleia Geral e se Mahmoud Abbas não sucumbir à sua subserviência característica ante o poder de EUA-Israel – que já fizeram por merecer ser estado. E estabelecerão para os árabes o que Israel gosta de chamar – enquanto amplia suas colônias em terra roubada – “fatos em campo”: nunca mais EUA e Israel estalarão os dedos e verão árabes bater continência perfilados. Os EUA perderam a aposta que fizeram para o Oriente Médio. Acabou: fim do “processo de paz”, do “mapa do caminho”, do “acordo de Oslo”. Esse fandango já é história.

Pessoalmente, acho que “Palestina” é estado-fantasia, já impossível, agora que Israel já roubou quase toda a terra dos árabes, para os projetos coloniais israelenses. Quem duvidar, que dê uma olhada na Cisjordânia. Colônias em massa, exclusivas para judeus, as daninhas restrições que impedem palestinos de construírem casas de mais de um piso, e a destruição, como castigo, do sistema de esgotos urbanos, os “cordões sanitários” ao lado da fronteira com a Jordânia, as estradas exclusivas para colonos israelenses, tudo isso converteu o mapa da Cisjordânia em pára-brisa esfacelado de carro detonado. Às vezes, suspeito que a única força que impede que haja ali a “Grande Israel” é a obstinação daqueles palestinos incansáveis.

Mas, agora, se fala afinal de temas maiores. Essa votação na ONU – na Assembléia Geral e no Conselho de Segurança; em certo sentido, nem faz diferença – dividirá o ocidente: EUA de um lado; árabes, de outro. Abrirá em fendas as divisões que há dentro da União Européia, entre europeus do leste e europeus do oeste; entre Alemanha e França (Alemanha apoiando Israel pelas razões históricas de sempre; a França atormentada pelo sofrimento dos palestinos). E, claro, será como cunha cravada entre Israel e a União Européia.

Décadas de poder, brutalidade e colonização, pelos militares israelenses; milhões de europeus, já conscientes da responsabilidade histórica que pesa sobre eles pelo holocausto de judeus e conhecedores da violência das nações muçulmanas, já não se deixam acovardar na crítica, por medo de serem ofendidos, acusados de antissemitismo. Há racismo no ocidente – e temo que sempre haverá – contra muçulmanos e africanos e judeus. Mas as colônias israelenses na Cisjordânia nas quais não podem viver árabes palestinos muçulmanos são o quê, além de expressão de racismo?

Israel sofre parte dessa tragédia, é claro. O insano governo israelense levou os israelenses por esse caminho de perdição, que se viu adequadamente sintetizado no medo que lhes causou a democracia na Tunísia e no Egito. O principal aliado de Israel é hoje a Arábia Saudita, o que é caso exemplar de toda essa insensatez. E a cruel recusa, por Israel, a desculpar-se pela matança de nove turcos, ano passado, em ataque contra a Flotilha da Paz em Gaza, e de cinco policiais egípcios durante incursão de palestinos em Israel.

Por tudo isso, adeus aos únicos aliados que Israel ainda tinha na região, Turquia e Egito, no curto espaço de 12 meses. No governo de Israel há hoje gente inteligente, potencialmente equilibrados, como Ehud Barak, e loucos, como o ministro dos Negócios Exteriores Avigdor Lieberman (…). Sarcasmos à parte, os israelenses merecem coisa melhor.

O estado de Israel talvez tenha sido criado por ato injusto – a Diáspora Palestina é prova disso – mas foi criado por ato legal. Os fundadores foram perfeitamente capazes de construir acordo com o rei Abdullah da Jordânia depois da guerra 1948-49 para dividir a Palestina entre judeus e árabes. Mas foi a ONU, que se reuniu para decidir o destino da Palestina dia 29/11/1947, quem deu a Israel sua legitimidade, com EUA como primeira nação a votar a favor de criar-se o estado de Israel. E agora – por uma suprema ironia da história –, Israel quer impedir que a ONU garanta legitimidade aos árabes palestinos e os EUA serão a primeira nação a votar contra essa legitimidade justa.

Israel não tem direito de existir? É a velha armadilha, estupidamente repetida pelos assim ditos “apoiadores de Israel”, também para mim, pessoalmente, muitas vezes repetida, embora, ultimamente, cada vez menos freqüentemente. Cabe aos estados – que não são seres humanos – assegurar a outros estados o direito de existir. Para que indivíduos façam a mesma coisa, é indispensável que considerem um mapa. Porque, afinal, onde, exatamente, geograficamente, fica Israel?

