sexta-feira, 16 de setembro de 2011

A CRISE DO CAPITALISMO

É conjuntural, estrutural ou terminal?
Por Ronald Barata


Não há mais dúvida de que a crise econômico-financeira de 2007/8, não foi superada. Ela abrandou, com os vastos recursos que os governos dos países ricos socorreram instituições em risco. Reduziram as taxas de juros a quase zero, transferiram fábulas de dinheiros para bancos falidos e concederam isenções fiscais. Os Estados assumiram os títulos podres dos bancos privados e as dívidas privadas. Assim, a crise arrefeceu, mas agora entrou em fase de aceleração, enquanto a economia mundial desacelera, principalmente nos EUA e nos países europeus, que são o epicentro da crise. A causa principal é a transferência das riquezas para o setor financeiro e outros mega capitalistas, em detrimento dos setores produtivos. Mas o Brasil não está imune.

O mundo, além da crise econômico-financeira, sofre a crise da natureza, provocada pelos crimes ambientais.

É importante saber como está a situação da maior economia do mundo, os EUA, e dos demais países ricos.

A maior potência econômica e militar enfrenta graves problemas econômicos e políticos. O Império Ianque entrou em fase declinante, embora vá continuar sendo a nação mais poderosa, não se sabe por quanto tempo. Suas bases de poder estão sendo minadas, corroídas. Nos últimos quatro anos, o PIB dos EUA não cresceu, apenas voltou ao nível do primeiro trimestre/2007. Mas a população cresceu, significando que o PIB per capta diminuiu. As empresas não financeiras têm cerca de DOIS TRILHÕES DE DÓLARES aplicados em títulos do Tesouro americano, em vez de investirem, por não confiarem na superação da crise em curto ou médio prazo. O endividamento, que avolumou no governo Bush devido à redução de impostos para os ricos e às despesas com guerras, hoje atinge a R$ TREZE TRILHÕES DE DÓLARES e continua aumentando. As receitas caíram e o desemprego aumentou. Acentuam-se as desigualdades na distribuição de renda, a queda do consumo e nos investimentos. Tiram dinheiro dos projetos sociais para pagar “obrigações” com os ricos.

Obviamente, aumenta o descontentamento das populações prejudicadas.

A crise já atingiu, em cheio, toda a Europa, principalmente os dezessete países da Zona do Euro. E não apenas os mais pobres: Portugal, Irlanda e Grécia. Até a poderosa Alemanha enfrenta graves problemas sociais. Todos os países desenvolvidos também aumentaram brutalmente seus endividamentos para socorrerem os bancos e as grandes empresas em 2008. Chegaram ao esgotamento e agora não poderão prestar o mesmo grau de ajuda. Além do que, uma nova transferência de recursos para os bancos, acirrará a indignação popular.

A globalização tem permitido a desenfreada transferência das riquezas dos países emergentes ou pobres para as grandes potencias que manipulam os preços das mercadorias primárias, as chamadas commodities; exploração amenizada pelas pesadas compras da China, que incentivou o seu consumo interno.

O economista naturalizado estadunidense, Noriel Doubini, apelidado de “Senhor Catástrofe” quando previa, com alguns anos de antecedência, a crise de 2008, é hoje considerado um sábio; acertou até nos detalhes. Ele não é socialista; é adepto do capitalismo. Em artigo denominado “O capitalismo está condenado?”, ele afirma: “Marx estava certo quando disse que a globalização, a desenfreada intermediação financeira e a transferência da riqueza do trabalho para o capital podem levar o capitalismo à destruição”. A isso, deve-se agregar o esgotamento da Terra. O economista prevê recessão duradoura, com grande crise bancária sistêmica que levará os EUA a uma perda de créditos de mais de Us$ 2 trilhões. Uma situação sem saída. Entretanto, no final do artigo, indica providências que devem ser adotadas para superação, embora admitindo que serão muito difíceis de implementar.

O Prêmio Nobel de Economia em 2001, Joseph Stiglitz, estadunidense, afirma que a situação é tão grave que “uma estagnação prolongada é cenário otimista”. Diz que não sabe qual a pior, se a situação dos Estados Unidos ou da Europa, todos com taxa de crescimento de 1%. Afirma que o projeto de recuperação é confuso e quaisquer que sejam as medidas adotadas, as coisas vão piorar.

Edgard Dosman, economista canadense, diz que os países desenvolvidos terão que conviver com alto índice de desemprego durante muito tempo, pois será a maior estagnação desde a Depressão de 1929.

David Harvey, geógrafo e marxista, considerado um sábio, em seu trabalho “The Crises of Capitalism”, de 2010, mostra porque o capitalismo entrará em fase terminal.

Portanto, a crise já é uma realidade. Entre os economistas, há uma quase unanimidade: os países emergentes sofrerão menos. Explicam que isso se dará devido aos preços das commodities. Mas, embora o maior comprador do Brasil seja a China, os demais compradores são importantes. E, estando em recessão, reduzirão as compras. Mesmo porque, com tantos desempregados, o consumo interno se reduzirá.

As mobilizações populares em vários países evoluíram e já são verdadeiras insurreições. As causas das insatisfações são as mesmas entre os países árabes, a Espanha, o Reino Unido, Israel e outros: o desemprego e o trabalho precarizado, principalmente entre os jovens, e o aumento da desigualdade. Sem esquecer o Chile.

Para o capitalismo sobreviver, terá que superar gravíssimos problemas como estagnação, depressão, crises financeiras, insolvência de bancos e de governos, guerras comerciais e disputas cambiais. Tudo que leva à instabilidade social e política.

