A revolução do século XX separou
arbitrariamente, para fins desmesurados de conquista, duas noções inseparáveis.
A liberdade absoluta mete a justiça a ridículo. A justiça absoluta nega a
liberdade. Para serem fecundas, as duas noções devem descobrir os seus limites
uma dentro da outra. Nenhum homem considera livre a sua condição se ela não for
ao mesmo tempo justa, nem justa se não for livre. Precisamente, não pode
conceber-se a liberdade sem o poder de clarificar o justo e o injusto, de
reivindicar todo o ser em nome de uma parcela de ser que se recusa a
extinguir-se. Finalmente, tem de haver uma justiça, embora bem diferente, para
se restaurar a liberdade, único valor imperecível da história. Os homens só
morrem bem quando o fizeram pela liberdade: pois, nessa altura, não acreditavam
que morressem por completo.
Albert Camus, in "O Mito de Sísifo"
Albert Camus, in "O Mito de Sísifo"
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