Israel é a única nação do planeta que não sabe e não diz onde está sua fronteira leste. Acompanha a velha linha do armistício da ONU, a fronteira de 1967, que Abbas tanto ama e Netanyahu tanto odeia? Exclui toda a Cisjordânia palestina menos as colônias exclusivas para israelenses… Ou exclui toda a Cisjordânia?

Mostrem-me mapa do Reino Unido que inclua Inglaterra, País de Gales, Escócia e Irlanda do Norte, e o Reino Unido tem direito de existir. Mas mostrem-me mapa do RU que pretenda incluir no RU os 26 condados da Irlanda independente e mostre que Dublin seria cidade britânica, não cidade irlandesa, e direi não: essa nação não tem direito de existir nessas fronteiras inchadas. No caso de Israel, aí está a razão pela qual quase todas as embaixadas ocidentais, inclusive as embaixadas dos EUA e da Grã-Bretanha, estão instaladas em Tell Aviv, não em Jerusalém.

No novo Oriente Médio, com o Despertar Árabe e a revolta de povos livres que exigem dignidade e liberdade, esse voto da ONU – aprovado pela Assembléia Geral, vetado pelos EUA se for para o Conselho de Segurança – constitui uma espécie de pino que faz girar tudo que a ele esteja ligado: vira-se aí uma página, e marca-se também o fracasso do império.

A política externa dos EUA tornou-se de tal modo presa a Israel, tão temerosos, tão assustadiços ante Israel tornaram-se quase todos os deputados, deputadas, senadores e senadoras dos EUA – a ponto de amarem mais Israel que os EUA –, que os EUA, essa semana, deixarão de ser a nação que gerou Woodrow Wilson e seus 14 princípios de autodeterminação, não o país que combateu o nazismo e o fascismo e o militarismo japonês, não o farol da liberdade que, como nos dizem, os seus Pais Fundadores representaram –, e se revelarão ao mundo como estado autista, intratável, acovardado, cujo presidente, depois de prometer novo afeto ao mundo muçulmano, é forçado a apoiar uma potência ocupante contra um povo que nada pede além do reconhecimento do estado independente ao qual tem perfeito direito.

Será o caso de dizer “pobre velho Obama”, como eu disse em outros tempos? Acho que não. Bom de retórica, vão, superficial, distribuindo fingido respeito em Istambul e no Cairo poucos meses depois de eleito, essa semana o mesmo Obama comprovará que a reeleição parece-lhe mais importante que o futuro do Oriente Médio; que sua ambição pessoal de continuar no poder supera, em importância, os sofrimentos de um povo que sobrevive sob ocupação. Nesse específico contexto, chega a ser bizarro que alguém que se apresenta como homem de tão altos princípios aja tão covardemente. Para o novo Oriente Médio, onde árabes exigem para eles os mesmos direitos e liberdades dos quais Israel e EUA dizem-se campeões, é tragédia profunda.

Na fonte de tudo estão os fracassos dos EUA, que não se ergueram para enfrentar Israel e que não insistiram em obter acordo de paz justo na “Palestina”, atrelados ao herói da guerra do Iraque, Blair. Os árabes também são responsáveis, por terem permitido que as ditaduras durassem tanto tempo, tentando conter dunas de areia com falsas fronteiras, velhos dogmas e petróleo (e que ninguém acredite que alguma “nova” “Palestina” seria um paraíso para seu próprio povo).

E Israel também é responsável, porque é dever de Israel acolher respeitosamente o pedido dos palestinos que requerem à ONU que reconheça o estado palestino e que cumpra todas as suas obrigações de garantir, com o reconhecimento, como de tantos outros estados-membros, segurança e paz também aos palestinos.

Mas nada disso acontecerá. O jogo está perdido. O poder político dos EUA no Oriente Médio essa semana será sacrificado aos pés de Israel. Servicinho vagabundo, esse, dos EUA, em nome da liberdade…

Fonte: Diário da Liberdade

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

A CRISE DO CAPITALISMO

É conjuntural, estrutural ou terminal?
Por Ronald Barata


Não há mais dúvida de que a crise econômico-financeira de 2007/8, não foi superada. Ela abrandou, com os vastos recursos que os governos dos países ricos socorreram instituições em risco. Reduziram as taxas de juros a quase zero, transferiram fábulas de dinheiros para bancos falidos e concederam isenções fiscais. Os Estados assumiram os títulos podres dos bancos privados e as dívidas privadas. Assim, a crise arrefeceu, mas agora entrou em fase de aceleração, enquanto a economia mundial desacelera, principalmente nos EUA e nos países europeus, que são o epicentro da crise. A causa principal é a transferência das riquezas para o setor financeiro e outros mega capitalistas, em detrimento dos setores produtivos. Mas o Brasil não está imune.

O mundo, além da crise econômico-financeira, sofre a crise da natureza, provocada pelos crimes ambientais.

É importante saber como está a situação da maior economia do mundo, os EUA, e dos demais países ricos.

A maior potência econômica e militar enfrenta graves problemas econômicos e políticos. O Império Ianque entrou em fase declinante, embora vá continuar sendo a nação mais poderosa, não se sabe por quanto tempo. Suas bases de poder estão sendo minadas, corroídas. Nos últimos quatro anos, o PIB dos EUA não cresceu, apenas voltou ao nível do primeiro trimestre/2007. Mas a população cresceu, significando que o PIB per capta diminuiu. As empresas não financeiras têm cerca de DOIS TRILHÕES DE DÓLARES aplicados em títulos do Tesouro americano, em vez de investirem, por não confiarem na superação da crise em curto ou médio prazo. O endividamento, que avolumou no governo Bush devido à redução de impostos para os ricos e às despesas com guerras, hoje atinge a R$ TREZE TRILHÕES DE DÓLARES e continua aumentando. As receitas caíram e o desemprego aumentou. Acentuam-se as desigualdades na distribuição de renda, a queda do consumo e nos investimentos. Tiram dinheiro dos projetos sociais para pagar “obrigações” com os ricos.

Obviamente, aumenta o descontentamento das populações prejudicadas.

A crise já atingiu, em cheio, toda a Europa, principalmente os dezessete países da Zona do Euro. E não apenas os mais pobres: Portugal, Irlanda e Grécia. Até a poderosa Alemanha enfrenta graves problemas sociais. Todos os países desenvolvidos também aumentaram brutalmente seus endividamentos para socorrerem os bancos e as grandes empresas em 2008. Chegaram ao esgotamento e agora não poderão prestar o mesmo grau de ajuda. Além do que, uma nova transferência de recursos para os bancos, acirrará a indignação popular.

A globalização tem permitido a desenfreada transferência das riquezas dos países emergentes ou pobres para as grandes potencias que manipulam os preços das mercadorias primárias, as chamadas commodities; exploração amenizada pelas pesadas compras da China, que incentivou o seu consumo interno.

O economista naturalizado estadunidense, Noriel Doubini, apelidado de “Senhor Catástrofe” quando previa, com alguns anos de antecedência, a crise de 2008, é hoje considerado um sábio; acertou até nos detalhes. Ele não é socialista; é adepto do capitalismo. Em artigo denominado “O capitalismo está condenado?”, ele afirma: “Marx estava certo quando disse que a globalização, a desenfreada intermediação financeira e a transferência da riqueza do trabalho para o capital podem levar o capitalismo à destruição”. A isso, deve-se agregar o esgotamento da Terra. O economista prevê recessão duradoura, com grande crise bancária sistêmica que levará os EUA a uma perda de créditos de mais de Us$ 2 trilhões. Uma situação sem saída. Entretanto, no final do artigo, indica providências que devem ser adotadas para superação, embora admitindo que serão muito difíceis de implementar.

O Prêmio Nobel de Economia em 2001, Joseph Stiglitz, estadunidense, afirma que a situação é tão grave que “uma estagnação prolongada é cenário otimista”. Diz que não sabe qual a pior, se a situação dos Estados Unidos ou da Europa, todos com taxa de crescimento de 1%. Afirma que o projeto de recuperação é confuso e quaisquer que sejam as medidas adotadas, as coisas vão piorar.

Edgard Dosman, economista canadense, diz que os países desenvolvidos terão que conviver com alto índice de desemprego durante muito tempo, pois será a maior estagnação desde a Depressão de 1929.

David Harvey, geógrafo e marxista, considerado um sábio, em seu trabalho “The Crises of Capitalism”, de 2010, mostra porque o capitalismo entrará em fase terminal.

Portanto, a crise já é uma realidade. Entre os economistas, há uma quase unanimidade: os países emergentes sofrerão menos. Explicam que isso se dará devido aos preços das commodities. Mas, embora o maior comprador do Brasil seja a China, os demais compradores são importantes. E, estando em recessão, reduzirão as compras. Mesmo porque, com tantos desempregados, o consumo interno se reduzirá.

