sábado, 8 de janeiro de 2011

Dilma e o pós-Lula apesar de Lula

Oscarino Arantes 

Parece mesmo que o prefixo “ex” não é bem aceito por presidentes e participantes de reality shows. Ambos querem estender seus 15 minutos de fama. Por isso, começa o governo Dilma, como todos imaginavam, estendendo o final do governo Lula. De fato, o ex-presidente com seu patrimônio político-eleitoral, é uma personagem que reluta deixar o palco, como ele mesmo admitiu. Apesar disso, não se deve considerar o governo Dilma um 3º mandato de Lula, como sugerido pela propaganda do período eleitoral. Dilma tem suficiente personalidade para imprimir sua marca e não me parece o tipo que se deixa ficar à sombra. Aos poucos a tendência é que Dilma vai se impor, imprimindo o seu ritmo de trabalho, o que nos faz considerar que no máximo em 1 ano o seu ministério será reformulado. 

O sucesso do governo Dilma está nas mãos de Michel Temer. Ele é a figura chave do tabuleiro da governabilidade. Isso está claro. Só ele pode administrar a sanha do PMDB sem deixar Dilma refém de um PT desinibido no pós-Lula. Tudo dependerá de quanto o vice-presidente está disposto a renunciar de si – imolando seus vícios políticos e interesses partidários – pelo país, servindo de escada para Dilma fazer história. Sem isso a estranha costura de retalhos que dá sustentação ao governo Dilma pode se esgarçar rapidamente.

Encontrar um novo papel para Lula no pós-Lula será outro desafio. Para o bem do governo Dilma é imprescindível que a sombra do “ex”-presidente se afaste da órbita do poder. Um líder político com 85% de aprovação, que construiu sua carreira na oposição, fora do poder é um complicador que o insipiente governo não precisa. Esperar de Lula o papel de mediador, seja com o PT, seja com os movimentos sociais, será esvaziar o governo de capital político, o que numa democracia é fatal. Não há como construir governabilidade de fora pra dentro, principalmente pendendo a possibilidade de retorno de Lula. O pior cenário para Dilma é seu governo começar a ser visto como um mandato-tampão para a volta do “ex”. Poucas pessoas atentaram para esse complicador político: o que fazer com Lula no pós-Lula?