“Os homens que criam o poder trazem uma contribuição indispensável à grandeza da Nação, mas os homens que questionam o poder trazem uma contribuição igualmente indispensável, especialmente quando o questionamento é desinteressado, pois eles determinam se usamos o poder ou se o poder nos usa.” (John F. Kennedy)
sexta-feira, 31 de maio de 2013
quarta-feira, 29 de maio de 2013
OS CAIXOTES DE EIKE E OS EMPREGOS EM ALGECIRAS
Com
bilhões de dólares emprestados pelo BNDES, e mais ajuda do governo a caminho
para seus negócios, o Brasil tem sido generoso com o empresário
Eike Batista. Sendo esse o caso, e indo mal os seus negócios, dependentes
cada vez mais de dinheiro público, o mínimo que ele poderia fazer seria
preferir, sempre, empresas nacionais como parceiras, e criar empregos no
Brasil.
É estranho, portanto, que para as obras do Porto de Açu, no Rio de Janeiro, a
LLX, de Eike Batista, tenha escolhido para a construção de um gigantesco cais,
com estrutura pré-moldada, uma empresa espanhola, a FCC – Fomento de
Construcciones y Contratas.
Mesmo considerando-se que essa empresa possa ter mais know-how em construção de
portos - e que alguns pretendem prestar generosa ajuda à Espanha – seria
necessário, no presente caso, se obter um mínimo de contrapartida.
segunda-feira, 27 de maio de 2013
O problema dos monopólios
Parece haver
certo consenso entre as forças de esquerda de que o domínio, ou o poder de
monopólio, de algumas grandes corporações, tanto multinacionais quanto
nacionais, tem efeitos negativos sobre todo o processo de desenvolvimento
nacional. Essas corporações dominam os latifúndios do agronegócio, a extração e
o comércio internacional de minério de ferro, os bancos e outras instituições
de crédito e de investimentos, a produção, importação e a distribuição de
agrotóxicos, fertilizantes e sementes selecionadas, e as indústrias
automobilística, de cimento, farmacêutica e de vários outros ramos.
A condição
monopolista ou oligopolista permite a essas empresas atuar no mercado tendo por
base preços administrados. Ou seja, elas não se vêm submetidas a uma
concorrência que as obriguem a rebaixar custos e preços. Mesmo no caso em que
há várias grandes empresas concorrendo no mercado, como aparenta ser a
indústria automobilística, há um acordo tácito entre elas de que seu patamar de
preços se mantenha sempre elevado num nível que lhe permita uma alta taxa média
de lucro.
Esse acordo
tácito estabelece que a concorrência entre os oligopólios se dê exclusivamente
na faixa superior daquela lucratividade, propiciando apenas a variação na
participação de cada uma das empresas no fatiamento do mercado. Nessas
condições, isso também compreende a criação conjunta de obstáculos contra a
entrada de qualquer concorrente que queira rebaixar aquele patamar de preços e
de lucratividade através da livre concorrência no mercado.
domingo, 26 de maio de 2013
sexta-feira, 24 de maio de 2013
A Leoa e o Dragão
Diante dos
números da crescente inflação, o secretário geral da presidência, o senhor
Gilberto Carvalho, em comício da Força Sindical, em São Paulo, disse: “a
presidente Dilma é uma leoa no combate à inflação”. Dessa forma, estaremos
diante de um confronto de vida e morte entre a leoa (Dilma) e o dragão
(inflação).
Sabemos que
o combate à inflação, nesse sistema baseado na economia de mercado, exige a
tomada de medidas impopulares, dentre elas o corte nas despesas públicas, de
forma a tentar equilibrar as finanças. Outra medida seria o aumento dos juros
como forma de inibir o consumo. Essa medida não é do agrado do segmento
industrial, pois a contração do consumo redunda em menores negócios para eles.
A verdade é
que no capitalismo os governos vêem-se compelidos a se cobrirem com lençois
curtos: quando cobrem os pés, descobrem a cabeça. Essa condição é inerente
tanto ao sistema socioeconômico vigente como ao modelo político que leva a
presidente a ser, ao mesmo tempo, gestora dos negócios do capitalismo e
candidata à reeleição.
