Por Frei Marcos Sassatelli
Alguns fatos destes últimos tempos, amplamente divulgados
na Mídia, mostram, de maneira clara, o nível de degradação moral a que chegou a
prática política de muitos de nossos parlamentares, governantes e juízes.
O primeiro fato é a eleição do presidente do Senado e da
Câmara Federal. Que espetáculo deprimente! Renan Calheiros (PMDB-AL), que, em 4
de dezembro de 2007, renunciou à presidência do Senado para não ser cassado e é
acusado de corrupção, foi reeleito e reconduzido, no dia 2 de fevereiro, à
presidência do Senado, com o voto favorável da grande maioria dos senadores.
Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), que também é acusado de
corrupção, foi eleito, no dia 4 de fevereiro, presidente da Câmara dos
Deputados, com ampla maioria de votos. É uma prática política realmente
vergonhosa e repugnante.

Como exemplo - entre muitos outros que poderiam ser
citados -, basta lembrar as contínuas barganhas do ex-presidente Lula, que são
um jogo político interesseiro e imoral.
E agora pergunto: por que tanta preocupação em defender
“a inocência” de políticos, que foram condenados por corrupção pelo STF? Quem
não deve não teme! A desculpa é sempre a mesma: um complô da direita, que não
se conforma com a vitória do PT e faz de tudo para voltar ao poder. Pode até
ser verdade (e acredito que seja) que o grupo da direita tradicional queira
voltar ao poder, mas pergunto ainda: existe uma prática política mais de
direita do que a aliança com Sarney, com Maluf, com Renan e outros que foram
esteios da ditadura militar? Talvez seja a nova direita que briga por espaços
de poder com a antiga direita. Chega de hipocrisia! Ninguém aguenta mais!
Trata-se de verdadeira obsessão pelo poder a qualquer custo e a qualquer preço.
Tudo é permitido para alcançar, manter ou retomar o poder.
Outro fato, que é totalmente absurdo e que revela a
degradação moral da prática pública, é a oferta de brindes a magistrados. A
Associação Paulista de Magistrados (Apamagis), no dia primeiro de dezembro
passado, em festa para mais de mil pessoas, distribuiu para juízes estaduais
presentes (automóveis, cruzeiros, viagens internacionais e hospedagem em
resorts, com direito a acompanhante), oferecidos por empresas públicas e
privadas. Felizmente, ainda existem pessoas que condenam essa prática
degradante e imoral. Eliana Calmon, que já foi corregedora nacional de justiça,
afirma: “Saímos inteiramente dos padrões aceitáveis. Recompensa material de
empresas não está de acordo com a atuação do magistrado, um agente político.
Quem dá prêmio a juiz é o tribunal, quando merece promoção”.
Cláudio Weber Abramo, da ONG Transparência Brasil,
questiona: “Magistrados não podem se colocar na posição de devedores de favores
a empresas que podem vir a ser partes em processos que julgam. Esse tipo de
prática precisa ser coibido pelo CNJ, pois configura violação da vedação
fundamental de agentes públicos se colocarem em posição de conflito de
interesses” (Folha de S. Paulo, 10/12/12, p. A7).
Diante dessa realidade de corrupção - cheia de falcatruas
-, não podemos silenciar e nos omitir. Precisamos banir da vida pública, de uma
vez por todas, as pessoas corruptas, interesseiras e sem ética. Só fazendo
isso, abriremos caminhos novos para que uma outra prática política aconteça,
uma prática política realmente humana e ética, somente preocupada com o bem
comum. É uma utopia possível! Lutemos por ela!
Frei Marcos
Sassatelli, frade dominicano e doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral
(Assunção - SP), é professor aposentado de Filosofia da UFG. E-mail: mpsassatelli@uol.com.br
Fonte: Correio da Cidadania
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