terça-feira, 29 de abril de 2014

LAMENTÁVEL ENGANO - também havia muita corrupção no regime militar

"Não deve haver tolerância com corrupção, seja ela de farda, de terno, de macacão ou de saia."


Por Ronald Barata

Tem havido algumas manifestações pedindo a volta dos militares ao poder, para deter a corrupção. São pessoas assustadas (com muitas razões) com a corrupção nos governos civis eleitos. Esperam que os militares acabem com essa miserável prática, que não é somente dos políticos, pois os grandes empresários são os maiores corruptores. Aliás, não só os grandes.

O fantasma do anticomunismo, que alguns querem ressuscitar não cola, pois não nenhum partido comunista no governo. O PT, que não fez sequer uma reforma, já renunciou à sua aura de ético e de esquerda. Pela experiência que tive com os petistas no Movimento Sindical, posso afirmar que é um misto de organização política e criminosa. O PCdoB, de comunista tem apenas o nome e seu oportunismo e carreirismo já o colocou no limbo dos demais partidos fisiológicos.

A ética é a principal questão de princípio de uma organização de esquerda, o que não ocorre em nenhum partido da base governamental.  Não deve haver tolerância com corrupção, seja ela de farda, de terno, de macacão ou de saia.  Todas nós sabemos da corrupção em associações, sindicatos, ONGS, igrejas, condomínios residenciais. Abominável.

Porém, alguns aprendizes de udenismo, não devem ter conhecimento dos grandes golpes contra o erário nos governos da ditadura.

Não vou falar dos governos Collor, FHC, LULA e DILMA, cujo comportamento antiético já foi muito badalado. E deve ser cada vez mais mostrado. Mas, querer idear uma aura de probos, honestos, éticos aos governos da ditadura é, no mínimo, grande heresia. Gostam de se enganar apenas porque o principal pretexto alardeado para o golpe era o combate à corrupção e extirpar o comunismo. Era palavra de ordem, que perdurou durante toda a ditadura.

Mas era pura falácia, protegida pela férrea censura aos meios de comunicação, a entidades associativas e ao Parlamento. Jornalista que ousasse denunciar sofria graves consequências. Parlamentar que usasse a tribuna para isso, era sumariamente cassado, além de outras punições.

Os militares restringiam a visão de corrupção a um ato de desonestidade específica com o dinheiro público; prática de furtos motivada por vícios adquiridos na política. Expelindo os viciados, o problema estaria resolvido. Visão simplista, moralista.

Vejamos:

domingo, 27 de abril de 2014

JOÃO XXIII E O SERMÃO DA LUA

“A minha pessoa não conta: é um irmão que fala com vocês”


É, sem dúvida, o mais famoso e comovedor discurso de todo o pontificado de Angelo Roncalli. Entrou para a história como o “Sermão da Lua”: trata-se da saudação do papa João XXIII, na noite de quinta-feira, 11 de outubro de 1962, aos numerosíssimos fiéis e peregrinos que participaram da vigília organizada para a abertura do Concílio Vaticano II.

Hoje, cinquenta anos depois, transcrevemos esse discurso feito de palavras simples e sinceras, que não perderam nada da sua extraordinária autenticidade.
“Caros filhinhos, ouço as vossas vozes. A minha é apenas uma, mas condensa a voz do mundo inteiro. Todo o mundo está aqui representado.Parece que até a lua antecipou-se esta noite – observai-a no alto – para contemplar este espetáculo. É que encerramos uma grande jornada de paz. Sim, de paz: Glória a Deus e paz aos homens de boa vontade.A minha pessoa não conta para nada, quem vos fala é um irmão, que se tornou pai por vontade de Nosso Senhor, mas tudo junto – paternidade e fraternidade – é graça de Deus, tudo, tudo.Continuemos, pois, a amar-nos, a querer-nos bem, a querer-nos bem; olhando-nos mutuamente no encontro, recolhendo aquilo que nos une, deixando de lado qualquer coisa que nos possa criar dificuldade: nada. Fratres sumus .Esta manhã aconteceu um espetáculo que nem a basílica de São Pedro, que tem quatro séculos de história, alguma vez pôde contemplar.Honremos as impressões desta noite. Que os nossos sentimentos permaneçam sempre como agora os manifestamos diante do Céu e da terra. Fé, esperança, caridade, amor de Deus, amor de irmãos.E assim, todos juntos, mutuamente apoiados, na santa paz do Senhor, nas obras do bem.Quando regressardes a casa, encontrareis os vossos meninos. Fazei uma carícia às vossas crianças e dizei: «esta é a carícia do Papa». Encontrareis algumas lágrimas por enxugar, fazei alguma coisa… dizei uma boa palavra: «o Papa está conosco, especialmente nas horas de tristeza e de amargura».E assim, todos juntos, animemo-nos, cantando, suspirando, chorando, mas sempre, sempre cheios de confiança em Cristo que nos ajuda e nos escuta, para avançarmos e retomarmos o nosso caminho.E, agora, tende a gentileza de atender à bênção que vos dou e também ao boa-noite que me permito desejar-vos.”