Em campanha
em busca da reeleição, a senhora Dilma tenta, a todo custo, fugir de medidas
antipopulares, como a de cortar as despesas do Estado e outros gastos. Essa
situação contraditória, entre a figura da gestora e a da candidata, nos parece
insanável. Enquanto isso, as massas trabalhadoras dão sinais de
descontentamento quando vêem os seus salários serem corroídos pelo dragão da
inflação, sem que a leoa tenha se mostrado eficaz para reverter esse quadro.
Em função
desses fatos, surgem propostas do tipo: “gatilho salarial”, instrumento já
conhecido e que consiste em determinar que quando a inflação atingir certo
percentual, automaticamente seria acionado o gatilho e se promoveriam reajustes
nos ganhos dos trabalhadores. Sabe-se que tal medida não se mostrou eficaz e
serviu para acalentar, mais ainda, o processo inflacionário, promovendo uma
verdadeira espiral, cujo binômio é: aumento salarial promove aumento dos preços
e aumento dos preços promove aumento salarial, em um círculo vicioso.
Vê-se que as
contradições do capitalismo geram situações em que os governos, preocupados em
manter seus níveis de popularidade, mostram-se impotentes em promover uma
verdadeira solução. Isso até porque soluções permanentes, dentro desse sistema
que se rege pela busca do lucro para uns poucos, é impraticável. No embate da
leoa com o dragão, a tendência é que teremos um confronto, com indícios de que
o dragão sairá vitorioso caso a leoa não tome as medidas necessárias para
conter a inflação.
Gilvan Rocha
é militante socialista e membro do Centro de Atividades e Estudos Políticos.
Blog: www.gilvanrocha.blogspot.com
Fonte: Correio da
Cidadania
quinta-feira, 23 de maio de 2013
Barbárie Tecnicizada
Deu no “The
New York Times”, o mais prestigioso jornal da potência imperial do norte.
O relato espantoso está na edição internacional em português, encartada na
“Folha de São Paulo” do dia 15 de abril de 2013. Assinada por Mark
Mazzetti, a matéria fala de acontecimentos localizados no coração das trevas,
fora do alcance do entendimento razoável e muito além dos limites do que se
pode aceitar.
Os fatos são
antigos e de localização longínqua, mas chegam aos quatro cantos do mundo como
brutal atualidade. Em junho de 2004, no Waziristão do Sul, região rebelada do
Paquistão, Nek Muhammad, líder da tribo pashtun, conversava por telefone via
satélite com jornalistas sobre suas façanhas no confronto com as forças do
exército paquistanês. No curso da conversa, segundo está no relato,
perguntou a um de seus seguidores sobre o estranho pássaro metálico que pairava
acima dele. Ato contínuo, um míssil destruiu o casebre de onde falava, matou
Muhammad e várias outras pessoas que estavam ao seu lado, inclusive duas
crianças.
quarta-feira, 22 de maio de 2013
terça-feira, 21 de maio de 2013
COMO OS BANCOS LUCRAM COM A FOME DO MUNDO
Em 1973, quando o muro
de Berlim ainda dividia o mundo em dois blocos econômicos e políticos, o então
presidente do Banco Mundial, Robert McNamara, disse que todas as nações deviam
esforçar-se para acabar com a pobreza absoluta – que só existia nos países
subdesenvolvidos – antes do novo milênio. Naquele momento os países ocidentais
ainda davam alguma importância à política de bem-estar social, não só como um
alento à esperança de paz dos povos, mas também como uma espécie de dique de
contenção contra o avanço do socialismo nos países do Terceiro Mundo. A Guerra
do Vietnã com seu resultado desastroso para os Estados Unidos, levou
Washington a simular sua boa vontade para com os povos pobres. Daí o
pronunciamento de McNamara.
O novo milênio não trouxe o fim da miséria absoluta, embora tivesse havido sensível redução - mais em conseqüência do desenvolvimento tecnológico - com o aumento da produtividade de alimentos e bens de consumo primário, do que pela vontade política dos governos.
