Aviões de Israel
bombardearam a Síria três vezes nos últimos meses. Netanyahu falou que os
sírios não deveriam levar a mal. Não era contra eles.
O alvo seriam
armamentos que estavam de passagem por Damasco, a caminho dos quartéis do
Hizbollah, inimigo jurado de Israel.
O problema é que
os ataques violaram a soberania síria, destruíram edifícios e instalações públicas
e mataram dezenas de soldados e funcionários do país.
A defesa
antiaérea síria viu-se impotente para evitar a ação dos super-modernos aviões
israelenses, fornecidos pelos EUA.
Diante deste
legítimo ato de guerra, o governo de Damasco limitou-se a ameaçar reagir da
“próxima vez”.
Ninguém
acreditou. Assad não teria condições de enfrentar ao mesmo tempo Israel e os
rebeldes.
Contratou então
com os russos a compra do sistema antimíssil S-300, capaz de atingir aviões e
mísseis a uma distância de 200 km. Furiosa indignação em Tel-aviv.
‘Como esses
audaciosos sírios se atrevem a se armarem para se defenderem de nossos
bombardeiros? E os russos já pensaram como o S-300 poderia dificultar futuros ataques
nossos?’.
Lembrou a fábula
do Lobo Mau e os três porquinhos, quando o lobo ficou furioso por ter o
porquinho Prático construído uma casa de pedra, resistente a seus assoprões...
Israel mandou
logo emissários a Moscou para impedir essa venda “inadmissível”. E os EUA se
juntaram a seus protestos.
Nessa curiosa
inversão dos fatos, em que a bombardeada Síria torna-se uma ameaça para o
bombardeador Israel, a hipocrisia se disfarçou com roupas de justiça.
A hipótese do
S-300 em Damasco foi tratada como um verdadeiro crime contra a civilização
ocidental.
Os russos
explicaram que o S-300 tem uso apenas defensivo. Só atuaria para prevenir
bombardeios de Damasco por aviões estrangeiros. Como os rebeldes não têm
aviões, nunca seria usado contra eles.
Aí, Israel
resolveu apelar.
Em reunião com
embaixadores da Europa Unida, o assessor nacional de Segurança Yaakov Admidror
declarou que a aquisição do Sistema S-300 pela Síria obrigaria Israel a uma
ação militar para impedir que entrasse em operação.
Por sua vez,
Moshe Ya´alon, ministro da Defesa, sugeriu em entrevista que Israel
bombardearia os navios russos que transportassem o S-300 para a Síria.
Dois ultimatos,
portanto.
Se os russos e
sírios não se intimidarem, forem em frente com a instalação do S-300 e Israel
cumprir suas ameaças, será uma infração grave do Direito Internacional.
Lembro as
palavras do Tribunal de Nuremberg, que julgou os criminosos nazistas da 2ª.
Grande Guerra: “Iniciar uma guerra de agressão é não apenas um crime internacional;
é o supremo crime internacional”.
Desta vez, a
Rússia poderia ser envolvida, o que daria coragem a Assad para retaliar,
conforme suas promessas.
Correríamos
então sérios riscos de uma guerra que incluiria todo o Oriente Médio.
Dificilmente, os EUA poderiam vir em defesa de Israel, argumentando com
violências do governo Assad.
Nos últimos
meses, a auréola angelical dos rebeldes veio se desvanecendo. ONGs relataram
crimes deles contra os direitos humanos semelhantes aos de que já se acusara
Assad.
Recente
relatório da ONU dizia que a maioria dos rebeldes não favorece a democracia, o
que enfraquece a pecha de ditador lançada contra o presidente sírio.
O eventual uso
de armas químicas pelo governo, trombeteado pela França, Reino Unido e EUA,
parece ser compartilhado pelas duas partes.
Recentemente, o
conceituado Le Monde relatou um episódio dessa ordem, no qual as
forças do governo estariam implicadas.
No entanto,
ainda nesta semana, agentes de segurança da Turquia (país contra Assad)
prenderam 12 membros do Nussra, destacado grupo rebelde, com gás sarin, pronto
par ser instalado em armas.
Enquanto a
divisão maniqueísta em good guys e bad guys tende a
desaparecer, o mundo inteiro mostra-se contra a intervenção militar do Ocidente
no conflito.
Pesquisa Pew
revela que o fornecimento de armas aos rebeldes pelos EUA ou Europa é
contestado por 68% das pessoas na Turquia; 80% no Líbano; 60% na Tunísia; 59%
no Egito; e 63% na Palestina.
Na Europa, os
resultados são semelhantes: 82% na Alemanha; 69% na França; e 59% no Reino
Unido.
É significativa
a posição de Angela Merkel, firme aliada de Barack Obama: “em nenhuma
circunstância a Alemanha fornecerá armas para os sírios”. Até nos EUA a maioria
do público é contra: 64%.
Num cenário
assim, Barack Obama e seus aliados na Europa e no Oriente Médio não poderão
defender Israel, caso Netanyahu decida mesmo atacar a Síria ou os navios
russos.
Como também é
impensável que fiquem contra ele, o caminho possível será uma trégua, através
da ONU.
Mesmo porque,
num conflito iniciado pelos israelenses contra a Síria, os países árabes e a
Turquia, que hoje apoiam os rebeldes, terão de se opor a Tel-aviv.
Dessa maneira,
os rebeldes acabarão ficando isolados. Só lhes restará participar das reuniões
de paz, que hoje recusam, sem exigir a renúncia prévia de Assad.
Toda esta
análise baseia-se na certeza da instalação do S-300 em Damasco e dos
desdobramentos prometidos.
Claro, ainda há
uma esperança de que o presidente Obama convença Bibi a tirar o dedo do
gatilho. Aí as coisas seguirão outro rumo.
Nos próximos
dias ficaremos sabendo o que acontecerá. Seja o que for, a imagem de Israel já
ficou suja pela incrível ameaça de atacar um país por pretender se defender.
Luiz Eça
é jornalista.
Website:
Olhar o Mundo.
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