Fonte: www.cmisericordia.com.br

sábado, 26 de abril de 2014

Pulitzer: um tapa na cara do Estado de vigilância

Maior prêmio jornalístico do mundo é concedido a reportagens baseadas em vazamentos de Edward Snowden — o homem que Washington persegue em toda parte


Por Patrick Martin, no World Socialist  | Tradução: Gabriela Leite

A Universidade de Colombia concedeu a honraria mais prestigiada do jornalismo, a medalha de ouro do Prêmio Pulitzer, aos jornais que publicaram artigos baseados em documentos vazados pelo ex-contratado pela Agência de Segurança Nacional dos EUA, Edward Snowden.

O Washington Post foi escolhido por artigos escritos por Barton Gellman e pela cineasta Laura Poitras, enquanto o britânico The Guardian, por textos de Glenn Greenwald, Ewan MacAskill e Pitras. Os quatro jornalistas fizeram amplo uso do material vazado por Snowden. Grenwald, Poitras e MacAskill encontraram-se com ele em Hong Kong em 2013, para iniciar o processo que expôs a espionagem ilegal e inconstitucional praticada pala Agência Nacional de Segurança (NSA) norte-americana.

A decisão da Universidade de Columbia é um tapa na cara do governo de Obama e dos aparatos de inteligência dos EUA e do Reino Unido. O governo norte-americano esta tentando extraditar Snowden para julgamento, prisão e possível execução como traidor. Tanto Washington quanto Londres ameaçaram e procuraram intimidar os jornalistas honrados pelos prêmios.

A medalha é oferecida “por um exemplo incomum de serviço público meritório, prestado por um jornal ou site de notícias.” Ao Washington Post, “por sua revelação de vigilância secreta generalizada pela Agência Nacional de Segurança, marcada por relatos competentes e perspicazes que ajudaram o público a entender como as revelações se encaixam no quadro geral da segurança nacional”; ao Guardian, “por sua revelação da espionagem secreta promovida pela NSA, que ajudou, através de reportagens ativas, a acender o debate sobre a relação entre o governo e o público, sobre questões de segurança e privacidade”.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

GIAP - Memórias Centenárias da Resistência



Vídeo de Silvio Tendler sobre o general vietnamita Vo Nguyen Giap, retraça importantes momentos de sua luta narrados pelo próprio general em depoimento gravado em 2003.

Para muitos, o maior general do século XX.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

DILMA NA TORCIDA PELO TIME DE FELIPÃO


Oscarino Arantes

A luz vermelha foi acesa no Palácio do Planalto e não é para menos. A última pesquisa do IBOPE indicou uma pequena queda nas intenções de voto em Dilma (de 40% em março para 37% em abril), que poderia ser considerada uma oscilação dentro da margem de erro. No entanto, os resultados causaram preocupação ao demonstrar uma consolidação de Aécio (de 13% para 14%) e de Campos (em 6%) no cenário de disputa eleitoral mais provável. 

