Por Mauro Santayana
Manifestantes que ocupam, há dias, instalações públicas em Donetsk, na
Ucrânia, proclamaram, unilateralmente, uma “República Popular”, na província em
que se fala russo. E falam em convocar um referendo para sua anexação à Rússia,
para o próximo dia 11 de maio, nos moldes do que foi feito na Crimeia no mês
passado.
As autoridades policiais não resistiram nem tentaram conter os
manifestantes.
Em outra cidade, Lugansk, manifestantes favoráveis à Rússia ocuparam a
sede dos órgãos de segurança, e fizeram o chefe de polícia - que também não
resistiu - libertar dezenas de prisioneiros favoráveis a Moscou que estavam
detidos há alguns dias.
Em Kharkov, segunda maior cidade ucraniana, e centro industrial do país,
houve enfrentamento entre habitantes de língua russa, que ocuparam a sede do
governo local, e manifestantes fiéis ao golpe desfechado contra o Presidente
Yanukovitch em março.
Embora as novas “autoridades” ucranianas estejam acusando o serviço
secreto russo pelos tumultos, a verdade é que o apoio ao governo golpista é
cada vez menor, e boa parte do território ucraniano é ocupado por habitantes de
origem russa, que se recusam a se aproximar do Ocidente e se sentem ameaçados
pelos golpistas de extrema direita que estão no poder em Kiev.
Eles viram que, ao contrário do que ocorreu na “libertação“ do Iraque,
do Egito, da Líbia, do Afeganistão, pela OTAN, onde morreram - e continuam
perdendo a vida - centenas de milhares de pessoas, a “russianização” da Crimeia
foi feita em poucos dias, e quase sem violência.
O fato é que, assim como fez, em muitos outros lugares, supostamente em
nome da “democracia”, o Ocidente desestruturou completamente uma Nação que se
encontrava institucionalmente unificada, funcionava razoavelmente dentro da
lei, com um Presidente eleito diretamente pela população, e aguardava
pacificamente as próximas eleições, porque não queria que a Ucrânia “caísse”
sob influência de Moscou.
Como demonstra a situação em Donestk e em Kharkov, a influência russa na
Ucrânia, do ponto de vista político, econômico, cultural, já existia, é muito
maior do que se pensa na Europa e nos EUA, e permeia vastas regiões e milhões
de habitantes, que se sentem russos.
A Rússia está em seus corações e mentes. Eles vivem, como russos, há
séculos. E caso não haja um processo efetivo de federalização, é mais fácil que
a Ucrânia se divida - a partir da fragmentação irresponsavelmente iniciada em
Maidan - do que eles virem a se inclinar para o lado contrário, o dos golpistas
neofascistas que tomaram o poder de assalto, em Kiev, há poucas semanas.
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