“Os homens que criam o poder trazem uma contribuição indispensável à grandeza da Nação, mas os homens que questionam o poder trazem uma contribuição igualmente indispensável, especialmente quando o questionamento é desinteressado, pois eles determinam se usamos o poder ou se o poder nos usa.” (John F. Kennedy)
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013
De João Pedro Stedile: Poder Judiciário nada republicano
Por João Pedro
Stedile
Os princípios que deram base à instalação de regimes democrático-burgueses, a partir das revoluções da Inglaterra e da França, é que todo poder político do Estado emanaria da vontade popular, das maiorias.
Que todo cidadão teria direitos e deveres iguais.
E o Estado se organizaria dividido em três poderes independentes: Executivo, Legislativo e Judiciário.
Aqui, no Brasil, e na maioria dos países da América Latina, o poder judiciário está muito longe de ser republicano. Seu poder nem emana do povo, nem é exercido para defender os interesses da maioria. As mazelas desse poder, não democrático, aparecem todos os dias no conhecimento da população e nos jornais. Desde as pequenas falcatruas oportunistas tipicamente de quem se sente inatingível até grandes desvios provocados pelos interesses da classe dominante, que usa e abusa do poder judiciário para manter seus privilégios.
terça-feira, 26 de fevereiro de 2013
UM ALMOÇO PARA EINSTEN
Artigo de
Luiz Pinguelli Rosa publicado no O Globo
Apartir de agora, atividades acadêmicas e
científicas nas universidades federais deverão seguir uma cartilha com 122
prescrições burocráticas da Controladoria-Geral da União (CGU) e do Ministério
da Educação (MEC).
"A revolução dos bichos" ("Animal
farm", no título original), sátira de George Orwell ao stalinismo por
trair a revolução socialista, tinha também uma cartilha, com sete mandamentos:
tudo o que ande sobre duas pernas é inimigo; tudo o que ande sobre quatro
pernas ou tenha asas é amigo; nenhum animal usará roupas; nenhum animal dormirá
em cama; nenhum animal beberá álcool; nenhum animal matará outro animal; todos
os animais são iguais.
Há contradição, arbitrariedades, burocracia idiota,
moralismo hipócrita e pontos éticos e corretos. Embora ficção, essa cartilha é
paradigmática.
Na cartilha da CGU e do MEC, há contradições e
interpretações que confrontam a Constituição. Se a cartilha for seguida à
risca, nenhum professor em dedicação exclusiva poderá possuir ações de
empresas, nem mesmo da Petrobras ou do Banco do Brasil, o que é um absurdo.
Também não poderá participar de sociedade privada, logo os pesquisadores terão
que abdicar de sociedades científicas, como a SBPC, e de outras, como o Clube
de Engenharia. O item 11, por exemplo, limita a autonomia universitária
listando leis e decretos e omitindo artigos da Constituição. Outros itens
tratam colegiados acadêmicos como corporativos e ameaçam seus membros. O
objetivo é incutir o medo que costuma paralisar as pessoas.
segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013
A ERA DO OBSOLETO
Oscarino
Arantes
Vivemos em uma era de transformações que estão
ocorrendo numa velocidade tão desmedida que mal conseguimos – e não somos
tentados – a compreendê-la. Nenhuma outra lhe serve de parâmetro. As mudanças
são tantas e tão profundas as suas repercussões a nossa volta, que é comum
perdermos os referenciais para formar uma compreensão ou juízo crítico de
valor. O primeiro referencial perdido é o próprio tempo. Não temos mais a noção
de nosso tempo. Aquilo que achávamos futuro nos surpreende no presente quando
descobrimos que já é passado. Universalizamos
a noção de obsoleto como medida de nossas vidas alienadas de seu tempo. A
dinâmica do processo histórico parece ter acelerado com inúmeras mudanças na
base material contemporânea. Nos últimos 20 anos, segundo pesquisadores, se
produziu mais conhecimento do que em toda a História humana anterior. Novas
tecnologias são criadas e introduzidas em nosso cotidiano num ritmo incessante,
alterando os paradigmas de nossa própria vida, de nossas relações em família, nosso
trabalho, nossa comunidade, nossas instituições. São tantas as pequenas revoluções
que se sucedem num frenesi incontido, que não damos conta de o quanto profundamente
elas nos afetam: o computador pessoal, a telefonia celular, a internet, o smartphone,
os transgênicos, os biocombustíveis, etc.
