sexta-feira, 21 de junho de 2013

NÃO SUBESTIMEM A VOZ DAS BARRICADAS



Oscarino Arantes 

A onda de protestos que varre o país cresce na mesma medida da perplexidade de nossos governantes. O governo federal parece perdido, atônito, sem saber que resposta deve dar à uma sociedade em ebulição. O vício na política viciada imobilizou prefeitos, governadores e até a senhora presidente. A incapacidade de nossas instituições democráticas de lidar com a democracia real, ficou evidente nesses dias e muito contribui para a escalada da violência nos protestos de rua Brasil a fora. 

É preciso entender este movimento sem nome, que desafia os modelos tradicionais de análise e performance política. Mais do que apartidário, ele se revela anti partidário e aí reside sua principal incógnita. Que rumo irá tomar, se não há rumo a ser traçado? Nesse primeiro momento a novidade de seu surgimento possui tal força de mobilização que é capaz de compensar polissemia que lhe caracteriza. Com o tempo, contudo, decairá em suas plúrimas reivindicações como o Occupy ou, se conseguir radicalizar sua luta, definirá uma pauta reformista.

Desta forma, também precisamos compreender os manifestantes que buscam o confronto. Não subestimem a voz das barricadas, eis a lição da História. Nem todos que jogam pedras na polícia são “vândalos” ou “marginais”, como a mídia liberal se apressou em rotular. Também não são "radicais". Muitos apenas reagem à costumeira repressão policial. Não há como impedir os mais revoltados de participarem dos protestos, por isso mesmo precisamos de policiais preparados para agir com equilíbrio e preparo. Coisa que não temos.


O que vemos nas ruas é um processo de tomada de consciência do protagonismo político das massas. Erros fazem parte e até ajudam. A mensagem é clara: o povo não se sente representado por instituições tomadas por cínicos, vendidos e corruptos. Por isso que os atos de confronto se direcionam contra sedes do poder constituído. É revolta cadente. O manifestante que depreda uma sede de governo, não tem respeito pelo poder ou pelo patrimônio público porque não tem exemplos. Também não tem liderança, ideologia ou propósito. Expressa a sua revolta da mesma forma como ela lhe foi plantada – com violência. Afinal quanta violência o povo brasileiro já suportou calado?

Democracia é povo na rua, protesto, conflito. Pode ser pacífica sim, mas muitas vezes é luta, confronto, conflito. Democracia direta suja a mão, sangra, chora, sua, mas constrói. Democracia asséptica, consensual, negociada em mesa, é bazofia elitista, jogo de oligarquias, tão perigosa quanto o populismo despótico. O confronto nada mais é do que imaturidade de um povo não acostumado a ir às ruas protestar e uma polícia reacionária que não conhece os limites da lei. Mas os problemas da democracia devem ser resolvidos com mais democracia. Por isso é preciso radicalizar a democracia direta para que se crie a base de uma nova política.


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