As mobilizações populares em vários países evoluíram e já são verdadeiras insurreições. As causas das insatisfações são as mesmas entre os países árabes, a Espanha, o Reino Unido, Israel e outros: o desemprego e o trabalho precarizado, principalmente entre os jovens, e o aumento da desigualdade. Sem esquecer o Chile.

Para o capitalismo sobreviver, terá que superar gravíssimos problemas como estagnação, depressão, crises financeiras, insolvência de bancos e de governos, guerras comerciais e disputas cambiais. Tudo que leva à instabilidade social e política.

Mas é óbvio que os países capitalistas vão reagir. As medidas de caráter fiscal que vêm sendo adotadas para a redução de déficit, a contenção de gastos pelos governos e aperto para créditos, levam ao aumento do desemprego. Então...

Vão procurar uma saída, que tradicionalmente os EUA encontram promovendo guerras. Guerras para garantir acesso aos recursos naturais dos países periféricos. Há casos de guerras não declaradas: Vietnã e Rodesia. Mas sempre inventam motivos, como as armas químicas do Iraque, que não foram encontradas. Todavia, não basta ganhar a guerra, o que para as grandes potências é relativamente fácil; é preciso, principalmente, ocupar, o que não tem sido fácil. Após o Afeganistão, agora a Líbia, por ter ousado sair do sistema financeiro internacional e articulava a criação de moeda africana, que sobreporia, na região, ao dólar. Depois virá a Síria. Mas sabemos que o objetivo principal é o Iran. E, provavelmente, uma guerra generalizada na África e em parte da Ásia. Pretendem controlar todo o petróleo da região e acabar com as aspirações de soberania das nações.

Desde o governo Nixon (1971), os EUA deixaram de adotar o padrão ouro. Sua moeda não mais tem lastro. E, sendo o único país que pode emitir dólares, que não passam de simples papel pintado, com o qual paga suas compras, os outros países pagam a conta.

Mas há casos em que dispensam a guerra, que é melhor para eles. Exercem a cooptação. O Conselho de Relações Exteriores (Council on Foreign Relations), com sede em Nova York, dominado por banqueiros, tem agentes (“observadores”) infiltrados em quase todos os governos do mundo. Quase todos os presidentes dos EUA, republicanos ou democratas, eram quadros desse CFR.

NOSSO QUINTAL

O CFR elaborou relatório para o governo norte americano, com diretrizes para o Brasil, optando por cooptação. Manda apoiar a aspiração de membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, pois o Brasil já se mostrou dócil, atendendo os EUA, ao enviar tropas para o Haiti; assinou um Acordo Militar em 12/4/2010, não desenvolve suas forças armadas etc. Cita que somos estratégicos pela abundancia em recursos naturais, especialmente minérios (energia) e alimentos. E nos quer como aliados, em caso de guerra. Fala em barganhar vantagens em troca de recursos naturais. Já estão carregando o nosso nióbio e estão de olho no Pré-Sal. Têm interesse que nossas forças armadas sejam sucateadas, prometendo nos dar proteção em troca das mercadorias que precisam.

O Brasil está se tornando cada vez mais dependente dos capitais financeiros e das transnacionais. Para especulação, desfrutam de juros boníssimos, enquanto outras empresas preferem associar-se, em condições de comando, com supermercados, empreiteiras, órgãos da mídia, bancos e grandes propriedades de terra. No chamado agronegócio, pontificam as empresas transnacionais Bayer, Cargill, Monsanto, Bunge, Coca-Cola, Syngenta, Nestlé, ADM, Dreyfuss etc. E não produzem alimentos saudáveis

O agronegócio prioriza a produção em escala e acumula grandes extensões de terra, promovendo a monocultura por fazenda, isto é, um só produto por fazenda e ocupam cerca de 70% das terras cultivadas com soja, milho, gado e cana. Quase tudo para exportação. Grandemente automatizado, dispensa mão-de-obra, que migra para as cidades. Utiliza pesadas doses de agrotóxicos, que vão para nossos organismos. Cerca de 80% das exportações brasileiras, são de matérias primas agrícolas e de minerais, que superaram os produtos industrializados. Os movimentos de trabalhadores do campo, reunidos na Via Campesina, promovem campanhas para mudar o modelo agrícola, tentando sensibilizar governantes e a sociedade para exigir a produção de alimentos saudáveis, sem agrotóxicos, e diversidade de culturas.

Desde que Collor começou a nos inserir na globalização, nossos princípios de nacionalidade vêm se enfraquecendo. Até as esquerdas, ao chegarem ao poder, encantaram-se com as políticas neoliberais.

Tanto o governo passado, quanto o atual, têm como solução para a crise ajuste fiscal, cortes nos gastos públicos, desoneração da Folha de Pagamento, redução de salários e aposentadorias, mais privatização na saúde e educação, reformas trabalhista e previdenciária. Tudo que leva à estagnação econômica, com drásticas conseqüências.

O governo Lula, utilizou o discurso da governabilidade para formar uma base de apoio que não leva em conta princípios. Nem políticos, nem éticos. Criou uma coalizão baseada no clientelismo, no fisiologismo e na cooptação dos movimentos sociais. Nem os políticos nem os partidos da base, discutem políticas públicas. Funciona tudo na base de arrancar vantagens. Os partidos de esquerda, PT, PDT, PSB e PCdoB, ao juntarem-se aos tradicionais oligarcas, decepcionaram os militantes. O governo é decepcionante, tanto política como eticamente, mas não se pode esperar nada da oposição, defensora de interesses dos grupos internacionais.

Os partidos, tão desmoralizados quanto o movimento sindical e estudantil, atuam em função de alcançar posições que rendam vantagens para seu grupo.

Mas ainda há alguns nichos de esquerda que não se entregaram e resistem heroicamente. Entretanto, estão dispersos e desorganizados. E enfrentam a avassaladora atuação criminosa dos órgãos da mídia tradicional. Urge que se entendam. Que coloquem acima de divergências pontuais os interesses da nação, dos trabalhadores, das populações das periferias. E que resgatem nossa soberania.

Em setembro de 2011

RONALD BARATA

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

A matemática macabra do 11 de setembro

Por Marco Aurélio Weisheimer

O mundo se tornou um lugar mais seguro, dez anos depois dos atentados de 11 de setembro e da “guerra ao terror” promovida pelos Estados Unidos para se vingar do ataque? A resposta de Washington ao ataque contra o World Trade Center e o Pentágono engendrou duas novas guerras – no Iraque e no Afeganistão – e uma contabilidade macabra. Para vingar as mais de 2.900 vítimas do ataque, mais de 900 mil pessoas já teriam perdido suas vidas até hoje. Os números são do site Unknown News, que fornece uma estatística detalhada do número de mortos nas guerras nos dois países, distinguindo vítimas civis de militares. A organização Iraq Body Count, que usa uma metodologia diferente, tem uma estatística mais conservadora em relação ao Iraque: 111.937 civis mortos somente no Iraque.

Seja como for, a matemática da vingança é assustadora: para cada vítima do 11 de setembro, algumas dezenas (na estatística mais conservadora) ou centenas de pessoas perderam suas vidas. Em qualquer um dos casos, a reação aos atentados supera de longe a prática adotada pelo exército nazista nos territórios ocupados durante a Segunda Guerra Mundial: executar dez civis para cada soldado alemão morto. Na madrugada do dia 2 de maio, quando anunciou oficialmente que Osama Bin Laden tinha sido morto, no Paquistão, por um comando especial dos Estados Unidos, o presidente Barack Obama afirmou que a justiça tinha sido feita. O conceito de justiça aplicado aqui torna a Lei do Talião um instrumento conservadora. As palavras do presidente Obama foram as seguintes:

"Foi feita justiça. Nesta noite, tenho condições de dizer aos americanos e ao mundo que os Estados Unidos conduziram uma operação que matou Osama Bin Laden, o líder da Al Qaeda e terrorista responsável pelo assassinato de milhares de homens, mulheres e crianças."
O conceito de justiça usado por Obama autoriza, portanto, a que iraquianos e afegãos lancem ataques contra os responsáveis pelo assassinato de milhares de homens, mulheres e crianças. E provoquem outras milhares de mortes. E assim por diante até que não haja mais ninguém para ser morto. A superação da Lei do Talião, cabe lembrar, foi considerada um avanço civilizatório justamente por colocar um fim neste ciclo perpétuo de morte e vingança. A idéia é que a justiça tem que ser um pouco mais do que isso.

