terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Trinta dias de Dilma

Oscarino Arantes

Algum desavisado, ou mal intencionado, poderia dizer que Dilma como presidente continua uma boa ministra. Estaria enganado. Trinta dias é pouco tempo para avaliar qualquer administrador, principalmente um chefe de estado e governo. Mas a primeira impressão colhida nessas semanas iniciais é positiva. Dilma deu uma nova cadência ao Planalto. Na tragédia da Serra, não hesitou em se expor e conhecer in locco a extensão do problema, se limitando a fazer e prometer o possível. A fanfarronice já nos parece coisa do passado. Só o fato de não termos a quase onipresença da imagem do presidente nos diversos noticiários (do futebol à coluna social), já é uma grande vantagem.

A rigor, politicamente o governo começa agora, com a posse do novo Congresso e a repartição dos cargos do 2º escalão. É a partir de agora que começa a correr o relógio para Dilma provar sua capacidade de liderança política, justamente sua debilidade mais aparente. Se em seis meses não conseguir estabelecer uma agenda de governo, vai confirmar as piores previsões e dificilmente conseguirá pautar reformas ou mesmo conduzir programas significativos. Sua base política entraria na zona do “salve-se quem puder”, pois a partir de agosto, o legislativo começa a respirar os ares da eleição municipal de 2012, que vale prefeituras com orçamentos das obras da Copa do Mundo e “cartas no baralho” para a eleição geral de 2014.

Por ora, o governo Dilma completou o seu primeiro mês com seu début nas relações externas. A escolha da Argentina para a primeira viagem internacional, aponta o compromisso com a estratégica relação de Estado, traçada na criação do Mercosul nos anos 80 e, de certo modo, consolidada no governo Lula. A diminuição do tom na política externa parece ser a novidade bem vinda do novo governo, que despido do perfil boquirroto chauvinista do ex-presidente, tende a retomar a tradição consagrada do Itamarati de atuar de forma cautelosa e eficiente nos mais movediços terrenos. No horizonte, Obama já anunciou sua visita para março e, certamente, traz na bagagem a pauta represada pela falta de empatia com “The Guy”. Nela, com certeza, o lobby dos caças F-18/A, os biocombustíveis, as reservas do pré-sal, a guerra cambial, a segurança hemisférica, a tríplice fronteira, o Irã, etc. e etc. A pauta sem dúvida será extensa. Mas será a partir daí que começará pra valer a política externa do governo Dilma. Por enquanto, é só ensaio.

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