A isso se soma outro dado inquietante divulgado pelo IBOPE: o percentual dos que desaprovam o governo Dilma, subiu de 43% em março para 48% agora, acompanhado de uma queda de 51% para 47% dos que aprovam sua gestão.

Por outro lado, pesquisa Datafolha revelou que 57% dos eleitores entrevistados já conhecem Dilma, mas só 17% conhecem Aécio Neves e apenas 8% Eduardo Campos. Noves fora nada, mesmo que ainda seja cedo para falarmos de uma tendência de queda, está claro que a candidatura de Dilma sofrerá com a limitação de seu horizonte eleitoral. O Nordeste continua sendo sua maior reserva de votos, mantida à custa dos programas sociais do governo, mas seu desempenho em outras regiões não traduz o panorama de 2006 e 2010.

Não há muito o que fazer a respeito, salvo reverter a onda de notícias negativas que atingem o governo desde o início do ano. Tarefa hercúlea para a senhora presidenta que em quatro anos nenhuma marca deixou e conseguiu a proeza de ser mais do menos. Um mero continuísmo inerte da era FHC-Lula. Sua inabilidade política e sua imobilidade tecnocrata pesam na balança. Fato é que a essa altura a Copa do Mundo entrou firme na equação pré-eleitoral e o time de Felipão ganhou reforço de torcida, enquanto Lula se aquece à beira do gramado.


terça-feira, 22 de abril de 2014

A VEZ DE DONETSK


Por Mauro Santayana

Manifestantes que ocupam, há dias, instalações públicas em Donetsk, na Ucrânia, proclamaram, unilateralmente, uma “República Popular”, na província em que se fala russo. E falam em convocar um referendo para sua anexação à Rússia, para o próximo dia 11 de maio, nos moldes do que foi feito na Crimeia no mês passado.

As autoridades policiais não resistiram nem tentaram conter os manifestantes.

Em outra cidade, Lugansk, manifestantes favoráveis à Rússia ocuparam a sede dos órgãos de segurança, e fizeram o chefe de polícia - que também não resistiu - libertar dezenas de prisioneiros favoráveis a Moscou que estavam detidos há alguns dias.

Em Kharkov, segunda maior cidade ucraniana, e centro industrial do país, houve enfrentamento entre habitantes de língua russa, que ocuparam a sede do governo local, e manifestantes fiéis ao golpe desfechado contra o Presidente Yanukovitch em março.

Embora as novas “autoridades” ucranianas estejam acusando o serviço secreto russo pelos tumultos, a verdade é que o apoio ao governo golpista é cada vez menor, e boa parte do território ucraniano é ocupado por habitantes de origem russa, que se recusam a se aproximar do Ocidente e se sentem ameaçados pelos golpistas de extrema direita que estão no poder em Kiev.

Eles viram que, ao contrário do que ocorreu na “libertação“ do Iraque, do Egito, da Líbia, do Afeganistão, pela OTAN, onde morreram - e continuam perdendo a vida - centenas de milhares de pessoas, a “russianização” da Crimeia foi feita em poucos dias, e quase sem violência.

O fato é que, assim como fez, em muitos outros lugares, supostamente em nome da “democracia”, o Ocidente desestruturou completamente uma Nação que se encontrava institucionalmente unificada, funcionava razoavelmente dentro da lei, com um Presidente eleito diretamente pela população, e aguardava pacificamente as próximas eleições, porque não queria que a Ucrânia “caísse” sob influência de Moscou. 

Como demonstra a situação em Donestk e em Kharkov, a influência russa na Ucrânia, do ponto de vista político, econômico, cultural, já existia, é muito maior do que se pensa na Europa e nos EUA, e permeia vastas regiões e milhões de habitantes, que se sentem russos.

A Rússia está em seus corações e mentes. Eles vivem, como russos, há séculos. E caso não haja um processo efetivo de federalização, é mais fácil que a Ucrânia se divida - a partir da fragmentação irresponsavelmente iniciada em Maidan - do que eles virem a se inclinar para o lado contrário, o dos golpistas neofascistas que tomaram o poder de assalto, em Kiev, há poucas semanas.


