Por Mauro Santayana
(JB) - Depois de 13 anos, finalmente o governo brasileiro deu sua aprovação
à compra de 36 novos caças para a Força Aérea Brasileira, optando pelos Gripen
NG suecos, em detrimento do Rafale, da Dassault francesa e do F-18 da Boeing
norte-americana. O menor preço, unitário e por hora de voo, a transferência de
tecnologia e a questão política foram fatores determinantes para a escolha.
Como ainda não está totalmente desenvolvido, o caça sueco-brasileiro será
projetado em conjunto por técnicos e empresas das duas nações, como as
brasileiras Akaer — que já participa do projeto — e Embraer e a própria Saab.
Está prevista a criação inicial de aproximadamente 2 mil empregos em São
Bernardo do Campo, São Paulo, onde seria instalada a unidade de montagem. O
pacote financeiro — cada avião sairá por aproximadamente 125 milhões de dólares
— também foi o mais atraente. O Brasil só começaria a pagar os aviões depois de
recebida a última das 36 aeronaves, no começo da próxima década.
Para o Brasil, o Gripen NG representa um novo patamar, do ponto de vista da
indústria aeronáutica militar, bem acima do turboélice de ataque leve e
treinamento avançado Super-Tucano, da Embraer. Mas ele — como bem lembrou o
ministro Celso Amorim, ao dizer que o país continuará negociando um caça de
quinta geração — não solucionará todos os problemas do país nessa área.
Como o Brasil será dono do projeto, com o tempo, ele poderá ser vendido
para outros países da Unasur e até mesmo do Brics, como é o caso dos
sul-africanos, que já possuem Gripen mais antigos em sua Força Aérea. Com eles
estamos desenvolvendo conjuntamente mísseis A-Darter, que podem armar esse
avião.
O importante é que o Gripen NG possa render, estratégica e economicamente,
o máximo de retorno para o investimento previsto.
Não é preciso dizer, da Engesa ao AMX, o quanto a descontinuação na
fabricação de material bélico foi e pode ser danosa para o Brasil, tanto no
desmonte da estrutura estabelecida para sua fabricação quanto na perda de
conhecimento e na desmobilização do pessoal técnico envolvido.
Verificando o que está sendo feito no país, neste momento, não é racional
gastarmos centenas de milhões de reais para montar um estaleiro para fazer
quatro submarinos. O correto seria dar início, a partir daí, à fabricação de
pelo menos uma nova belonave por ano, para manter ativos e operantes todos os
elos da cadeia produtiva. O mesmo vale para blindados, helicópteros, mísseis,
artilharia, avançando, a cada etapa, na nacionalização de componentes, até
adquirir total autonomia do exterior.
Precisamos aprovar encomendas do governo que permitam garantir demanda
suficiente para manter em funcionamento todas as linhas de produção,
assegurando que elas possam eventualmente ser aceleradas, em caso de conflito.
É por essa razão, considerando-se preço, consumo de combustível e garantia
de transferência de tecnologia, que os Gripen não deveriam ficar limitados,
apenas, ao reduzido número de 36 aeronaves. Sua fabricação deveria durar, pelo
menos, dez anos, a um ritmo de 12 aviões por ano, até completar — asseguradas
as modernizações possíveis e o natural ganho de escala — um número mínimo de
120 caças, ainda assim insuficiente para garantir a vigilância de nossas
fronteiras e uma condição militar à altura de nossa situação geopolítica.
O grande vetor para a projeção estratégica do Brasil fora do contexto
geográfico sul-americano, considerando-se a concorrência e a competição entre
os EUA, a Europa e os Brics, nos próximos anos, não será o Gripen mas o
caça-bombardeio de quinta geração T-50 PAK-FA, que se encontra atualmente em
desenvolvimento por russos e indianos, e para o qual o Brasil já foi convidado
a participar oficialmente.
Poderíamos, assim, estabelecer uma teia de atuação aérea progressiva,
complexa e abrangente, cobrindo nossas necessidades de defesa e de projeção de
nosso poder militar, começando, em um anel mais externo, pelo uso de satélites,
drones, Vants e Super-Tucanos para vigilância de nossas fronteiras. A seguir,
viria uma rede de bases e esquadrilhas de Gripen NG BR, dispostas, estrategicamente,
para a proteção de nossas maiores cidades, litoral e Amazônia Azul, e, em caso
de grave ameaça, um número inicialmente menor de aviões mais avançados e
ofensivos, como o Sukhoi Su-35, e, futuramente, o T-50, potencialmente
adaptados aos sistemas de dirigibilidade, controle e manutenção da FAB.
A mera escolha do Gripen, fabricado a partir de peças ocidentais, não pode
ser vista como um fator limitante para a cooperação do Brasil com outro
tipo de nações, que apenas contribuiria para consolidar nossa dependência, no
campo da defesa, de países da Europa e dos próprios Estados Unidos.
O Ocidente não tem nenhum compromisso estratégico conosco e, muito menos, a
médio e longo prazo. Nunca se poderá contar com nenhum país ocidental, em caso
de eventual problema com um deles. Vide o caso da Argentina, abandonada
totalmente por seus fornecedores de armamento, na Guerra das Malvinas.
Fonte: www.maurosantayana.com/
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