Na passagem do século, marcada pelo desabamento das Torres Gêmeas, o FMI, o Banco Mundial – e a própria ONU - reduziram suas expectativas, prevendo, para 2015, a redução da pobreza absoluta à metade dos índices registrados em 1990. Em termos gerais, essa meta foi atingida cinco anos antes, em 2010. A extrema pobreza, que atingia 41.7% da população mundial em 90, caiu para 22% em 2008 – graças à fantástica contribuição da China e da Índia, conforme adverte Francine Mestrum, socióloga belga, em recente estudo sobre o tema.
domingo, 19 de maio de 2013
Entrevista com Leandro Konder
“O século 20 foi um período terrível porque nos ensinou que as pessoas se apegam facilmente em certezas”.
Leandro Konder
O professor e
intelectual afirma que a academia não deu a importância devida ao filósofo Karl
Marx e analisa os rumos da ideologia política nos tempos atuais
Doutor em
Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Leandro Konder trabalha
na fronteira entre a história, a arte e a própria filosofia, a qual define como
“busca ilimitada por ponderação”. Se o exercício do pensamento tem de vir
acompanhado da síntese, assim adverte Konder, a atividade intelectual tem de
ser realizada por meio da ação transformadora.
A vida do
pensador brasileiro nascido em 1936, em Petrópolis, Rio de Janeiro, sempre foi
coerente com tal afirmação. Filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro nos anos
de 1950 e permaneceu militante até 1982. Herdou a convicção política do pai, o
comunista Valério Konder. Durante a ditadura militar foi preso e torturado, o
que o obrigou a sair do país.
Na Alemanha,
ingressou na Universidade de Bonn Rhein, onde deu início aos estudos de
Filosofia. Voltou ao Brasil em 1978 para concluir seu doutorado. Por aqui, foi
o responsável por disseminar a doutrina marxista no meio acadêmico, com a
tradução de obras de Georg Lukács e Antonio Gramsci. A oportunidade veio de sua
colaboração na Editora Civilização Brasileira, ao lado do editor Ênio Silveira.
Leandro Konder prefaciou Concepção Dialética da História, primeiro volume de
Gramsci lançado no Brasil.
A partir da
publicação de seus mais de vinte livros, entre eles, Marxismo e Alienação
(1965); Os Marxistas e a Arte (1967); A Derrota da Dialética (1987); Lukács
(1980); e Walter Benjamim, o Marxismo da Melancolia (1988), torna-se importante
articulador dos conceitos da estética no campo da cultura. Principalmente pelo
aprofundamento na obra de Georg Lukács e Walter Benjamin.
Leandro Konder
dialoga, também, com Franz Kafka em Kafka, Vida e Obra (1966); com Bertold
Brecht em A Poesia de Brecht e A História (1996); e flerta com a escrita
ficcional em A Morte de Rimbaud (2000). Em entrevista à Revista E, realizada em
dois momentos diferentes, por questões de saúde do filósofo, afirma: “Ao lutar
pela arte, luta-se por uma sociedade mais justa, mais humana”.
Mas vê com
ressalvas o aparelhamento da arte por meio da indústria cultural. “A arte não
vai nos livrar dessa carga pesada que o capitalismo coloca em nossos ombros.”
Aos 75 anos, finaliza a entrevista com um balanço positivo de suas ações
políticas e convicções. “A gente aprende a brigar. Por fim, melhor participar
da vida do que ficar ausente.”
“Se você encontrar hoje um intelectual que diz ter em mãos um livro que irá mudar todo o rumo da nossa vida, vai ficar desconfiado. Esse otimismo não é sinal de muita lucidez”
sexta-feira, 17 de maio de 2013
quinta-feira, 16 de maio de 2013
quarta-feira, 15 de maio de 2013
Multinacionais com fortes laços com o Estado são o centro das ‘grandes’ políticas governamentais
Por
Raul Zibechi
Em certas
ocasiões, fatos que não parecem relevantes têm a virtude de mostrar o fundo das
coisas, para desnudar o verdadeiro caráter de uma realidade política que até
então não aparecia tão claramente. Algo assim aconteceu dias atrás, quando uma
reportagem investigativa revelou a relação entre um punhado de construtoras
multinacionais brasileiras e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O fato é que
metade das viagens feitas por Lula após deixar o cargo foram pagas pelas
construtoras, todas na América Latina e África, onde estas empresas concentram
seus maiores interesses. Desde 2011, Lula visitou 30 países, dos quais 20 na
África e na América Latina. As construtoras pagaram treze dessas viagens, quase
todas nas contas de Odebrecht, OAS e Camargo Correa ("Folha de São
Paulo", 22 de março de 2013).