Fonte: www.maurosantayana.com


domingo, 20 de abril de 2014

Avestruz suicida

Preferimos esconder a cabeça para não ver os problemas

Por Cristovam Buarque

Vem desde os gregos a ideia de que o homem é um animal político. Os outros animais se movem por instinto, os homens pela conversa. Cada vez que três pessoas tentam decidir algo fazem política. Mas, olhando para os brasileiros de hoje, pode-se dizer que o político é um animal parecido ao avestruz. A exemplo desta ave há uma preferência por esconder a cabeça para não ver os problemas ao redor.

Nesse momento, o animal político brasileiro debate sobre fazer ou não uma CPI para apurar os desmandos na Petrobras. Os que não querem a CPI escondem as cabeças para não descobrir o que está acontecendo; os que desejam descobrir o que está ocorrendo na Petrobras não percebem o problema maior da crise energética que enfrentamos.

Diante da grave crise energética que se abaterá sobre o mundo inteiro, nas próximas décadas, os políticos se comportam como avestruz. Não despertam para os limites da disponibilidade de petróleo que se esgotará, esgotando também a Petrobras, qualquer que seja a competência e honestidade de sua direção depois de uma CPI séria. Nem despertam para o enorme potencial que temos para gerar energia a partir de novas fontes, tal como a energia solar, e ainda a relegada e criativa experiência do etanol.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Garcia Marquez, os latino-americanos e a Revolução Cubana


"Gabo" foi sempre solidário ao povo latino-americano e à Revolução Cubana, diz Fernando Morais, que foi amigo do escritor que despediu-se da vida nesta quinta-feira (17). O escritor brasileiro classificou como “lamentável” a morte de García Márquez, um "diplomata sem título".

“Gabriel García Márquez foi o intelectual mais comprometido da nossa época. Durante toda a sua vida foi um ativista político engajado com a América Latina, sempre solidário ao povo latino-americano e à Revolução Cubana”. Amigo íntimo do escritor colombiano, Fernando Morais conta detalhes de sua relação pessoal com o Nobel da Literatura de 1982. E classificou como “lamentável” a morte de Gabo, ocorrida nesta quinta-feira (17).

Para o escritor e jornalista brasileiro, o maior feito de García Márquez foi ter criado a Fundação do Novo Cinema Latino-Americano (FNCL), cuja missão era "unificar" o novo cinema da região. Neste ano, a Escola Internacional de Cinema e Televisão (EICTV) completa 25 anos com 744 graduados, procedentes de 18 países da Ásia, África e América Latina.

Gabo tinha fascínio pela sétima arte: "após escrever, o cinema é meu", dizia. Graças a uma parceria entre ambos, quando Morais foi Secretário de Cultura do Estado de São Paulo, entre 1988 e 1991, foi assinado um convênio com a Escola de Cinema de Cuba. “Nós pagávamos as bolsas dos estudantes e, em troca, eles enviavam ao Memorial da América Latina uma cópia do material que era produzido lá”, conta o escritor brasileiro.

Mas, nem tudo o que foi realizado pelo escritor é de conhecimento do público, ressalta. “Muitas das coisas que ele fez não foram registradas pela imprensa. Em mais de uma ocasião, ele soltou presos políticos cubanos”, revela.

Por seu intenso ativismo político, Gabo era considerado um diplomata sem título. Em 1998, seu amigo Fidel Castro lhe pediu que entregasse ao presidente Bill Clinton um relatório detalhado a respeito de atividades terroristas de anti-cubanos em Miami e assim foi feito durante uma entrevista na Casa Branca. Ambos os casos são relatados no livro Os Últimos Soldados da Guerra Fria, de Fernando Morais.

Dissipando a solidão

Questionado a respeito do momento em que se conheceram, Morais conta que foi em 1977, em Havana, quando estava na ilha caribenha para fazer uma entrevista para a capa da revista Veja com Fidel. “Eu fiquei dois meses trancado no hotel. Não podia sair porque Fidel poderia me chamar a qualquer momento. Então o Gabo ia até lá, a gente tomava rum, me consolava e ajudava a espantar a minha solidão”, relata.