domingo, 24 de fevereiro de 2013
Os limites da pátria
Por Mauro Santayana
É difícil saber se a Sra. Marina Silva é uma pessoa
ingênua e de boas intenções, ou se optou, conscientemente, por defender os
interesses das grandes potências que, sob o comando de Washington, exercem o solerte
condomínio econômico do mundo e pretendem o absoluto império político. Há uma
terceira hipótese que, com delicadeza, devemos descartar: desmesurada ambição
de poder, sem as condições concretas para obtê-lo e exercê-lo.
Os admiradores lembram sempre sua origem modesta, o que
não quer dizer tudo, mas não podem, com a mesma convicção, dizer que ela tenha mantido,
ao longo da carreira, o que os marxistas chamam “consciência de classe”. Suas
alianças são estranhas a esse sentimento. Ela se tornou uma figura homenageada
pelos grandes do mundo, mas, sobretudo, do eixo Washington-Londres. Se ela
mantivesse a consciência de classe, desconfiaria desses mimos. Para dizer a
verdade, nem mesmo seria necessária a consciência de classe: bastaria a
consciência de pátria.
A Sra. Silva, como alguns outros brasileiros que se
pretendem na esquerda, é uma internacionalista. O meio ambiente, que querem preservar
tais verdes e assimilados, não é o do Brasil para os brasileiros, mas é o do
Brasil para o mundo. Quando a Família Real Inglesa e os círculos oficiais e
financeiros norte-americanos cercam a menina pobre dos seringais de homenagens,
usam de uma astúcia velha dos colonialistas, e fazem lembrar os franceses na
aliança com a Confederação dos Tamoios, e os holandeses em suas relações com Calabar.
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013
A degradação moral da prática política
Por Frei Marcos Sassatelli
Alguns fatos destes últimos tempos, amplamente divulgados
na Mídia, mostram, de maneira clara, o nível de degradação moral a que chegou a
prática política de muitos de nossos parlamentares, governantes e juízes.
O primeiro fato é a eleição do presidente do Senado e da
Câmara Federal. Que espetáculo deprimente! Renan Calheiros (PMDB-AL), que, em 4
de dezembro de 2007, renunciou à presidência do Senado para não ser cassado e é
acusado de corrupção, foi reeleito e reconduzido, no dia 2 de fevereiro, à
presidência do Senado, com o voto favorável da grande maioria dos senadores.
Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), que também é acusado de
corrupção, foi eleito, no dia 4 de fevereiro, presidente da Câmara dos
Deputados, com ampla maioria de votos. É uma prática política realmente
vergonhosa e repugnante.
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013
OCASO DE UM MOVIMENTO: Occupy anulado pelo narcisismo?
Ao sobrevalorizar horizontalismo e consulta permanente às bases,
movimento teria renunciado a formular propostas concretas, derrapando para
elitismo e impotência
Por Thomas Frank, no Le
Monde Diplomatique.
Uma cena vem à minha memória cada vez que tento recuperar o efeito
excitante que o movimento Ocupar Wall Street (OWS) produziu em mim quando a
manifestação ainda parecia ter um grande futuro. Estava no metrô de
Washington,lendo um artigo sobre os manifestantes reunidos no Zuccotti Park de
Manhattan. Fazia três anos que Wall Street havia se recuperado; dois anos que
meu círculo de colegas e amigos havia abandonado a esperança de ver o
presidente Barack Obama provar sua audácia; dois meses que os amigos
republicanos dos banqueiros haviam conduzido o país à beira da moratória ao
empreender um braço de ferro orçamentário com a Casa Branca. Como todos, já não
aguentava mais.
Ao meu lado, estava um cidadão impecavelmente vestido, talvez um quadro
superior que acabara de sair de algum salão comercial, a julgar pela bolsa a
tiracolo com slogans que se referiam ao dinheiro. As frases indicavam como otimizar
os investimentos financeiros, sugeriam que o luxo é um benefício e que ser um
ganhador é magnífico. O homem parecia realmente incomodado. Eu saboreava a
situação: em outros tempos, eu é que teria vergonha de exibir a capa do meu
jornal em um vagão lotado; hoje, são pessoas como ele que tentam passar
despercebidas.