Mas é óbvio que os países capitalistas vão reagir. As medidas de caráter fiscal que vêm sendo adotadas para a redução de déficit, a contenção de gastos pelos governos e aperto para créditos, levam ao aumento do desemprego. Então...

Vão procurar uma saída, que tradicionalmente os EUA encontram promovendo guerras. Guerras para garantir acesso aos recursos naturais dos países periféricos. Há casos de guerras não declaradas: Vietnã e Rodesia. Mas sempre inventam motivos, como as armas químicas do Iraque, que não foram encontradas. Todavia, não basta ganhar a guerra, o que para as grandes potências é relativamente fácil; é preciso, principalmente, ocupar, o que não tem sido fácil. Após o Afeganistão, agora a Líbia, por ter ousado sair do sistema financeiro internacional e articulava a criação de moeda africana, que sobreporia, na região, ao dólar. Depois virá a Síria. Mas sabemos que o objetivo principal é o Iran. E, provavelmente, uma guerra generalizada na África e em parte da Ásia. Pretendem controlar todo o petróleo da região e acabar com as aspirações de soberania das nações.

Desde o governo Nixon (1971), os EUA deixaram de adotar o padrão ouro. Sua moeda não mais tem lastro. E, sendo o único país que pode emitir dólares, que não passam de simples papel pintado, com o qual paga suas compras, os outros países pagam a conta.

Mas há casos em que dispensam a guerra, que é melhor para eles. Exercem a cooptação. O Conselho de Relações Exteriores (Council on Foreign Relations), com sede em Nova York, dominado por banqueiros, tem agentes (“observadores”) infiltrados em quase todos os governos do mundo. Quase todos os presidentes dos EUA, republicanos ou democratas, eram quadros desse CFR.

NOSSO QUINTAL

O CFR elaborou relatório para o governo norte americano, com diretrizes para o Brasil, optando por cooptação. Manda apoiar a aspiração de membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, pois o Brasil já se mostrou dócil, atendendo os EUA, ao enviar tropas para o Haiti; assinou um Acordo Militar em 12/4/2010, não desenvolve suas forças armadas etc. Cita que somos estratégicos pela abundancia em recursos naturais, especialmente minérios (energia) e alimentos. E nos quer como aliados, em caso de guerra. Fala em barganhar vantagens em troca de recursos naturais. Já estão carregando o nosso nióbio e estão de olho no Pré-Sal. Têm interesse que nossas forças armadas sejam sucateadas, prometendo nos dar proteção em troca das mercadorias que precisam.

O Brasil está se tornando cada vez mais dependente dos capitais financeiros e das transnacionais. Para especulação, desfrutam de juros boníssimos, enquanto outras empresas preferem associar-se, em condições de comando, com supermercados, empreiteiras, órgãos da mídia, bancos e grandes propriedades de terra. No chamado agronegócio, pontificam as empresas transnacionais Bayer, Cargill, Monsanto, Bunge, Coca-Cola, Syngenta, Nestlé, ADM, Dreyfuss etc. E não produzem alimentos saudáveis

O agronegócio prioriza a produção em escala e acumula grandes extensões de terra, promovendo a monocultura por fazenda, isto é, um só produto por fazenda e ocupam cerca de 70% das terras cultivadas com soja, milho, gado e cana. Quase tudo para exportação. Grandemente automatizado, dispensa mão-de-obra, que migra para as cidades. Utiliza pesadas doses de agrotóxicos, que vão para nossos organismos. Cerca de 80% das exportações brasileiras, são de matérias primas agrícolas e de minerais, que superaram os produtos industrializados. Os movimentos de trabalhadores do campo, reunidos na Via Campesina, promovem campanhas para mudar o modelo agrícola, tentando sensibilizar governantes e a sociedade para exigir a produção de alimentos saudáveis, sem agrotóxicos, e diversidade de culturas.

Desde que Collor começou a nos inserir na globalização, nossos princípios de nacionalidade vêm se enfraquecendo. Até as esquerdas, ao chegarem ao poder, encantaram-se com as políticas neoliberais.

Tanto o governo passado, quanto o atual, têm como solução para a crise ajuste fiscal, cortes nos gastos públicos, desoneração da Folha de Pagamento, redução de salários e aposentadorias, mais privatização na saúde e educação, reformas trabalhista e previdenciária. Tudo que leva à estagnação econômica, com drásticas conseqüências.

O governo Lula, utilizou o discurso da governabilidade para formar uma base de apoio que não leva em conta princípios. Nem políticos, nem éticos. Criou uma coalizão baseada no clientelismo, no fisiologismo e na cooptação dos movimentos sociais. Nem os políticos nem os partidos da base, discutem políticas públicas. Funciona tudo na base de arrancar vantagens. Os partidos de esquerda, PT, PDT, PSB e PCdoB, ao juntarem-se aos tradicionais oligarcas, decepcionaram os militantes. O governo é decepcionante, tanto política como eticamente, mas não se pode esperar nada da oposição, defensora de interesses dos grupos internacionais.

Os partidos, tão desmoralizados quanto o movimento sindical e estudantil, atuam em função de alcançar posições que rendam vantagens para seu grupo.

Mas ainda há alguns nichos de esquerda que não se entregaram e resistem heroicamente. Entretanto, estão dispersos e desorganizados. E enfrentam a avassaladora atuação criminosa dos órgãos da mídia tradicional. Urge que se entendam. Que coloquem acima de divergências pontuais os interesses da nação, dos trabalhadores, das populações das periferias. E que resgatem nossa soberania.

Em setembro de 2011

RONALD BARATA

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