"Ladrões, corruptos e quadrilheiros!".
Campeão mundial e principal jogador na campanha do tetracampeonato, Romário
detonou a organização do futebol brasileiro após a humilhante eliminação na
Copa do Mundo de 2014
Por Romário - Deputado Federal
Após a goleada histórica sofrida pelo Brasil diante da
Alemanha nas semifinais da Copa do Mundo, o ex-jogador e deputado federal
Romário desabafou. Através das redes sociais, afirmou que José Maria Marin,
presidente da CBF, e seu vice e sucessor eleito, Marco Polo Del Nero, deveriam
estar na cadeia. O parlamentar fez duras críticas à corrupção e à gestão no
futebol brasileiro, e falou em “falência” do esporte no país.
“Passado o luto das primeiras horas seguidas da
derrota, vamos ao que verdadeiramente interessa! Quem tem boa memória, vai
lembrar da minha frase: Fora de campo, já perdemos a Copa de goleada!
Infelizmente, dentro de campo, não foi diferente.
Ontem foi um dia muito triste para nosso futebol.
Venceu o melhor e ninguém há de questionar a superioridade do futebol alemão já
há alguns anos. Ainda assim, o mundo assistiu com perplexidade esta derrota,
porque nem a Alemanha, no seu melhor otimismo, deve ter imaginado essa vitória
histórica.
Porém, se puxarmos da memória, vamos lembrar que nossa
seleção já não vinha apresentando nosso melhor futebol há muito tempo. Jogamos
muito mal. Infelizmente, levamos sete e, por mais que isso cause mal-estar,
devemos admitir que a chuva de gols foi apenas reflexo do pânico, da
incapacidade de reação dos nossos jogadores e da falta de atitude do treinador
de mudar o time.
Vivemos uma crise no nosso esporte mais amado, chegamos
ao auge dela. Acha que isso é problema só dos jogadores ou do Felipão? Nem de
longe.
Nosso futebol vem se deteriorando há anos, sendo sugado
por cartolas que não têm talento para fazer sequer uma embaixadinha. Ficam dos
seus camarotes de luxo nos estádios brindando os milhões que entram em suas
contas. Um bando de ladrões, corruptos e quadrilheiros!
O meu sentimento é de revolta.
Estou há quatro anos pregando no deserto sobre os
problemas da Confederação Brasileira de Futebol, uma instituição corrupta
gerindo um patrimônio de altíssimo valor de mercado, usando nosso hino, nossa
bandeira, nossas cores e, o mais importante, nosso material humano, nossos
jogadores. Porque não se iludam, futebol é negócio, business, entretenimento e
move rios de dinheiro. Nunca tive o apoio da presidenta do País, Dilma
Rousseff, ou do ministro do Esporte, Aldo Rebelo. Que todos saibam: já pedi
várias vezes uma intervenção política do Governo Federal no nosso futebol.
Em 2012, eu apresentei um pedido de CPI da CBF, baseado
em um série de escândalos envolvendo a entidade, como o enriquecimento ilícito
de dirigentes, corrupção, evasão de divisas, lavagem de dinheiro e desvio de
verba do patrocínio da empresa área TAM. O pedido está parado em alguma gaveta
em Brasília há dois anos. Em questionamento ao presidente da Câmara dos
Deputados, sr. Henrique Eduardo Alves, mas ouvi como resposta que este não era
o melhor momento para se instalar esta CPI. Não concordei, mas respeitei a
decisão. E agora, presidente, está na hora?
Exceto por um vexame como o de ontem, o Brasil não
precisaria se envergonhar de uma derrota em campo, afinal, derrotas fazem parte
do esporte. Mas vergonha mesmo devemos sentir de ter uma das gestões de futebol
mais corruptas do mundo. A arrogância dessa entidade é tão grande que até o
chefe da assessoria de imprensa chega ao absurdo de bater em um atleta de outra
seleção, como fez o Rodrigo Paiva contra um jogador do Chile Pinilla. Paiva
pegou quatro jogos de suspensão e foi proibido de acessar o vestiário dos
jogadores. Este ato foi muito simbólico e diz muito sobre eles. O presidente da
entidade, José Maria Marin, é ladrão de medalha, de energia, de terreno público
e apoiador da ditadura. Marco Polo Del Nero, seu atual vice, recentemente foi
detido, investigado e indiciado pela Polícia Federal por possíveis crimes
contra o sistema financeiro, corrupção e formação de quadrilha. São esses que
comandam o nosso futebol. Querem vergonha maior que essa?
Marin e Del Nero tinham que estar era na cadeia! Bando
de vagabundos!!!
