segunda-feira, 24 de junho de 2013

Os Novos Subversivos




Oscarino Arantes

A onda de protestos que se espalhou pelo Brasil, em poucos dias, pôs abaixo o mito da passividade do povo brasileiro, construído pela grande mídia a partir da estabilização da economia nos anos 90, então interessada em promover uma ‘governabilidade’ com política previsível e a tecnocracia na administração pública.

Mas a despeito de seu mérito, o que essa onda de protestos tem em amplitude falta-lhe em profundidade. Segue o senso comum das insatisfações pontuais da classe média, misturadas a um sentimento difuso de desconfiança do Estado e repúdio às instituições políticas. Daí o seu anti partidarismo atávico. Os partidos estão ligados ao modelo político vigente, visto como falido, mesmo os de esquerda, que hoje são associados ao governo federal.

Por isso, essa onda de manifestações se assemelha em muitos aspectos à uma revolta mais até do que a um movimento. Impossível negar a falta de credibilidade de nossas instituições, após décadas de escândalos e imposturas. Além da corrupção endêmica, o descaso e a omissão do poder público, muito contribuiu para a desconstrução do referencial de autoridade no Brasil. Em muitos sentidos a autoridade no Brasil está desmoralizada e, desta forma, o recurso à violência passa a ser sua principal expressão de poder. Há um desprestígio do Estado que não cumpre suas mais básicas obrigações, mas abriga todo tipo de desvios e privilégios. Como então cobrar do manifestante o respeito pelo patrimônio público?

Toda revolta popular se manifesta em atos de maior ou menor violência. Sempre que o aparato de repressão do Estado busca conter a expressão direta da soberania popular, choques violentos são esperados. Em qualquer parte do mundo é assim. Por isso, a pedra arremessada no confronto com a polícia, também é uma forma de expressão política, gostemos ou não. Os ataques às sedes e representações do poder constituído, também expressam a revolta crescente contra um poder público divorciado da sociedade. No nível de cinismo e falta de compromisso de nossos políticos e governantes, é impossível negar a força da mensagem enviada por esses ataques.

É preciso, portanto, distinguir os manifestantes que respondem à repressão violenta e entram em confronto com a polícia, dos saqueadores, que são criminosos e devem ser presos. Esses não atiram pedras, nem chamam a atenção da polícia. Não são manifestantes, apenas se aproveitam do tumulto causado para furtar. Também é preciso distinguir os atos de vandalismo contra o patrimônio público e privado, da depredação causada por manifestantes envolvidos no confronto com o aparato de repressão do Estado.

Devemos também considerar que uma manifestação de rua, aberta e ampla como as que estão ocorrendo no Brasil, possibilita a infiltração de todo tipo de indivíduo ou grupo com as mais diversas intenções. Mas não existe nenhuma “minoria radical” responsável pela violência nos protestos, como a mídia liberal enfatiza, buscando revolver os temores recônditos da classe média. Isso é claro, tem o propósito de desviar o foco dos protestos, dividindo os manifestantes e criando clima de 'caça as bruxas'. Além disso, como sempre, o fantasma da subversão serve ainda para justificar o aumento da repressão policial, que é a única resposta de um Estado fracassado, incapaz de compreender a mensagem que vem das ruas. Já vimos isso por aqui.

O governo cometerá um grande erro se decidir criminalizar esses confrontos, pois irá legitimar o aparelho policial repressor na escalada da violência e perderá a oportunidade de interlocução com parcela significativa da sociedade. Estamos a um passo da convulsão social e uma atitude impensada pode precipitar o pior. 

Nenhum comentário: