terça-feira, 18 de maio de 2010

O Brasil enredado na fábula do pensamento único

Testemunhamos no Brasil de hoje o que chamo de fábula do pensamento único. Produzimos uma democracia mergulhada num perigoso consensualismo político-pragmático, viciada no clientelismo, onde não há espaço para o dissenso. Uma anestesia lenta como veneno, que entorpece e paralisa o pensamento crítico, corroendo o processo político. Esse talvez venha ser o pior legado do governo Lula, quando puder ser analisado à distância no tempo.
Sem dúvida que nossa democracia empobreceu nos últimos anos com a completa falta de debate e confrontações de idéias. Quando Lula assumiu seu primeiro mandato, avaliei que o maior risco era o seu governo não ter oposição e isso, infelizmente, se confirmou. O governo PT incorporou rapidamente quadros do governo PSDB, sem qualquer constrangimento ou contradição com suas idéias, principalmente no comando da política econômica. Isso porque desde os anos do governo FHC, foi urdido nos bastidores de nossa mal fadada política uma falsa polarização entre PT e PSDB, com o intuito de delimitar o pluralismo partidário, em favor de uma hegemonia ideopolítica que pouco se difere e não se contradiz em seu discurso tecnocrata. Esvaziando os rompantes retóricos, qual a diferença significativa entre o PT e o PSDB no governo? Sem dúvida que momentos diferentes, produziram problemas diferente e, com isso, prioridades diferentes. Porém no essencial, as similitudes e afinidades superaram em muito as poucas divergências.
A despeito das regras que impedem a campanha antecipada, basta abrir qualquer jornal para vermos que as campanhas dos dois principais candidatos já estão a pleno vapor. Sem querer fazer qualquer trocadilho, mas a distância entre o discurso de Dilma e Serra, dificilmente caberia uma Marina. Isso pode parecer saudável para os senhores do mercado sem-lei e seus investidores sem-face. Mas a História ensina que uma democracia dificilmente sobrevive sem espaço real para o dissenso, a não ser como farsa.
O pluralismo de uma sociedade moderna, dinâmica e multicultural, exige a mais ampla confrontação de idéias e o múltiplo protagonismo dos mais diversos matizes. Sem dúvida que a democracia formal não é um valor absoluto, nem a forma constitucional de um Estado Democrático de Direito assegura por si só, uma democracia substancial. É preciso fomentar o senso crítico para confrontar as verdades estabelecidas e reproduzidas em torno do poder. Só assim evitaremos a degeneração da democracia em demagogia, possibilidade que Aristóteles advertiu há 2.400 anos. Porém hoje, no perigoso declive da monocromia ideopolítica o Brasil está mergulhando, refém da retórica do continuísmo do “seguir no caminho”, seja lá onde isso for nos levar.

Um comentário:

Unknown disse...

Sensacional!
Seguiremos em frente...esse é o caminho.

ACREDITE!!!!

Sua irmã