sexta-feira, 23 de setembro de 2011

POR UMA PALESTINA LIVRE

Oscarino Arantes

Obama está certíssimo ao afirmar que a paz não pode ser alcançada por resolução da ONU. Ninguém melhor do que o presidente norte-americano para saber disso. Segundo o receituário da Casa Branca, resoluções da ONU servem para fazer guerra, não a paz. Sérvia e Iraque descobriram isso tarde. Em cinco décadas, Israel descumpriu mais de duas dúzias de resoluções da ONU para se retirar dos territórios árabes ocupados e nada lhe aconteceu. Saddan Hussein descumpriu uma única resolução para sair do Kwuait e atraiu a “Desert Storm” sobre seu país.

Acontece que os palestinos não estão batendo à porta da ONU em busca da paz, mas de um Estado, Mr. Obama. Uma pretensão mais do que justa, com toque de sutil ironia: foi a ONU que criou o Estado de Israel. Agora, 63 anos depois, tem a mesma ONU a oportunidade de equilibrar um pouco a assimetria do conflito entre israelenses e palestinos.

Obama pede tempo e paciência aos palestinos. Para quê? Nada oferece. O tempo trabalha para Israel, que sempre adiou o desfecho de negociações para aumentar a colonização nos territórios ocupados e inviabilizar um futuro Estado Palestino. Tell Aviv usa a tática do “consumatum est” para ceder cada vez menos e obter cada vez mais, até o ponto (num futuro breve) de não ter que ceder mais nada.

A máquina de propaganda sionista insiste em rotular a iniciativa palestina na ONU como "unilateral". Seria então um estranho caso de unilateralismo, único na História, que postula formalmente perante o principal organismo multilateral do mundo. Sem dúvida inusitado. Importante lembrar que a resolução 181, aprovada pela ONU em 1947, já previa a criação de um Estado palestino na região, ao lado de Israel. Portanto não há novidade no pedido da Autoridade Palestina.

Não Mr. Obama, a paz não virá de negociações entre palestinos e israelenses. A paz virá de posições corajosas de outros países que desafiem Israel a alterar sua política egocêntrica e etnocida com relação aos palestinos. Como disse recentemente o primeiro ministro turco, Israel virou uma criança mimada. Uma criança sentada num arsenal nuclear, diga-se de passagem. Isso é uma verdade devido ao apoio cego e incondicional de Washington, refém do lobby judaico. Hoje, não se sabe mais quem é o Estado cliente, nessa relação doentia, quase simbiótica. Os EUA pagam um preço alto demais por sua “aliança” cega com Israel e não dão sinal de mudança, pelo que se viu dos últimos dias. Mas o tempo da impostura está acabando, como anunciam as vozes do levante árabe. Por isso o medo de isolamento diplomático que o governo sectário de Benjamin Netanyahu sente, pode ser a melhor chance nos últimos anos, para uma real mudança de perspectiva que destrave as negociações de paz. 

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