Alguns dias depois, assistia a um vídeo na internet que mostrava um
grupo de militantes do OWS debatendo em uma livraria. Em um momento do filme,
um participante se perguntou sobre a obsessão de seus camaradas em insistir que
se expressam “por si mesmos”, em vez de assumir que pertencem a um coletivo.
Outro, então, replicou: “Cada um pode falar apenas por si mesmo; ao mesmo
tempo, o ‘si mesmo’ poderia muito bem se diluir em seu próprio questionamento,
como convida todo pensamento pós-estruturalista que leva ao anarquismo [...].
Não posso falar apenas por mim: é o ‘apenas’ que conta nesse caso, e certamente
é aí que muitos espaços se abrem”.
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013
COMO SE MATAM OS POETAS
Mauro Santayana
A justiça chilena determinou a exumação dos restos
mortais do cidadão chileno Neftaly Ricardo Reyes, o poeta Pablo Neruda. Suspeita-se
que Neruda tenha sido envenenado pelos esbirros de Pinochet, dias depois da
morte de Allende, no golpe de 11 de setembro de 1973 – há quase 40 anos.
Neruda, que se preparava para asilar-se no México - em uma concessão dos
golpistas, sob pressão internacional - foi internado em uma clínica, com uma
crise prostática. Ali, segundo denúncia de seu motorista, recebeu a falsa
medicação que o matou.
Os poetas – e poucos que redigem poemas conseguem ser
realmente poetas – pertencem a outra espécie de seres humanos. Encontram-se na
vanguarda das emoções e dos sentimentos. Isso leva a maioria deles a
desfazer-se dos escolhos das circunstâncias e exilar-se em geografia e tempo
alheios, mas sem perder a bússola da realidade, sem perder sua paisagem e sem
perder o seu povo.
domingo, 17 de fevereiro de 2013
sábado, 16 de fevereiro de 2013
UM PARLAMENTO IMUTÁVEL
Por Mauro Santayana
(JB) - Os argumentos
dos que contestam a eleição dos presidentes do Senado Federal e da Câmara dos
Deputados podem ser outros – e não nos cabe analisá-los. O que incomoda à
consciência dos mais bem informados é a permanência dos mesmos atores políticos
no poder ao longo dos lustres e dos decênios. Como lamentava o jornalista José
Aparecido durante o período da Ditadura, o único consolo é que podemos contar
com a inexorável sucessão biológica.
Dois fatores, um mais
antigo, e outro mais recente, contribuíram para a situação atual: a Ditadura,
que impediu, mediante todos os artifícios do poder, a renovação dos quadros
políticos, e o instituto da reeleição para os cargos executivos. A Ministra Carmem
Lúcia disse, com acuidade, que a reeleição quebra o equilíbrio que deve haver,
nas disputas políticas, entre o governo e a oposição. Podemos entender, no
sentido lato, dentro de nossa língua e da nossa visão de Estado, que, como
governo, compreende-se o poder executivo e a maioria parlamentar que o apóia.
Com a reeleição, a vantagem dos que se encontram no poder esmorece e dificulta
a ação dos opositores.
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013
Escândalo 'Vatileaks' teria motivado renúncia, diz revista
Papa decidiu renunciar após
ler relatório sobre "Vatileaks", diz revista
Segundo a 'Panorama',
renúncia estaria ligada a uma grande "resistência na Cúria" às
medidas de transparência almejadas por Joseph Ratzinger
O papa Bento XVI teria decidido renunciar ao pontificado em 17 de
dezembro do ano passado, após receber um novo relatório sobre o escândalo do
vazamento de documentos oficiais do Vaticano, conhecido como
"Vatileaks", que apontava uma "forte resistência" na Cúria
romana em relação às medidas de transparência exigidas por ele.
A revelação está em um artigo da revista italiana Panorama, que
será publicado amanhã mas que teve alguns trechos divulgados nesta
quarta-feira. Segundo a revista do grupo Mondadori, propriedade da família
Berlusconi, em 17 de dezembro de 2012 Bento XVI recebeu os três cardeais que
nomeou para investigar o vazamento de seus documentos pessoais e do Vaticano,
que acabaram publicados em um livro de Gianluigi Luzzi e que levaram à prisão
do mordomo do Papa, Paolo Gabriele.
terça-feira, 12 de fevereiro de 2013
O FIM DA REELEIÇÃO
Oscarino Arantes
"Os partidos políticos existem para alcançar o
poder."