A corrupção da CBF tem raízes em todos os clubes
brasileiros, vale lembrar que são as federações e clubes que elegem há anos o
mesmo grupo de cartolas, com os mesmos métodos de gestão arcaicos e corruptos
implementados por João Havelange e Ricardo Teixeira e mantidos por Marin e Del
Nero. Vale lembrar, que estes dois últimos mudaram o estatuto da entidade e
anteciparam a eleição da CBF para antes da Copa. Já prevendo uma possível
derrota e a dificuldade que eles teriam de se manter no poder com um quadro
desfavorável.
E os clubes? Sim, eles também são responsáveis por essa
crise. Gestões fraudulentas, falta de investimento na base, na formação de
atletas. Grandes clubes brasileiros estão falindo afogados em dívidas
bilionárias com bancos e não pagamentos de impostos como INSS, FGTS e Receita
Federal.
E toda essa má gestão que tem destruído o nosso
futebol, infelizmente, tem sido respaldada há anos pelo Congresso Nacional com
anistias e mais anistia destes débitos. Este ano tivemos mais um projeto desses
vexatórios para salvar os clubes. Um projeto que previa que clubes pagassem
apenas 10% de suas dívidas e investissem 90% restante em formação de atletas.
Parece até deboche. Uma soma de aproximadamente R$ 4 bilhões ou muito mais, não
se sabe ao certo. Corajosamente, o deputado Otávio Leite, reconstruiu o texto e
apresentou uma proposta honesta estruturada em responsabilidade fiscal,
parcelamento de dívidas e a criação de um fundo de iniciação esportiva, com
obrigações claras para clubes e CBF.
Em resumo, a nova proposta além de constituir a Seleção
Brasileira de Futebol e o Futebol Brasileiro como Patrimônio Cultural Imaterial
– obrigava a CBF a contribuir com alíquota de 5% sobre as receitas de
comercialização de produtos e serviços proveniente da atividade de
Representação do Futebol Brasileiro nos âmbitos nacional e internacional. O
tributo também incidiria sobre patrocínio, venda de direitos de transmissão de
imagens dos jogos da seleção brasileira, vendas de apresentação em amistosos ou
torneios para terceiros, bilheterias das partidas amistosas e royalties sobre
produtos licenciados. O valor seria destinado a um fundo de iniciação esportiva
para crianças e jovens de todo o Brasil. Esses e outros artigos dariam
responsabilidade à CBF, punição à entidades e outros gestores do futebol, a CBF
estaria sujeita a fiscalização do TCU e obrigada a ter participação de um
conselho de atletas nas decisões.
Mas este texto infelizmente não foi para a frente. Sete
deputados alemães fizeram os gols que desclassificaram nosso futebol e nos
tirou a chance de moralizar nosso esporte. Estes deputados, como todos sabem,
fazem parte da Bancada da CBF, mudei o nome porque Bancada da Bola é muito
pejorativo para algo que amamos tanto. Gosto de dar os nomes: Rodrigo Maia (DEM
-RJ), Guilherme Campos (PSD-SP), Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), José Rocha
(PR-BA) , Vicente Cândido (PT-SP), Jovair Arantes (PTB-GO) e Valdivino de
Oliveira (PSDB-GO).
Essa partida ainda pode ser revertida com a votação do
projeto no Plenário da Câmara. Será que esses sete deputados voltarão a
prejudicar o nosso futebol?
O futebol brasileiro tomou uma goleada e a derrota
retumbante, infelizmente, não foi só em campo. Nem sequer tivemos o prazer de
jogar no Maracanã, um templo do futebol mundial, reformado ao custo de mais de
R$ 1 bilhão. Acha que foi porque não chegamos a final? Não. Poderíamos ter jogado
qualquer outro jogo lá. A resposta disso é ganância e arrogância. É a CBF que
escolhe onde o Brasil vai jogar, mas, obviamente, poderia ter tido
interferência do Ministério do Esporte e da presidência da República, mas
nenhum destes se manifestou. Quem levou com essas escolhas?
Para fechar com chave de ouro, a CBF expulsou do
vestiário Cafú, capitão de seleção do pentacampeaonato. Cafú foi expulso do
vestiário enquanto cumprimentava os jogadores ontem. Este é o retrato do nosso
futebol hoje, não honramos a nossa história.
Dilma tem sim que entregar a taça para outra seleção.
Este gesto será o retrato do valor que ela deu ao nosso futebol nos últimos
anos! Eles levarão a taça e nós ficaremos com nossos estádios superfaturados e
nenhum legado material, porque imaterial, mostramos para o mundo que com toda
nossa dificuldade, somos um povo feliz”.
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