terça-feira, 14 de maio de 2013
Desnacionalização galopante
Por
Adriano Benayon
01. Em artigo
recente, assinalei que, no Brasil, os déficits
nas transações correntes com o exterior vêm se avolumando. Somaram US$ 204,1
bilhões de 2008 a 2012 (US$ 54,2 bilhões só em 2012).
02. Em janeiro/fevereiro
de 2013 houve espantosa aceleração: US$ 18 bilhões, ou seja, 83% a mais que no
mesmo período de 2012.
03. Escrevi
naquele artigo: “os déficits fazem
acelerar ainda mais a desnacionalização e o endividamento”. E
citei Carlos Lopes (HP 24.01.2013): “de 2004 a 2011, foram
desnacionalizadas 1.296 empresas brasileiras, e as remessas
oficiais de lucros ao exterior montaram a US$ 405 bilhões”. As
remessas de lucros disfarçadas em outras contas são um múltiplo disso.
04. A aquisição
de empresas de capital nacional (desnacionalização em sentido estrito) é apenas
uma parte dos investimentos estrangeiros diretos (IEDs). Estes incluem a
criação de novas subsidiárias ou entrada de capital nas já estabelecidas. Tudo
isso é desnacionalização em sentido lato, implicando controle da economia
brasileira por empresas estrangeiras. Boa parte dos IEDs vem de lucros obtidos
no próprio país.
05. A
desnacionalização é um processo cumulativo: cresce sempre, porque leva à
transferência de recursos para o exterior, a qual causa os déficits nas
transações correntes, e esses têm que ser cobertos por endividamento ou IEDs.
06. Os IEDs são
considerados remédio para “equilibrar” o Balanço de Pagamentos (BP), mas, na
realidade, agravam enormemente a doença: o desequilíbrio do BP, decorrente dos
próprios IEDs.
07. Incrível,
mas verdade: desde agosto de 1954, a desnacionalização foi promovida por
governos do país. Mas não tão incrível, porque o foi por governos militares e
civis, egressos de golpes militares sob direção estrangeira, ou de eleições
comandadas pela pecúnia, no quadro de instituições políticas adrede
constituídas.
domingo, 12 de maio de 2013
O PETRÓLEO QUE ERA NOSSO: segue a "privataria" lulista
A 11ª Rodada é um retrocesso para o Brasil!
Por
João Antônio de Moraes
Os
movimentos sociais brasileiros novamente saem às ruas para defender o nosso
petróleo da garra das multinacionais. Nos próximos dias 14 e 15 de maio, a
Agência Nacional de Petróleo (ANP) e o Ministério de Minas e Energia (MME)
pretendem ofertar ao capital privado áreas exploratórias importantíssimas do
nosso subsolo. Um ataque à soberania nacional, já que o petróleo é o mais
estratégico recurso energético do planeta. Um bem precioso, que tem sido alvo
de disputas econômicas e de guerras imperialistas, que subjugam povos em várias
partes do mundo.
A 11ª Rodada
de Licitações é, portanto, um grande retrocesso para o Brasil, que desde 2008
havia suspendido os leilões de petróleo, após muita luta e pressão dos
movimentos sociais. Ao retomar essa agenda, o governo brasileiro,
equivocadamente, atende aos anseios das multinacionais, ávidas por abocanhar
nossas valiosas reservas de óleo e gás.