Outra curiosidade da vida de ambos foi em 1982, quando o jornalista concorria à reeleição para o mandato de deputado federal. García Márquez enviou um telegrama com uma frase: “Se eu fosse brasileiro, votava em Fernando Morais para deputado federal”. O brasileiro, então, publicou um anúncio na Folha de S. Paulo dizendo: “Faça como Gabriel García Márquez, vote em Fernando Morais para acabar com os 20 anos de solidão”. E foi eleito. “A García Márquez, todo o ouro do mundo”, conclui Morais.

Fonte: Opera Mundi

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Adeus, Gabriel García Márquez...



"A idade não é a realidade salva no mundo físico.
A essência de um ser humano resiste ao passar do tempo.
As nossas vidas são eternas, o que significa que os nossos espíritos continuam a ser tão jovens e vigorosos como quando éramos jovens. Pensa no amor como um estado de graça... não é um meio para nada, mas sim o alfa e o ômega.
Um fim em si mesmo."


"É necessário abrir os olhos e perceber que as coisas boas estão dentro de nós, onde os sentimentos não precisam de motivos nem os desejos de razão. O importante é aproveitar o momento e aprender sua duração, pois a vida está nos olhos de quem saber ver."


Gabriel García Márquez


quarta-feira, 16 de abril de 2014

TRISTE, PATÉTICO, INSIPIENTE E INÓSPITO JUDICIÁRIO

Por MARCO ANTONIO VILLA


O Superior Tribunal de Justiça (STJ) é formado por 33 ministros. Foi criado pela Constituição de 1988. Poucos conhecem ou acompanham sua atuação, pois as atenções nacionais estão concentradas no Supremo Tribunal Federal. No site oficial está escrito que é o tribunal da cidadania. Será?

Um simples passeio pelo site permite obter algumas informações preocupantes.

O tribunal tem 160 veículos, dos quais 112 são automóveis e os restantes 48 são vans, furgões e ônibus. É difícil entender as razões de tantos veículos para um simples tribunal. Mais estranho é o número de funcionários. São 2.741 efetivos.

Muitos, é inegável. Mas o número total é maior ainda. Os terceirizados representam 1.018. Desta forma, um simples tribunal tem 3.759 funcionários, com a média aproximada de mais de uma centena de trabalhadores por ministro!! Mesmo assim, em um só contrato, sem licitação, foram destinados quase R$ 2 milhões para serviço de secretariado.

Não é por falta de recursos que os processos demoram tantos anos para serem julgados. Dinheiro sobra. Em 2010, a dotação orçamentária foi de R$ 940 milhões. O dinheiro foi mal gasto. Só para comunicação e divulgação institucional foram reservados R$ 11 milhões, para assistência médica a dotação foi de R$ 47 milhões e mais 45 milhões de auxílio-alimentação. Os funcionários devem viver com muita sede, pois foram destinados para compra de água mineral R$ 170 mil. E para reformar uma cozinha foram gastos R$ 114 mil. Em um acesso digno de Oswaldo Cruz, o STJ consumiu R$ 225 mil em vacinas. À conservação dos jardins — que, presumo, devem estar muito bem conservados — o tribunal reservou para um simples sistema de irrigação a módica quantia de R$ 286 mil.

Se o passeio pelos gastos do tribunal é aterrador, muito pior é o cenário quando analisamos a folha de pagamento. O STJ fala em transparência, porém não discrimina o nome dos ministros e funcionários e seus salários. Só é possível saber que um ministro ou um funcionário (sem o respectivo nome) recebeu em certo mês um determinado salário bruto. E só. Mesmo assim, vale muito a pena pesquisar as folhas de pagamento, mesmo que nem todas, deste ano, estejam disponibilizadas. A média salarial é muito alta. Entre centenas de funcionários efetivos é muito difícil encontrar algum que ganhe menos de 5 mil reais.

