sábado, 18 de dezembro de 2010

Desconfie do óbvio: WikiLeaks pode estar sendo usado para a maior campanha de contra-informação pela CIA?

Quanto tempo você acredita que levaria para a internet ser usada desta maneira?

Depois de algumas semanas sendo revelados pela imprensa o conteúdo dos "arquivos secretos" divulgados pelo WikiLeaks, uma incomoda sensação de obviedade passou a martelar minha cabeça. Há algo de muito óbvio, muito "clean" nesses arquivos. Os EUA que surge supostamente desvelado em seus reconditos expedientes de poder, não é o império aético-facínora que por interesse econômico impôs a guerra e devastação ao povo iraquiano. Surpreendentemente, é quase ético. Vemos nesses documentos um traço significativo de "soft power", do tipo que Obama se propôs a inaugurar. O problema é que muitos desses documentos demandam questões ainda da era Bush e aí  fica evidente o serviço de limpeza, que já induz uma releitura da história recente. Há uma dose latente de frustração ainda não assumida por muitos críticos da geopolítica americana.

Uma possibilidade que considero cada vez mais plausível é que o WikiLeaks pode estar sendo usado para contra-informação por Washington. Algumas verdades habilmente contextualizadas com diversas mentiras, deixadas à vista para um providencial vazamento, seria um enredo perfeito, não? A contra-informação é uma atividade intensa na geopolítica, não se engane. E é evidente que a manipulação da verdade se torna muito mais producente quando parece uma revelação casual, ou melhor, uma contrariedade 'desvendada' por terceiros (inocentes úteis), nos quais havia sido cudadosamente 'plantada'.

Até os pequenos constrangimentos diplomáticos causados, me parecem danos colaterais devidamente calculados. Que melhor para superar desconfianças profundas com aliados, do que uma súbita e inesperada (?) transparência. Algo que mostrasse um traço de fragilidade humana na pax americana. Para isso uma gigantesca campanha de contra-informação seria necessário e nada mais eficiente do que a internet. Obama conheceu o poder da internet. em sua campanha. O WikiLeaks pode estar sendo usado na maior campanha de contra-informação da história.

Oscarino Arantes


WikiLeaks: ataque cibernético de Israel/Washington

Heinz Dieterich 

Além das agressões concretas, a "Operação WikiLeaks" prepara o controle ideológico estrito sobre a internet e os portais progressistas.
Os serviços secretos de Israel e a CIA conseguiram outra grande vitória em sua guerra cibernética. Depois de danificar as centrífugas do programa nuclear iraniano (Natanz) mediante um software maligno (Stuxnet), conseguiram utilizar o WikiLeaks e Julian Assange como vetor (portador) de agressão cibernética em grande escala, contra seus "inimigos". O método é o usual da guerra informática: mesclar documentos verdadeiros, mas triviais, com as falsificações que servem como mísseis teledirigidos contra os verdadeiros alvos. 

A autoria dessa agressão cibernética se esclarece com o axioma da criminalística Cui bono, vale dizer, "A quem beneficia o crime?" O padrão dos documentos proporciona a resposta: a Israel, Washington e ao imperialismo ocidental em geral, incluídos seus satélites mercantis-feudais árabes. Prejudica grosseiramente, com suas mentiras, a uma série de alvos particulares, como: Irã, que supostamente é odiado pelo mundo árabe. China, que supostamente aceita o futuro domínio estadunidense sobre a Coreia do Norte; Brasil, cujo Ministro da Defesa, Nelson Jobim, seria informante de Washington; Bolívia, cujo presidente, Evo Morales, teria um grande "tumor" na cabeça; e a Venezuela bolivariana, que seria refúgio do ETA e das FARC, igualmente Cuba. Além das agressões concretas, a "Operação WikiLeaks" prepara o controle ideológico estrito sobre a internet e os portais progressistas. Um mundo fundamentalmente antidemocrático, como o capitalista-burguês atual, não pode permitir o livre fluxo de informação e debates na internet. Declarar o WikiLeaks uma organização terrorista e matar ou prender Julian Assange, como solicitaram importantes setores da classe política estadunidense, seria um grande passo adiante na Gleichschaltung hitleriana (uniformização mental) que os amos do sistema requerem ante a crise capitalista global. Outros portais, como http://www.kaosenlared.net/ e http://www.aporrea.org/, apareciam no index librorum (lista negra) por apologia da violência e antissemitismo.

A autoria do delito israelense-estadunidense cibernético não só se revela ante o princípio cui bono do Direito Romano, mas também ante a absurda pretensão logística, de que um jovem soldado homossexual, Bradley Manning, da 10ª Divisão de Montaña dos Estados Unidos, estacionado em uma remota base militar no Iraque (FOB Hammer), pode selecionar, copiar e reenviar 260.000 documentos classificados (!!). Se Manning pudesse fazer isto, deixaria Bill Gates como um mero aprendiz de computação.

A obstrução das centrífugas nucleares do Irã em 2010, em Natanz, seguiu o exemplo de uma exitosa operação da CIA contra um gasoduto da União Soviética, nos anos oitenta, levado a cabo sob o comando de William Casey. Quando a CIA se inteirou que Moscou ia comprar ou piratear um sofisticado software canadense para as bombas, turbinas e válvulas do novo gasoduto da Sibéria, não bloqueou sua venda, mas injetou, em conspiração com a empresa canadense, uma bomba lógica, um malware (Trojan horse) no software, que alterava os parâmetros de velocidade e pressão no sistema, fazendo-o explodir em 1982.

A operação contra o centro nuclear iraniano de Natanz segue esse mesmo modelo. Os serviços ocidentais infiltraram as redes de compra do Irã para o novo reator e injetaram no software das centrífugas o verme eletrônico "Stuxnet", desenvolvido sob todas as luzes pela Inteligência Militar israelense. Igualmente ao "Cavalo de Tróia" de 1982, o Stuxnet faz flutuar as velocidades e pressões das centrífugas, as quais, atuando em cadeia, destroem-se. Calcula-se que a capacidade operativa das centrífugas em Natanz se reduziu em 30% pelo ataque informático.

O modo de operação da CIA e da Mossad abarca três passos: a) Necessitam informação preliminar sobre os planos do "inimigo". No caso do WikiLeaks, Adrian Lamo, um hacker com quem Manning correspondia, informou ao FBI. b) Sobre essa informação, decidem de que forma atuar. No caso da URSS, de Natanz e do WikiLeaks, resolveram não bloquear de frente a operação planejada, mas aproveitá-la para uma operação cibernética própria de contra-inteligência. c) Os grandes meios de doutrinação burguesa e os governos respectivos manipulam os eventos criados por eles, durante longo tempo. Nesse sentido, os documentos do WikiLeaks serão como o segundo computador de Raúl Reyes. Uma fonte inesgotável de guerra psicológica contra os adversários do Império.

As operações cibernéticas e de desinformação são só um aspecto dos projetos de desestabilização dos Estados Unidos e Israel, como demonstra seu exitoso programa de assassinatos de cientistas nucleares iranianos. A Venezuela, com sua extensa rede de gasoduto e oleodutos, cujo software é parcialmente operado a partir de satélites, com sua monoestrutura elétrica, com a fragilidade de seu Metrô, com suas fronteiras selvagens e marítimas abertas e uma forte quinta coluna adentro, tem que se preparar muito bem para neutralizar a investida que Washington e Tel Aviv tem preparada para o país de Bolívar.

(Traduzido para o Diário Liberdade por Lucas Morais) 

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