(Ulysses Guimarães)
Objetivamente,
a razão de ser de um partido político é chegar ao poder. Todo o sentido de sua
criação, todo o propósito de sua existência, sua organização e ação política, é
voltada para esse objetivo. Pela via institucional numa democracia, a chegada
ao poder, aqui compreendido como o governo central, ocorre por meio de eleição.
Daí a importância fundamental da alternância democrática, ou princípio da
alternância do poder. Isso porque, ao contrário do senso comum, a democracia
não é apenas a vontade da maioria prevalecendo sobre a minoria. É também um
conjunto de princípios e valores que ajudam a construir o referencial de uma
ordem democrática: estado de direito, estabilidade das regras, respeito às
minorias, livre manifestação de pensamento, divisão e autonomia dos poderes,
entre outros.
É
nesse sentido que faz parte da essência da própria democracia a alternância do
poder, que permite um equilíbrio entre as forças políticas instaladas no
governo e aquelas que lhe fazem oposição, contribuindo para a renovação
política. Sem ela consolidam-se práticas autocráticas, personalismo, desvios
éticos, a confusão entre partido e governo, o enfraquecimento da oposição, o
esvaziamento do debate ideopolítico e o desprestígio da própria democracia.
domingo, 10 de fevereiro de 2013
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013
O Mundo Amanhã - Assange entrevista Noam Chomsky e Tariq Ali
Ninguém poderia tê-las previsto. Mas ainda com o mundo sob o efeito das revoluções no Oriente Médio, Assange se reuniu com dois pensadores de peso para saber o que eles pensam sobre o futuro.
Noam Chomsky, renomado linguista e pensador rebelde, e Tariq Ali, romancista de revoluções e historiador militar, encontram na Primavera Árabe questões sobre a independência das nações, a crise da democracia, sistemas políticos eficientes (ou não) e a legião de jovens ativistas que tem se levantado para protestar no mundo todo. ”A democracia é como uma concha vazia, e é isso que está revoltando a juventude, ela sente que faça o que fizer, vote em quem votar, nada vai mudar. Daí todos esses protestos”, explica Ali. “O que temos na política ocidental não é a extrema esquerda e nem a extrema direita, mas um extremo centro”, continua ele. “E esse extremo centro engloba tanto a centro-direita quanto a centro-esquerda, que concordam em fundamentos: travando guerras no exterior, ocupando países e punindo os pobres, punindo por meio de medidas de austeridade.
Não importa qual o partido no poder, seja nos Estados Unidos ou no mundo ocidental… “. Segundo o próprio Ali, a grande crise da democracia está pulsando nas mãos das corporações. “Quando você tem dois países europeus, como a Grécia e a Itália, e os políticos abdicando e dizendo ‘deixem os banqueiros comandar’… Para onde isso está indo? O que nós estamos testemunhando é a democracia se tornando cada vez mais despida de conteúdo”, critica o ativista.
Noam Chomsky, renomado linguista e pensador rebelde, e Tariq Ali, romancista de revoluções e historiador militar, encontram na Primavera Árabe questões sobre a independência das nações, a crise da democracia, sistemas políticos eficientes (ou não) e a legião de jovens ativistas que tem se levantado para protestar no mundo todo. ”A democracia é como uma concha vazia, e é isso que está revoltando a juventude, ela sente que faça o que fizer, vote em quem votar, nada vai mudar. Daí todos esses protestos”, explica Ali. “O que temos na política ocidental não é a extrema esquerda e nem a extrema direita, mas um extremo centro”, continua ele. “E esse extremo centro engloba tanto a centro-direita quanto a centro-esquerda, que concordam em fundamentos: travando guerras no exterior, ocupando países e punindo os pobres, punindo por meio de medidas de austeridade.
