Por Ruy Braga
Dois anos de raquitismo econômico foram suficientes para estimular até
mesmo o apetite eleitoral de tradicionais aliados do Palácio do Planalto.
Então, como explicar que, conforme recente pesquisa do Ibope, a popularidade de
Dilma Rousseff tenha batido novo recorde? Em tempos de agudo descrédito dos
políticos tradicionais, quando um movimento liderado por um comediante
reivindica o cargo de primeiro-ministro na Itália, por exemplo, desconfio que
uma aprovação pessoal de quase 80% configure êxito político incomparável, ao
menos entre países democráticos.
A referência a Beppe Grillo serve apenas para acentuar a atual façanha
da presidente, mas não provê hipóteses acerca de sua popularidade. Para tanto,
recorrerei a outro italiano. Em seus Cadernos do Cárcere, Antonio Gramsci
propôs que aquele que deseja interpretar a vida política nacional precisa
apreender os movimentos “orgânicos” e “conjunturais” em sua unidade
contraditória, isto é, como duas faces de uma mesma moeda. Assim, movimentos
conjunturais transformam-se em atualizações de processos orgânicos, em seu “vir
a ser” saturado de múltiplos sentidos.