Por Oscarino Arantes
A cada dia novas
tecnologias reinventam um cotidiano tangenciado pelo desconcerto de sua
assimilação. Inovações sucessivas que ditam seguidas mudanças reverberam em atitudes
que se furtam à abstração de valores. Sem dúvida a internet é a mais
surpreendente mudança já introduzida na humanidade e rapidamente se tornou
campo de negócios, ciência, cultura, relações sociais, política, guerra
eletrônica, espionagem, contrainformação, sabotagem, fraudes, crimes e até de
terrorismo. Se por um lado universalizou a informação, por outro, subsumiu o
sujeito a dados desse universo virtualizado. Ainda é cedo para avaliarmos todas
as consequências, porém, já podemos observar que o excesso de informações de
múltiplas fontes em permanente acréscimo, longe de possibilitar a formação de
um senso crítico indispensável à práxis do indivíduo, causa-lhe dúvida e
extasia. A quantidade não assegura qualidade e, assim, em certo sentido, o homo conectatus está desconexo.
Nas redes sociais, novas
formas de relação criam uma nova arquitetura social. Nessas redes o indivíduo projeta
uma identidade narcísica, que decompõe sua privacidade e, com isso, a
referência de sua própria individualidade. Com a avidez de se expor na rede
social, o indivíduo busca se afirmar como protagonista de um cotidiano
idealizado na presunção de popularidade. Tenta decompor sua solidão imanente
com a perpetuação do instantâneo difundido. Assim, o paradigma da relação deixa
de ser o outro, sem face, desumanizado por sua multiplicidade, e passa a ser a
própria plataforma, sob a qual o indivíduo reconstrói sua ética. Ocorre que nessa
pantomima todos se fazem protagonistas e o intercâmbio deriva para o burlesco
da intimidade compartilhada ou para frivolidades do dia a dia. Não me parece
ter sido isso que Andy Warhol pensou quando disse que "um dia, todos terão direito a 15 minutos de fama".
Vemos que a cada dia fica
mais difícil delimitar as fronteiras do real e do virtual. Em pouco tempo
provavelmente isso se tornará impossível. Não se trata mais de uma rede de intercâmbio
e comunicação, reprodutora de realidade, mas de uma nova forma de realidade,
que expande e redimensiona constantemente o conhecimento e desafia os modelos
de nosso próprio pensamento. Novos parâmetros recriam a linguagem e até uma
física própria, onde o referencial espaço-tempo se funde e se confunde em nosso
devir. Entre o real e o virtual não temos mais espaço para a dúvida.
O cotidiano do homem
foi invadido pelo ritmo surpreendente das inovações. Invadido e definitivamente
transformado. Não há tempo para surpresa ou ponderação, somos passageiros de um
avião perdendo altitude, sorrindo e torcendo para que alguém ainda esteja no
comando. Por toda a história humana as inovações foram introduzidas no ritmo
ditado por sua assimilação. Hoje, somos atropelados pelas inovações. Pela
primeira vez na história, a identidade transcende o indivíduo. Como nos
relacionamos e até quem somos é redefinido no universo virtual, que se torna
cada vez mais espaço vital. Sem dúvida que a internet veio pra ficar, é um
marco civilizatório de nossa era. Mas a impassividade diante de suas
consequências é algo preocupante, considerando os desafios prementes da
humanidade.
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