Mas a história dos dez anos do 11 de setembro não se resume a mortes, dores e sofrimentos. Há a história dos lucros também. Gordos lucros. Uma ótima crônica dessa história é o documentário “Iraque à venda. Os lucros da guerra”, de Robert Greenwald (2006), que mostra como a invasão do Iraque deu lugar à guerra mais privatizada da história: serviços de alimentação, escritório, lavanderia, transporte, segurança privada, engenharia, construção, logística, treinamento policial, vigilância aérea...a lista é longa. O segundo maior contingente de soldados, após as tropas do exército dos EUA, foi formado por 20 mil militares privados. Greenwald baseia-se nas investigações realizadas pelo deputado Henry Waxman que dirigiu uma Comissão de Investigação sobre o gasto público no Iraque.

Parte dessa história é bem conhecida. A Halliburton, ligada ao então vice-presidente Dick Cheney, recebeu cerca de US$ 13,6 bilhões para “trabalhos de reconstrução e apoio às tropas. A Parsons ganhou US$ 5,3 bilhões em sérvios de engenharia e construção. A Dyn Corp. faturou US$ 1,9 bilhões com o treinamento de policias. A Blackwater abocanhou US$ 21 milhões, somente com o serviço de segurança privada do então “pró-Cônsul” dos EUA no Iraque, Paul Bremer. Essa lista também é extensa e os números reais envolvidos nestes negócios até hoje não são bem conhecidos. A indústria da “reconstrução” do Iraque foi alimentada com muito sangue, de várias nacionalidades. Os soldados norte-americanos entraram com sua quota. Até 1° de setembro deste ano, o número de vítimas fatais entre os militares dos EUA é quase o dobro do de vítimas do 11 de setembro: 4.474. Somando os soldados mortos no Afeganistão, esse número chega a 6.200.

A matemática macabra envolvendo o 11 de setembro e os Estados Unidos manifesta-se mais uma vez quando voltamos a 1973, quando Washington apoiou ativamente o golpe militar que derrubou e assassinou o presidente do Chile, Salvador Allende. Em agosto deste ano, o governo chileno anunciou uma nova estatística de vítimas da ditadura do general Augusto Pinochet (1973-1990): entre vítimas de tortura, desaparecidos e mortos, 40 mil pessoas, 14 vezes mais do que o número de vítimas dos atentados de 11 de setembro de 2001. Relembrando as palavras do presidente Obama e seu peculiar conceito de justiça, os chilenos estariam autorizados a caçar e matar os responsáveis pelo assassinato de milhares de homens, mulheres e crianças.

Assim como no Iraque, nem tudo foi morte, dor e sofrimento na ditadura chilena. Com a chancela da Casa Branca e a inspiração do economista Milton Friedman e seus Chicago Boy’s, Pinochet garantiu gordos lucros para seus aliados e para si mesmo também. Investigadores internacionais revelaram, em 2004, que Pinochet movimentava, desde 1994, contas secretas em bancos do exterior no valor de até US$ 27 milhões. Segundo um relatório de uma comissão do Senado dos EUA, divulgado em 2005, Pinochet manteve elos profundos com organismos financeiros norte-americanos, como o Riggs Bank, uma instituição de Washington, além de outras oito que operavam nos EUA e em outros países. Segundo o mesmo relatório, o Riggs Bank e o Citigroup mantiveram laços com o ditador chileno durante duas décadas pelo menos. Pinochet, amigos e familiares mantiveram pelo menos US$ 9 milhões em contas secretas nestes bancos.

Em 2006, o general Manuel Contreras, que chefiou a Dina, polícia secreta chilena, durante a ditadura, acusou Pinochet e o filho deste, Marco Antonio, de envolvimento na produção clandestina de armas químicas e biológicas e no tráfico de cocaína. Segundo Contreras, boa parte da fortuna de Pinochet veio daí.

Liberdade, Justiça, Segurança: essas foram algumas das principais palavras que justificaram essas políticas. O modelo imposto por Pinochet no Chile era apontado como modelo para a América Latina. Os Estados Unidos seguem se apresentando como guardiões da liberdade e da democracia. E pessoas seguem sendo mortas diariamente no Iraque e no Afeganistão para saciar uma sede que há muito tempo deixou de ser de vingança.

*Artigo originalmente publicado na Carta Maior.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

11 de Setembro: Allende, nós também temos nossos heróis!

Por João Vicente Goulart


È bom que se recorde também neste 11 de setembro, a vergonhosa derrubada do governo democrático do Presidente Salvador Allende.

Hoje com os documentos desclassificados pelo Departamento de Estado Americano, vemos através do trabalho de Peter Kornbluh do National Security Archives, a enorme participação do governo americano, através da CIA e seus agentes operadores das “ações encobertas” (cover actions) na preparação clandestina para derrubar a democracia socialista, eleita de forma constitucional e só pertencente ao povo chileno que queria construir a justiça social, no destino imposto pelas urnas e que só aquele país pertencia.

Os relatórios, Ação Encoberta no Chile 1963-1973, da Comissão Designada para Estudar as Operações Governamentais Relativas a Atividades de Inteligência, do Senado dos Estados Unidos, conhecido como Relatório Church, de 1975; o Relatório Hinchey sobre as Atividades da CIA no Chile, de Setembro de 2000, são alguns que mostram a eficácia clandestina e a intromissão dos EEUU em golpear democracias no mundo ao bel prazer de seus interesses.

O processo sempre tem semelhanças com outras intervenções de golpes em outros países latinos americanos como Brasil e Argentina.

A metodologia segue passos dirigidos, hoje sabemos disso pelo comitê dos 40 capitaneados pelo vergonhoso Henry Kissinger.

Campanha de desestabilização através da mídia, difamação, mentiras produzidas, financiamento a opositores militares e civis, organizações sociais, e até assassinatos dirigidos a quem entendem ser contra interesses americanos, tudo é valido e clandestino.

Assim o fizeram assassinando o Gral. René Schneider, comandante chefe do Exército de Allende.

O financiamento da CIA aos projetos de Manuel Contreras desembocou na Operação Condor que levou inúmeras vidas á morte e ao desaparecimento forçado em toda a América Latina.

Existe nesses anais do NSA o documento secreto 890 de março de 1986, que mostra o financiamento da CIA ao AID (Agencia Internacional para El desarrollo) em mais de 11 milhões de dólares para fim específico da derrubada de Allende.

Allende no palácio La Moneda resiste
ao golpe militar de 11/09/1973.
O Golpe de Estado foi planeado pela CIA com colaboração da ITT desde 1971.

Já haviam dado o golpe militar no Brasil e contavam com o apoio maciço do General Médici para fazê-lo no Chile, no Uruguai e na Bolívia.

Existem sim atos terroristas no mundo e também temos a lamentar as vítimas inocentes do ataque ao World Trade Center nos EUA em 2001.

Mas temos que recordar que estas ações encobertas são produtos do terrorismo de Estado Norte Americano realizado contra muitas democracias legítimas em nosso continente.

Mas nós também temos nossos heróis!

Neste 11 de setembro nossa homenagem a eles, a Allende e aos anônimos chilenos que tombaram no caminho, pois suas lutas e suas mortes não serão esquecidas.

João Vicente Goulart
Diretor Presidente do Instituto João Goulart

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Reconhecimento na ONU: a cartada final dos palestinos

Por Luiz Eça  

“Se a solução dos dois Estados falhar, Israel enfrentará uma luta tipo União Sul-Africana. E, uma vez que isso aconteça, será o fim do Estado de Israel”. São palavras de Ehud Barak, quando primeiro-ministro israelense, em 2007.


Há 20 anos que, sob inspiração de presidentes americanos, se tenta chegar a um acordo para a criação de um Estado palestino ao lado do Estado de Israel. Não se andou nada devido à firme decisão dos vários governos israelenses de tornar impossível esse objetivo. Na última tentativa, patrocinada pelo presidente Obama, sequer se iniciaram as negociações de paz, boicotadas pela recusa de Israel em interromper mais uma vez, ainda que temporariamente, a implantação de novos assentamentos em terras árabes.

Diante desse fracasso e como já haviam renunciado à resistência armada, só restava aos palestinos uma última cartada: obter para si o reconhecimento internacional de um Estado independente e viável, dentro dos limites estabelecidos pela ONU desde 1967. É o que irão solicitar à Assembléia Geral da ONU, em setembro.

Isso é inaceitável pelo atual governo de Tel-aviv. Desde os Acordos de Paz de Oslo, em 1993, que lançou as bases para a negociação do futuro Estado palestino, Israel tem agido contra tal idéia, estimulando a criação de novos assentamentos em terras árabes. Dessa maneira, vem aumentando sem cessar a área ocupada na Cisjordânia e Jerusalém Oriental, expulsando os árabes das suas propriedades, num processo que se não for detido acabará por inviabilizar, de fato, a criação do Estado palestino.

Caso o reconhecimento da Palestina seja aprovado pela Assembléia Geral da ONU e o governo Israel persista em combatê-lo, ficará provada urbi et orbi sua oposição à idéia de dois Estados na Palestina. E as conseqüências, segundo o líder empresarial israelense Idan Ofer, serão pesadas: “Nós estamos nos tornando rapidamente uma União Sul-Africana. O impacto econômico das sanções será sentido por cada família em Israel”.