Não é à toa
que 64 corporações se habilitaram para disputar os 289 blocos que serão
licitados pela ANP e pelo MME. Uma participação recorde, sem precedentes no
país. Mesmo fora do Pré-Sal, as áreas que serão leiloadas são consideradas
bastante promissoras. O maior tesouro que o governo brasileiro pretende
entregar às multinacionais se encontra nas águas profundas das bacias do
Pará-Maranhão e do Foz do Amazonas.
sábado, 11 de maio de 2013
sexta-feira, 10 de maio de 2013
Nascer da agonia
Por Antonio Rodrigues Belon
De quem é a
crise? Onde acontece a crise? Por que o termo e o conceito entram em disputa?
Nos anos 2007,
2008 e 2009, uma crise generalizada ocorreu nas multinacionais e nas grandes
empresas. Dominantes na economia mundial, elas definem a fisionomia do
capitalismo recente. Só puderam sair dessa crise com a injeção massiva de
dinheiro, as salvaguardas, feitas pelas instituições correspondentes aos bancos
centrais, encabeçados pelo dos Estados Unidos. As crises e as salvaguardas
adotadas expressam o começo da crise mais importante da história do
capitalismo.
As salvaguardas
permitiram às multinacionais e ao sistema financeiro mundial sair da
quebradeira, e sobrepor-se a ela, no curto prazo. Porém, a largo prazo, se
agravam e se aceleram as contradições históricas do capitalismo. A inflação, as
quebras de empresas, os déficits, as guerras comerciais, as crises monetárias,
a recessão, o aumento dos preços do ouro e dos metais preciosos expressam
reforçadamente esse agravamento de contradições.
quarta-feira, 8 de maio de 2013
A simples coragem da decisão: um tributo esquerdista a Margaret Thatcher, por Slavoj Žižek
Por Slavoj Žižek
Nas últimas páginas de seu monumental Second World War, Winston Churchill reflete sobre o enigma de uma
decisão militar: depois que os especialistas (analistas econômicos e militares,
psicólogos, meteorologistas etc.) propõem sua análise múltipla, elaborada e
refinada, alguém deve assumir a ação simples – e por isso a mais difícil – de
transformar essa multiplicidade complexa, em que para cada pró há dois contras,
em um simples “Sim” ou “Não” – devemos atacar, devemos continuar esperando…
Esse gesto, que não pode nunca ser fundamentado em razões, é o gesto do Mestre.
Cabe aos especialistas apresentarem a situação em sua complexidade, mas cabe ao
Mestre simplificá-la em um ponto de decisão.
Essa figura do Mestre é necessária principalmente em situações de
crise profunda. Aqui, a função do Mestre é representar a divisão autêntica –
uma divisão entre os que querem se arrastar nos antigos parâmetros e os que têm
consciência da mudança necessária. Essa divisão, e não as transigências
oportunistas, é o único caminho para a verdadeira unidade. Tomemos um exemplo
que certamente não é problemático: a França na década de 1940. Até mesmo
Jacques Duclos, segundo homem do Partido Comunista Francês, admitiu em uma
conversa privada que, se naquele momento, houvesse eleições livres na França,
Marshal Petain teria ganhado com 90% dos votos. Quando De Gaulle, em um ato
histórico, se recusou a reconhecer a capitulação ante os alemães e continuou
resistindo, ele afirmou que apenas ele falava em nome da verdadeira França (em
nome da verdadeira França como tal, não só em nome da “maioria dos
franceses”!), e não o regime de Vichy; sua afirmação foi profundamente
verdadeira ainda que “democraticamente” não tivesse legitimação nenhuma, mas
fosse claramente oposta à opinião da maioria dos franceses…
E Margaret Thatcher, a “dama que não volta atrás”, foi um desses
Mestres que se prende a uma decisão vista a princípio como louca, e
gradualmente eleva sua loucura singular à norma aceita. Quando perguntaram a
Margaret Thatcher sobre seu maior êxito, ela respondeu sem pestanejar: “O New
Labour”. E ela estava certa: seu triunfo foi o fato de suas políticas
econômicas básicas terem sido adotadas até mesmo por seus inimigos econômicos –
o verdadeiro triunfo não é a vitória sobre o inimigo, ele ocorre quando o
próprio inimigo começa a usar sua linguagem, de modo que suas ideias formem a
base de todo o campo.
