segunda-feira, 17 de maio de 2010

Acordo Nuclear com Irã adia, mas não altera a intenção dos EUA de impor sanções

O anunciado acordo com o Irã sobre a questão nuclear, longe do ufanismo lulista, deve ser analisado pela ótica do ceticismo demonstrado pelas chancelarias das chamadas potências ocidentais. É óbvio que Lula pisou no pé do gigante do Norte. A Casa Branca muito a contragosto, por ver um aliado seu envolvido diretamente (no caso, a Turquia), usou da habitual polidez diplomática (coisa nova em tempos de Obama) ao saldar esse acordo como um passo, sob graves ressalvas. O distanciamento é evidente. Não há nenhuma boa-vontade na política externa do atual governo americano, apenas uma mudança de retórica e tática: em vez de atirar primeiro e perguntar depois, pergunta-se primeiro e atira-se depois. Os objetivos estratégicos permanecem os mesmos da era Bush, apenas mais matizados por uma tonalidade multilateral. Apenas os interesses americanos movem a política externa da América, nada mais. E os interesses continuam os mesmos, pautados pelo controle militar das grandes reservas energéticas do planeta. E o Irã, com seu presidente boquirroto, suas gigantescas reservas de petróleo e posição estratégica no Oriente Médio, é hoje um perfeito aspirante ao papel do “Império do Mal”. Pouco importa se tem ou não a intenção de criar armas nucleares. Basta a hipótese, por mais improvável que seja para a gigantesca máquina de propaganda de Tio Sam produzir uma “certeza”. Foi assim com o Iraque, que a Casa Branca jurava possuir ADMs (Armas de Destruição em Massa). No final, vimos que a única ADM que havia no Iraque, era o criminoso bloqueio econômico imposto ao país, que ceifou a vida de centenas de milhares de crianças iraquianas, segundo dados da ONU. As sanções foram usadas para debilitar a capacidade de resistência interna contra a invasão, desde o início pretendida pelos americanos. Mas acontece que no Iraque o tiro saiu pela culatra, afinal os falcões de Bush não primavam pelo intelecto. A derrubada do regime sunita de Saddan Hussein e a “promoção da democracia” alçaram ao poder a maioria xiita do Iraque, altamente afinada com o regime xiita da República Islâmica do Irã. Por tudo isso, o Irã virou a bola-da-vez, ou melhor, o “Império do Mal” do momento e dificilmente o acordo costurado em Teerã, produzirá uma alteração significativa na rota do desastre que se anuncia.

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