Mas o que chama principalmente a atenção, além dos salários, são os ganhos eventuais, denominação que o tribunal dá para o abono, indenização e antecipação das férias, a antecipação e a gratificação natalinas, pagamentos retroativos e serviço extraordinário e substituição. Ganhos rendosos. Em março deste ano um ministro recebeu, neste item, 169 mil reais. Infelizmente há outros dois que receberam quase que o triplo: um recebeu R$ 404 mil; e outro, R$ 435 mil. Este último, somando o salário e as vantagens pessoais, auferiu quase meio milhão de reais em apenas um mês! Os outros dois foram “menos aquinhoados”, um ficou com R$ 197 mil e o segundo, com 432 mil. A situação foi muito mais grave em setembro.

Neste mês, seis ministros receberam salários astronômicos: variando de R$ 190 mil a R$ 228 mil.

Os funcionários (assim como os ministros) acrescem ao salário (designado, estranhamente, como “remuneração paradigma”) também as “vantagens eventuais”, além das vantagens pessoais e outros auxílios (sem esquecer as diárias). Assim, não é incomum um funcionário receber R$ 21 mil, como foi o caso do assessor-chefe CJ-3, do ministro 19, os R$ 25,8 mil do assessor-chefe CJ-3 do ministro 22, ou, ainda, em setembro, o assessor chefe CJ-3 do do desembargador 1 recebeu R$ 39 mil (seria cômico se não fosse trágico: até parece identificação do seriado “Agente 86”).

Em meio a estes privilégios, o STJ deu outros péssimos exemplos. Em 2010, um ministro, Paulo Medina, foi acusado de vender sentenças judiciais. Foi condenado pelo CNJ. Imaginou-se que seria preso por ter violado a lei sob a proteção do Estado, o que é ignóbil. Não, nada disso. A pena foi a aposentadoria compulsória. Passou a receber R$ 25 mil. E que pode ser extensiva à viúva como pensão. Em outubro do mesmo ano, o presidente do STJ, Ari Pargendler, foi denunciado pelo estudante Marco Paulo dos Santos. O estudante, estagiário no STJ, estava num a fila de um caixa eletrônico da agência do Banco do Brasil existente naquele tribunal. Na frente dele estava o presidente do STJ. Pargendler, aos gritos, exigiu que o rapaz ficasse distante dele, quando já estava aguardando, como todos os outros clientes, na fila regulamentar. O presidente daquela Corte avançou em direção ao estudante, arrancou o seu crachá e gritou: “Sou presidente do STJ e você está demitido. Isso aqui acabou para você.” E cumpriu a ameaça. O estudante, que dependia do estágio — recebia R$ 750 —, foi sumariamente demitido.

Certamente o STJ vai argumentar que todos os gastos e privilégios são legais. E devem ser. Mas são imorais, dignos de uma república bufa. Os ministros deveriam ter vergonha de receber 30, 50 ou até 480 mil reais por mês. Na verdade devem achar que é uma intromissão indevida examinar seus gastos. Muitos, inclusive, podem até usar o seu poder legal para coagir os críticos. Triste Judiciário. Depois de tanta luta para o estabelecimento do estado de direito, acabou confundindo independência com a gastança irresponsável de recursos públicos, e autonomia com prepotência. Deixou de lado a razão da sua existência: fazer justiça.

MARCO ANTONIO VILLA é historiador e professor da Universidade Federal de São Carlos (SP).


Fonte: O Globo, 13/12/11

sexta-feira, 4 de abril de 2014

O GATO E A LEBRE – O MÉXICO É UM PAÍS POBRE E DESIGUAL

Por Mauro Santayana

A OCDE – Organização para o Comércio e o Desenvolvimento Econômico, divulgou um relatório, na última terça-feira, classificando o México e o Chile, ambos formalmente sócios da “Aliança do Pacífico”, como os dois países com maior desigualdade do grupo.

Até aí, nada a estranhar, a OCDE reúne países teoricamente desenvolvidos, que exibem dados sociais - remanescentes do período anterior à crise economia – melhores do que a da maioria dos países latino-americanos, mas eles tem se deteriorado rapidamente nos últimos anos.

A dívida explodiu entre os 34 membros da OCDE, principalmente os PIIGS (Portugal, Itália, Irlanda e Espanha). E o desemprego aumentou para um total de 48 milhões de pessoas, 15 milhões a mais do que em 2007, alcançando em alguns lugares, como a própria Espanha, taxas próximas a 30%.

