sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Incontinências eleitorais de um 2º turno perdido


Oscarino Arantes

Quem será o próximo presidente – ou “presidenta” – do Brasil? Se esta pergunta realmente importasse, não valeria à pena escrever sobre o que eu chamo de “incontinências” desse 2º turno. Pela terceira vez nos últimos oito anos, PT e PSDB se encontram no 2º turno da eleição presidencial. Dessa vez, no entanto, a expressão carismática de um candidato, cede lugar a troca de acusações desairosas, com retoques de uma ópera bufa.

Marina Silva, que ensaiou a pantomima de “terceira via”, servindo de escada para os verdadeiros protagonistas, após surpreender no 1º turno catalizando na última hora os votos de protesto contra o status quo, segue o script rumo à irrelevância nesse 2º turno. Afinal, era muito prematuro infirmar um “eleitorado” para Marina, o PV ou à causa ambiental. Nenhum deles possui densidade política ou social para se habilitar a tanto. Por isso, a neutralidade que se anuncia já era esperada. Um compromisso direto, provavelmente não teria o efeito correspondente em votos, e exporia a fragilidade do resultado obtido no 1º turno. Melhor sair de cena ainda sob aplausos.

Serra por sua vez, reedita o enredo das duas últimas eleições, quando o PSDB chegou no 2º turno, já na sobrevida com aparelhos. A verdadeira “herança maldita” de FHC foi deixada para seus correligionários: os tucanos não têm discurso desde que o reformismo se perdeu no casuísmo político e o governo Lula se apropriou da estabilidade econômica. Serra joga agora suas fichas na inabilidade ‘congênita’ de Dilma que se revela sob pressão, enquanto patina em sua própria falta de liderança e carisma. O desafio para Serra é se vender como “novo” de um projeto consumado.

Por fim, temos Dilma, que além da falta de habilidade, está demonstrando uma falta de “aderência” na imagem de Lula, apesar de todo o esforço de marketing montado no Palácio do Planalto. O presidente alcança a impressionante marca de 80% de aprovação e sua candidata, no 2º turno, gira em torno de 46% do eleitorado. Talvez esse fenômeno de ‘descolamento’, possa ser explicado ao inverso: é a imagem de Dilma que não cola em Lula. Lembremos que Lula, em todo seu governo, demonstrou uma incrível capacidade “teflon” – ou seja – nenhum escândalo de corrupção, por mais próximo que fosse, conseguia “colar” no Presidente. Isso mais uma vez comprova que a liderança carismática é uma projeção personalíssima mitificada, que não se propaga além do seu personagem, nem costuma sobreviver a ele. Lula não consegue “vender” Dilma para seu eleitorado, porque Dilma não é Lula, e isso está claro para a massa de simpatizantes do Presidente.

Quem será o próximo presidente – ou “presidenta” – do Brasil? Essa pergunta continua sem relevância, diante de um cenário político absorto nas incontinências vazias de um 2º turno, perdido para o país.

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