domingo, 5 de junho de 2011

Os bombeiros e a Praça Tahrir: heróis de ontem, presos de hoje...

Oscarino Arantes

Cairo, Egito: manifestantes da Praça Tahrir desafiaram um presidente e conseguiram vencer, derrubando seu governo. Rio de Janeiro, Brasil: bombeiros reivindicam uma justa melhoria salarial e terminam presos. E qual dos dois episódios se passou numa democracia? Perguntando assim, fica difícil não pensar que no Egito os manifestantes enfrentaram uma ditadura de 30 anos. Sim, mas não enfrentaram o BOPE. Foi aqui, em pleno Estado Democrático de Direito que os valorosos integrantes do Corpo de Bombeiros foram defrontados com a “Tropa de Elite”. Salvadores de vida versus ‘caveiras’, um pesadelo só possível no idílico cenário de nossa prosaica política. Sérgio Cabral mostrou mais uma vez que, infelizmente, só sabe governar com a Globo de um lado e o BOPE do outro, num arranjo de traço fascista, diga-se de passagem.

A reivindicação salarial dos bombeiros é mais do que justa. O CB do Rio de Janeiro é o mais antigo do país (1856) e o mais bem preparado, pois enfrenta os mais diversos tipos de missões: deslizamentos de encostas, resgate em florestas, salva-mar, etc. No entanto recebem o menor salário do país. É indefensável a atitude do governo do Estado de não atender a reivindicação salarial. O único culpado pela ocupação do QG do CBERJ pelos manifestantes é o governador Sérgio Cabral que há meses mantém-se intransigente, não aceitando negociar. A escalada do movimento para ações mais marcantes era mesmo previsível.

Quem deveria responder, até criminalmente por improbidade administrativa contra os princípios da administração pública, é o governador Cabral. Sua omissão neste caso foi gravíssima e sua intemperança precipitou os fatos lamentáveis deste sábado. Haveria tempo suficiente para negociar a saída pacífica dos bombeiros do QG, em plena luz do dia, sem ameaças ou pedido de “rendição”. Profissionais que acostumamos a aplaudir e nos orgulhar, tratados como “vândalos” e marginais. Heróis que já nos emocionaram, rendidos com mãos na cabeça. Uma rebelião do bem sufocada pela força da intransigência de mais um tiranete, “déspota-eleito”, que acha que governar é pairar acima da lei, caso típico de nossa democracia. Mas para quem mandou o batalhão de choque atirar contra professores em frente à ALERJ em 2009, não há novidade. 
 
De instrumento de política de segurança a PM está sendo usada como instrumento de segurança da política, mais do que nunca ficou evidente neste caso. A reeleição fácil, a ampla maioria assegurada na Assembléia Legislativa, a cumplicidade da cúpula do Judiciário e uma oposição insossa fez o governador Sérgio Cabral se expôr demais nesse episódio, o que pode levar seu governo, que pelo menos na mídia até aqui não sofria contestações, a ser questionado a nível ideológico. Quem diria que ainda temos muito a aprender com os manifestantes da Praça Tahrir. A pergunta agora é: que resposta a sociedade civil organizada dará ao caso?
 
 

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