O Chile – costumeiramente apresentado como um “milagre” latino-americano, que muitos atribuem a Pinochet – consegue ser ainda mais desigual que o México.

Mas o México perde para o Chile em renda. A sua é a menor da OCDE, e uma das mais baixas entre os países latino-americanos.

O país de Zapata, também cantado pela mídia como “exemplo” para o continente, tem, segundo estatística do FMI de 2012,  renda menor que a do Chile, Uruguai, Brasil, Argentina e Venezuela.

E o pior, no lugar de crescer, ela tem diminuído nos últimos três anos. Isso, considerando-se que o México não conta com uma legislação trabalhista ou uma rede de proteção social, ou programas de renda mínima, que possam garantir um mínimo de dignidade para a população.

Na nação dos tacos e da tequila – o que explica parte de seu “sucesso” manufatureiro na montagem e maquiagem, com peças de terceiros, de produtos destinados aos Estados Unidos - sequer existe seguro-desemprego.

Segundo a Organização Internacional do Trabalho, quase 60% dos empregos no México são informais, contra 28% na Argentina, 34% no Brasil, 45% na Colômbia, e 45% no Peru. E quatro em cada dez cidadãos mexicanos não conseguem dinheiro para pagar uma cesta básica a cada 30 dias.

Como faziam os meios de comunicação espanhóis, que achavam que a Espanha estava uma maravilha, quando na verdade, já estava sendo engolida pela crise, os jornais mexicanos se gabam do país ter entrado para o NAFTA, o acordo que os uniu, economicamente, ao Canadá e aos Estados Unidos, e de terem assinado, com outros países,  dezenas de acordos bilaterais de livre comércio.

Mas não falam dos déficits históricos em sua balança comercial, que sua renda per capita está praticamente estagnada há mais de duas décadas, e que seu poder de compra tem caído, no lugar de aumentar,   nos últimos anos.

O problema da fome, do abastecimento e da inflação de alimentos também é muito grave no membro mais pobre do NAFTA.

Muita gente acha que o Brasil tem que parar de mandar alimentos para a Venezuela, mas não sabe que o governo mexicano está ultimando a compra, em nosso país, em caráter emergencial, de 300.000 toneladas de frango, para impedir que o preço das proteínas exploda, e que falte comida nos supermercados.

Muitos mexicanos também acreditam na balela de que o México é grande exportador de manufaturas, enquanto o  Brasil só exporta commodities - esquecendo-se que somos o terceiro maior fabricante e vendedor global de aviões.

O fato de que sejamos o maior exportador mundial de suco de laranja, café, açúcar, carnes, - além de primeiro em minério de ferro e o segundo em etanol - e de que tenhamos triplicado nossa safra de grãos nos últimos 12 anos e estejamos a ponto de ultrapassar os EUA como o maior exportador de soja do mundo, só quer dizer uma coisa: soubemos dar mais valor à segurança alimentar do que outros países latino-americanos, e hoje temos comida para abastecer nossa mesa, e para vender para o resto do mundo.
  
Na hora de ler os jornais, ouvir o rádio, ou ver os noticiários de televisão, ao ouvir falar das ”reformas” e de supostos avanços mexicanos com relação ao Brasil - quando eles cresceram a metade do nosso PIB no último ano – é bom ficar com o pé atrás e colocar as barbas de molho.

Não podemos comer gato por lebre, e seguir os passos dos mexicanos, que venderam a alma ao diabo, ao se agregar – como pouco mais que escravos e camareiros – ao sistema econômico norte-americano.

Ao nos oferecer acordos semelhantes, como a UE está fazendo agora - e os EUA tentarão fazer logo em seguida – os países “ocidentais” não vão abrir seus mercados para nossas manufaturas – pelo contrário, eles têm reduzido suas compras e aumentado as vendas para cá nos últimos anos. Irão apenas tomar, implacavelmente, das nossas indústrias, o mercado sul-americano.


Fonte: www.maurosantayana.com.br