segunda-feira, 6 de maio de 2013
Produção de sentido
O que falta à nova
geração? Faltam instituições produtoras de sentido. Há que imprimir sentido à
vida. Minha geração, a que fez 20 anos de idade na década de 1960, tinha como
produtores de sentido Igrejas, movimentos sociais e organizações políticas
Por
Frei Betto
Muitos
pais se queixam do desinteresse dos filhos por causas altruístas, solidárias,
sustentáveis. Guardam a impressão de que parcela considerável da juventude
busca apenas riqueza, beleza e poder. Já não se espelha em líderes voltados às
causas sociais, ao ideal de um mundo melhor, como Gandhi, Luther King, Che
Guevara e Mandela.
O
que falta à nova geração? Faltam instituições produtoras de sentido. Há que
imprimir sentido à vida. Minha geração, a que fez 20 anos de idade na década de
1960, tinha como produtores de sentido Igrejas, movimentos sociais e
organizações políticas.
A
Igreja Católica, renovada pelo Concílio Vaticano II, suscitava militantes,
imbuídos de fé e idealismo, por meio da Ação Católica e da Pastoral de
Juventude. Queríamos ser homens e mulheres novos. E criar uma nova sociedade,
fundada na ética pessoal e na justiça social.
Os
movimentos sociais, como a alfabetização pelo método Paulo Freire, nos
desacomodavam, impeliam-nos ao encontro das camadas mais pobres da população,
educavam a nossa sensibilidade para a dor alheia causada por estruturas
injustas.
As
organizações políticas, quase todas clandestinas sob a ditadura, incutiam-nos
consciência crítica, e certo espírito heroico que nos destemia frente aos
riscos de combater o regime militar e a ingerência do imperialismo usamericano
na América Latina.
Quais
são, hoje, as instituições produtoras de sentido? Onde adquirir uma visão de
mundo que destoe dessa mundividência neoliberal centrada no monoteísmo do
mercado? Por que a arte é encarada como mera mercadoria, seja na produção ou no
consumo, e não como criação capaz de suscitar em nossa subjetividade valores
éticos, perspectiva crítica e apetite estético?
As
novas tecnologias de comunicação provocam a explosão de redes sociais que, de
fato, são virtuais. E esgarçam as redes verdadeiramente sociais, como
sindicatos, grêmios, associações, grupos políticos, que aproximavam as pessoas
fisicamente, incutiam cumplicidade e as congregavam em diferentes modalidades
de militância.
Agora,
a troca de informações e opiniões supera o intercâmbio de formação e as
propostas de mobilização. Os megarrelatos estão em crise, e há pouco interesse
pelas fontes de pensamento crítico, como o marxismo e a teologia da libertação.
No
entanto, como se dizia outrora, nunca as condições objetivas foram tão
favoráveis para operar mudanças estruturais. O capitalismo está em crise, a
desigualdade social no mundo é alarmante, os povos árabes se rebelam, a Europa
se defronta com 25 milhões de desempregados, enquanto na América Latina cresce
o número de governos progressistas, emancipados das garras do Tio Sam e
suficientemente independentes, a ponto de eleger Cuba para presidir a Celac
(Comunidade do Estados Latino-Americanos e Caribenhos).
Vigora
atualmente um descompasso entre o que se vê e o que se quer. Há uma multidão de
jovens que deseja apenas um lugar ao sol sem, contudo, se dar conta das
espessas sombras que lhes fecham o horizonte.
Quando
não se quer mudar o mundo, privatiza-se o sonho modificando o cabelo, a roupa,
a aparência. Quando não se ousa pichar muros, faz-se tatuagem para marcar no
corpo sua escala de valores. Quando não se injeta utopia na veia, corre-se o
risco de injetar drogas.
Não
fomos criados para ser carneiros em um imenso rebanho retido no curral do
mercado. Fomos criados para ser protagonistas, inventores, criadores e
revolucionários.
Quando
Hércules haverá de arrebentar as correntes de Prometeu e evitar que o
consumismo prossiga lhe comendo o fígado? "Prometeu fez com que esperanças
cegas vivam nos corações dos homens”, escreveu Ésquilo. De onde beber
esperanças lúcidas se as fontes de sentido parecem ressecadas?
