quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

UMA IMPORTANTE LIÇÃO DE RUI BARBOSA




POLÍTICA E POLITICALHA

Ruy Barbosa

(05/11/1849 a 01/03/1923) 

“A política afina o espírito humano, educa os povos no conhecimento de si mesmos, desenvolve nos indivíduos as atividades, a coragem, a nobreza, a previsão, a energia, cria, apura, efetiva o crescimento.

Não é esse jogo da intriga, da inveja e da incapacidade, a que entre nós se deu a alcunha de politicagem. Esta palavra não traduz ainda todo o desprezo do objeto significado. Não há dúvida que rima bem com criadagem e parolagem, afilhadagem e ladroagem. Mas não tem o mesmo vigor de expressão que os seus consoantes. Quem lhe dará com o batismo adequado? Politiquice? Politiquismo? Politicaria? Politicalha? Neste último, sim, o sufixo pejorativo queima como um ferrete, e desperta ao ouvido uma consonância elucidativa.

Política e politicalha não se confundem, não se parecem, não se relacionam uma com a outra. Antes se negam, se expulsam, se excluem mutuamente.

A política é a arte de gerir o Estado, segundo princípios definidos, regras morais, leis escritas, ou tradições respeitáveis. A politicalha é a indústria de explorar o benefício de interesses pessoais. Constitui a política uma função, ou o conjunto de funções  do organismo nacional: é o exercício normal das forças de uma nação consciente e senhora de si mesma. A politicalha, pelo contrário, é o envenenamento crônico dos povos negligentes e viciosos pela contaminação de parasitas inexoráveis. A política é a higiene dos países moralmente sadios. A politicalha, a malária dos povos de moralidade estragada.” 

[Barbosa, Ruy. Apud Benjamin, J. Milton & Cadore, Luis Agostinho, Estudo dirgido de Português. São Paulo, Ática, l975]

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