"Gabo" foi sempre solidário ao povo latino-americano e à
Revolução Cubana, diz Fernando Morais, que foi amigo do escritor que despediu-se
da vida nesta quinta-feira (17). O escritor brasileiro classificou como
“lamentável” a morte de García Márquez, um "diplomata sem título".
“Gabriel García Márquez foi o intelectual mais comprometido da nossa
época. Durante toda a sua vida foi um ativista político engajado com a América
Latina, sempre solidário ao povo latino-americano e à Revolução Cubana”. Amigo
íntimo do escritor colombiano, Fernando Morais conta detalhes de sua relação
pessoal com o Nobel da Literatura de 1982. E classificou como “lamentável” a
morte de Gabo, ocorrida nesta quinta-feira (17).
Para o escritor e jornalista brasileiro, o maior feito de García
Márquez foi ter criado a Fundação do Novo Cinema Latino-Americano (FNCL), cuja
missão era "unificar" o novo cinema da região. Neste ano, a Escola
Internacional de Cinema e Televisão (EICTV) completa 25 anos com 744 graduados,
procedentes de 18 países da Ásia, África e América Latina.
Gabo tinha fascínio pela sétima arte: "após escrever, o cinema é
meu", dizia. Graças a uma parceria entre ambos, quando Morais foi
Secretário de Cultura do Estado de São Paulo, entre 1988 e 1991, foi assinado
um convênio com a Escola de Cinema de Cuba. “Nós pagávamos as bolsas dos
estudantes e, em troca, eles enviavam ao Memorial da América Latina uma cópia
do material que era produzido lá”, conta o escritor brasileiro.
Mas, nem tudo o que foi realizado pelo escritor é de conhecimento do
público, ressalta. “Muitas das coisas que ele fez não foram registradas pela
imprensa. Em mais de uma ocasião, ele soltou presos políticos cubanos”, revela.
Por seu intenso ativismo político, Gabo era considerado um diplomata
sem título. Em 1998, seu amigo Fidel Castro lhe pediu que entregasse ao
presidente Bill Clinton um relatório detalhado a respeito de atividades
terroristas de anti-cubanos em Miami e assim foi feito durante uma entrevista
na Casa Branca. Ambos os casos são relatados no livro Os Últimos Soldados da
Guerra Fria, de Fernando Morais.
Dissipando a solidão
Questionado a respeito do momento em que se conheceram, Morais conta
que foi em 1977, em Havana, quando estava na ilha caribenha para fazer uma
entrevista para a capa da revista Veja com Fidel. “Eu fiquei dois meses
trancado no hotel. Não podia sair porque Fidel poderia me chamar a qualquer momento.
Então o Gabo ia até lá, a gente tomava rum, me consolava e ajudava a espantar a
minha solidão”, relata.
Outra curiosidade da vida de ambos foi em 1982, quando o jornalista
concorria à reeleição para o mandato de deputado federal. García Márquez enviou
um telegrama com uma frase: “Se eu fosse brasileiro, votava em Fernando Morais
para deputado federal”. O brasileiro, então, publicou um anúncio na Folha de S.
Paulo dizendo: “Faça como Gabriel García Márquez, vote em Fernando Morais para
acabar com os 20 anos de solidão”. E foi eleito. “A García Márquez, todo o ouro
do mundo”, conclui Morais.
Fonte: Opera Mundi
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