segunda-feira, 15 de julho de 2013

Os Bourbons brasileiros



Por Wladimir Pomar
  
A dinastia feudal dos Bourbons parece haver se tornado referência de vários articulistas que examinam a atual conjuntura brasileira e, também, norte-americana e europeia. Os Bourbons ficaram famosos na história principalmente por nunca esquecerem nada do que faziam contra eles e do que eles faziam contra os demais.

Eram capazes de se lembrar dos mínimos detalhes, e de se vingarem numa desproporção inusitada. Paralelamente, ficaram ainda mais famosos por não aprenderem nada com as lições da vida. Eram incapazes de extrair ensinamentos dos acontecimentos em que se envolviam, o que acabou por levá-los ao inevitável declínio, não sem deixarem de cometerem estragos diversos.

Algo parecido ocorre com o tucanato nativo. Eles não esquecem, nem perdoam, a oposição do PT e das forças democráticas e populares às privatizações das estatais e à privataria desbragada que promoveram durante essas privatizações. Não esquecem a oposição à abertura e à desregulamentação da economia brasileira, mas acham que a ação desenvolta das capitais financeiros internacionais, a quebradeira do parque produtivo nacional e a monopolização da economia brasileira foram decorrência de um processo inevitável de destruição criativa.

terça-feira, 9 de julho de 2013

A "presidenta" está nua


Por Mário Maestri

Desta vez, foram multidões, e não uma criança, que gritaram, impiedosas, o “rei está nu”, pondo fim às construções fantasmagóricas sobre o sucesso social do modo de governar petista. Conto da carochinha divulgado pela grande mídia no país e no mundo, já que celebrava o sucesso de administração convertida ao social-liberalismo. Apesar dos gritos populares crescentes sobre sua impudicícia, Dilma manteve-se quietinha, fazendo-se de morta, rezando para que acreditassem que a luta contra o aumento das passagens não lhe dizia respeito. 

As multidões desbordantes protestavam contra os aumentos dos transportes e os estádios faraônicos, apontando para a indecente degradação da saúde e da educação públicas. Muito logo, registraram em forma desorganizada a insatisfação com as condições gerais de existência, sobretudo nas grandes metrópoles. Rolaram pelo ralo das elucubrações marqueteiras as propostas do Brasil potência, país onde dominaria majoritariamente pujante nova classe média, que entrava garbosamente no mercado consumidor, arrancada da penúria pelos doze anos de reino petista.

A sustentação irresponsável da produção nacional por meio de consumo financiado, sem expansão substantiva do valor dos salários, tencionara a economia popular e o tecido metropolitano, atulhado de automóveis, com meios de transporte caros e deficientes e população trabalhadora enviada às periferias distantes. As populações urbanas levantavam-se contra a proposta social perversa de que pagassem o transporte, o colégio privado, o plano de saúde, a segurança e os cambaus, com seus magros salários, para a alegria de insaciáveis interesses privados. 

domingo, 7 de julho de 2013

Problemas no Paraíso: artigo de Slavoj Žižek sobre as manifestações que tomaram as ruas do Brasil



Por Slavoj Žižek
Tradução de Nathalia Gonzaga.

Em seus textos de juventude, Marx descreveu a situação alemã como aquela em que a solução de problemas particulares só era possível através da solução universal (revolução global radical). Ali reside a fórmula mais resumida da diferença entre um período reformista e um revolucionário: em um período reformista, a revolução global continua a ser um sonho que, na melhor das hipóteses, sustenta nossas tentativas para aprovar alterações locais – e, no pior dos casos, impede-nos de concretizar mudanças reais –, ao passo que uma situação revolucionária surge quando se torna claro que apenas uma mudança global radical pode resolver os problemas particulares. Nesse sentido puramente formal, 1990 foi um ano revolucionário: tornou-se claro que as reformas parciais dos Estados comunistas não seriam suficientes, que era necessário uma ruptura global radical para resolver até mesmo problemas parciais (fornecimento adequado de alimentos etc.).

Então onde é que estamos, hoje, em relação a essa diferença? Seriam os problemas e protestos dos últimos anos sinais de uma crise global que está gradual e inexoravelmente se aproximando, ou seriam estes apenas pequenos obstáculos que podem ser contidos, se não resolvidos, por meio de intervenções precisas e específicas? A característica mais estranha e ameaçadora sobre eles é que não estão explodindo apenas (ou principalmente) nos pontos fracos do sistema, mas também em lugares que eram até agora tidos como histórias de sucesso. Problemas no Inferno parecem compreensíveis – sabemos por que as pessoas estão protestando na Grécia ou na Espanha, mas por que é que há problemas no Paraíso, em países prósperos ou que, ao menos, passam por um período de rápido desenvolvimento, como a Turquia, a Suécia e o Brasil? Com uma retrospectiva, podemos agora ver que o “problema no Paraíso” original foi a revolução de Khomeini, no Irã, um país considerado oficialmente próspero, na via rápida da modernização pró-ocidental, e principal aliado do Ocidente na região. Talvez exista algo de errado com a nossa percepção de Paraíso.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Do 11 de setembro ao PRISM: a escalada de espionagem do governo norte-americano




Programa de grampos a dados de milhões de pessoas foi legalizado por George W. Bush e referendado por Barack Obama

Charles Nisz

Há exatos 64 anos, era lançado 1984, a mais famosa das obras do escritor britânico George Orwell. No livro, Orwell faz o retrato de um governo repressivo e totalitário, cujo poder está baseado no controle e na vigilância sobre os cidadãos. Muitos dos termos usados pelo autor entraram para a cultura popular – o mais famoso deles é justamente o “Grande Irmão”, responsável pela vigilância dos cidadãos no mundo criado por Orwell.

O vazamento de documentos sobre a espionagem feita pelo governo norte-americano a seus cidadãos por meio do programa PRISM suscitou muitas críticas a Barack Obama. Principalmente porque o governo dos EUA obrigou operadoras de telefonia e empresas de tecnologia como a Verizon, a Apple, o Yahoo, o Google e o Facebook a fornecerem dados sigilosos sobre seus usuários. É impossível não fazer o paralelo com o “Grande Irmão”.