Parecem,
mas não desaparecem. As fontes estão aí, a olhos vistos: a espiritualidade, os
movimentos sociais, a luta pela preservação ambiental, a defesa dos direitos
humanos, a busca de outros mundos possíveis.
Frei
Betto é escritor, autor do romance "Minas do Ouro” (Rocco), entre outros
livros. http://www.freibetto.org-
twitter: @freibetto.
Fonte:
Brasil de Fato
sábado, 4 de maio de 2013
sexta-feira, 3 de maio de 2013
A grande farsa do gás de xisto
Por Nafeez Mosaddeq Ahmed – Estados Unidos
Energia
barata versus poluição prolongada: nos EUA, o dilema da exploração de gás e
petróleo de xisto não atormentou industriais nem o poder público. Em menos de
uma década, essas novas reservas recolocaram o país no crescimento, doparam o
emprego e restabeleceram a competitividade. Mas e se for apenas uma bolha?
Se
crermos nas manchetes da imprensa norte-americana anunciando um boomeconômico
graças à “revolução” do gás e do petróleo de xisto, o país logo estará se
banhando em ouro negro. O relatório de 2012, “Perspectivas energéticas
mundiais”, da Agência Internacional de Energia (AIE), informa que, por volta de
2017, os Estados Unidos arrebatarão da Arábia Saudita o primeiro lugar na
produção mundial de petróleo e conquistarão uma “quase autossuficiência” em
matéria energética. Segundo a AIE, a alta programada na produção de
hidrocarbonetos, que passaria de 84 milhões de barris/dia em 2011 para 97
milhões em 2035, proviria “inteiramente dos gases naturais líquidos e dos
recursos não convencionais” – sobretudo o gás e o óleo de xisto –, ao passo que
a produção convencional começaria a declinar a partir de... 2013.
Extraídos por fraturamento hidráulico (injeção, sob pressão, de uma mistura de água, areia e detergentes para fraturar a rocha e deixar sair o gás), graças à técnica da perfuração horizontal (que permite confinar os poços à camada geológica desejada), esses recursos só são obtidos ao preço de uma poluição maciça do ambiente. Entretanto, sua exploração nos Estados Unidos criou várias centenas de milhares de empregos, oferecendo a vantagem de uma energia abundante e barata. Conforme o relatório de 2013, “Perspectivas energéticas: um olhar para 2040”, publicado pelo grupo ExxonMobil, os norte-americanos se tornarão exportadores líquidos de hidrocarbonetos a partir de 2025 graças aos gases de xisto, num contexto de forte crescimento da demanda mundial do produto.
quarta-feira, 1 de maio de 2013
Manuel Castells: tempo de semear
Sociólogo
sustenta: novos movimentos pensam a longo prazo, querem transformar relações de
poder e são alternativa ao populismo de direita
Por Manuel Castells, no
The Guardian | Transcrição e tradução: Gabriela Leite
Estamos testemunhando o aparecimento de um novo tipo de
movimento social, que ainda é embrionário, por isso ainda não foi capaz de
alterar fundamentalmente a política. Mas foi assim em muitos momentos da
História. Este pode ser o começo de um longo processo de mobilização.
O que caracteriza todos estes movimentos é que, por um
lado, são sempre criados na internet, aproveitando-se da autonomia do
ciberespaço para promover debates e interagir. Mas passam frequentemente, no
momento seguinte, ao espaço urbano — e constroem redes sociais físicas de
interação. A combinação do ciberespaço e do espaço público com alguma
contestação ao sistema institucional é o que caracteriza estes movimentos. Eles
aparecem e desaparecem. E estão sempre na internet. Eu chamo suas dinâmicas de
rizomáticas.
Nos últimos tempos, vemos, particularmente na Europa, o
surgimento de alguns esforços para exercer influência sobre o próprio sistema
político. Sempre que há uma nova eleição, aparecem novas formas de expressão
política, com as quais não necessariamente concordo ou apoio, mas estão
mostrando um claro descontentamento com sistema político.
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