Em reunião com dirigentes dos maiores grupos econômicos de Israel, Dan Gillerman, ex-embaixador do país na ONU, repetiu Ehud Barak e Idan Ofer: “Na manhã depois do anúncio antecipado do reconhecimento do Estado palestino, um dramático e doloroso processo de sul-africanização começará.” Ou seja, Israel se tornaria um estado pária, sujeito a sanções internacionais, inclusive o boicote da importação de seus produtos. Seu caso seria levado à Corte Internacional de Justiça, o país poderia ser condenado, não só por violar leis internacionais, mas também por efetuar ações criminosas num Estado ocupado pela força, reconhecido pela ONU.

Como os empresários sul-africanos no passado, também os empresários israelenses atualmente pressionaram seu governo para entregar os pontos. Sugeriram que fosse aceito o Acordo de Genebra de 2003, no qual personalidades de alto nível israelenses e palestinas negociaram uma solução, dentro da idéia dos dois Estados, aprovada por estadistas de todo o mundo, porém, recusada por Israel. Mas a coligação de direita que está no poder prefere outro caminho. Com apoio dos Estados Unidos, tenta convencer, especialmente os países da Europa, a opor-se ao reconhecimento palestino.

Alega que isso representaria a “deslegitimação” de Israel. Argumento difícil de ser justificado. Na verdade, o que seria deslegitimado seria a ocupação ilegal pelos israelenses do território que pertence de direito aos árabes.

Como parte dessa campanha, Dennis Ross, enviado especial do governo Obama, apregoou que, se os árabes desistirem de pleitear o reconhecimento pela ONU, Netanyahu estaria disposto a renegociar um status final para a Palestina, em condições extremamente “generosas”. Afirmação de escassa credibilidade, considerando que até agora o governo do primeiro-ministro tem se comportado com extrema dureza em relação aos palestinos.

No velho estilo policial do “good cop, bad cop”, depois das belas palavras de Dennis Ross, vieram as ameaças do ultra-direitista ministro das Relações Exteriores, Avigdor Lieberman. Ele declarou que, caso as Nações Unidas reconhecessem o Estado da Palestina, Israel anularia os Acordos de Oslo. Em outras palavras: retomaria Gaza, tiraria os poderes da Autoridade Palestina, que deixaria de existir, e sepultaria de vez a solução dos dois Estados.

Susan Rice, embaixadora dos EUA na ONU, também entrou de sola, ameaçando com a retirada dos subsídios americanos à Autoridade Palestina (representam um quarto do orçamento).

Apesar das pressões americanas e israelenses, a reivindicação dos árabes tem todas as chances de vingar; 100 países já reconheceram o estado palestino. A França, o Reino Unido e outros países europeus elevaram a delegação geral palestina a “missões e embaixadas diplomáticas”, um status normalmente reservado aos países independentes. Na Assembléia Geral da ONU, a votação pró-Palestina deve ser esmagadora. Ainda no ano passado, uma resolução recomendando negociações de paz com volta aos limites de 1967 foi aprovada por 164 a 7. O mundo inteiro ficou de um lado e os EUA, Israel, a Austrália e algumas ilhotas da Oceania, do outro.

Não sabemos se esse placar se repetirá na votação do reconhecimento. O poder de pressão dos EUA é muito grande, possivelmente muitas nações cederão a ele e acompanharão a rejeição israelense. Antes de ser discutido pela Assembléia Geral da ONU, o caso deve passar pelo Conselho de Segurança. Aí, quem ficará numa saia justa será Barack Obama.

Se votar contra as aspirações palestinas, seu governo perderá de vez o prestígio que lhe resta em todo o mundo árabe. Governos aliados, especialmente a Arábia Saudita, com seu petróleo, e o Paquistão, com suas armas atômicas, ficarão em dificuldades diante dos seus povos para justificar a manutenção da amizade com os americanos.

Se votar pelo reconhecimento, terá contra si a maioria do Congresso americano e a maioria dos financiadores tradicionais do Partido Democrata, entre outros poderosos interesses. Fugir deste dilema é fundamental para Obama. Eis por que ele está fazendo de tudo para convencer Netanyahu a fazer logo uma proposta de paz realmente séria, capaz de convencer os palestinos a desistirem.

Luiz Eça é jornalista.
Fonte: Correio da Cidadania