Não importa qual o partido no poder, seja nos Estados Unidos ou no mundo ocidental… “. Segundo o próprio Ali, a grande crise da democracia está pulsando nas mãos das corporações. “Quando você tem dois países europeus, como a Grécia e a Itália, e os políticos abdicando e dizendo ‘deixem os banqueiros comandar’… Para onde isso está indo? O que nós estamos testemunhando é a democracia se tornando cada vez mais despida de conteúdo”, critica o ativista.
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013
HISTÓRIA OCULTADA: O Lincoln que Spielberg — e os EUA — esqueceram
Além de anti-escravista, presidente norte-americano lia Marx,
simpatizava com socialistas utópicos e defendia direitos trabalhistas
radicais
Por Vicenç Navarro* | Tradução: Gabriela Leite
O filme Lincoln, produzido e dirigido por um dos diretores mais conhecidos dos EUA, Steven Spielberg, deu nova vida a um grande interesse pela figura de Abraham Lincoln, um dos presidentes que, como Franklin D. Roosevelt, sempre desfrutou, no imaginário estadunidense, de grande lembrança popular. Sua figura política destaca-se como a de quem garantiu a unidade dos EUA, depois de derrotar os confederados que aspiravam a secessão dos Estados do Sul. É também uma figura que ressalta na história dos EUA por ter abolido a escrevidão, e ter dado a liberdade e cidadania aos decendentes das populações imigrantes de origem africana — ou seja, a população negra, que nos EUA é conhecida como a população afroamericana.
Lincoln foi também um dos fundadores do Partido Republicano. Este, em suas origens, era o completo oposto do que é hoje, quando está fortemente influenciado por um movimento — o Tea Party — chauvinista, racista e reacionário ao extremo. O Partido Republicano fundado por Lincoln era, ao contrário, uma organização federalista, que considerava o governo federal como garantia dos Direitos Humanos. Entre eles, a emancipação dos escravos, tema central da película Lincoln, foi aquele ao qual Lincoln deu maior ênfase. Terminar com a escravidão significava que o escravo passava a ser trabalhador, dono de seu próprio trabalho.
Contudo, Lincoln, inclusive antes de ser presidente, considerou outras conquistas sociais como parte dos Direitos Humanos. Entre ela, o direito do mundo do trabalho controlar não só seu trabalho, mas também o produto dele. O direito de emancipação dos escravos transformava-os em pessoas livres assalarianas, unidas — segundo ele — em laços fraternais com os outros membros da classe trabalhadora, independentemente da cor de sua pele. Suas demandas de que o escravo deixasse de sê-lo e de que o trabalhador — tanto branco como negro — fosse o dono, não só de seu trabalho, mas também do produto de seu trabalho, eram igualmente revolucionárias. O segundo tipo de emancipação, no entanto, nem sequer é citado no filme Lincoln. Ele a ignora. E utilizo a expressão “ignora” ao invés de “oculta” porque é muito possível que os autores do filme e do livro em que ele se baseia nem sequer conheçam a história real de Lincoln.
terça-feira, 5 de fevereiro de 2013
Ideais anticapitalistas e/ou interesse estrangeiro
Gelio Fregapani
Sem a bandeira comunista para se opor ao capitalismo, aos
anticapitalistas restou o ambientalismo e o indigenismo, que ao final do século
XX, uniram-se formando um movimento contrário a qualquer projeto
desenvolvimentista. No Brasil isto é tão forte a ponto de seguir freando por
mais de três décadas o processo de desenvolvimento do país.
Foram
poucos os projetos de desenvolvimento no Brasil que não esbarraram e estagnaram
ante alguma resistência, seja de terra indígena, unidade de conservação,
comunidade quilombola ou comunidade tradicional. Raramente, por reivindicações
legitimas. Mas são grupos se opondo de forma veemente e sistemática contra
qualquer iniciativa ou obra de desenvolvimento. Sempre contrários à aberturas
de estradas, ferrovias, hidrovias ou usina hidrelétrica, em grande parte obras
que os beneficiariam pessoalmente, fizeram o jogo do grande capital
internacional, regiamente recompensados por eles.
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013
A história de Irena Sendler: o Anjo do Gueto de Varsóvia
Nem sempre o prêmio é atribuído a quem mais o merece...
Enquanto conseguiu manter este trabalho, conseguiu retirar e salvar cerca de 2500 crianças.
Por fim os nazistas apanharam-na. Souberam dessas atividades e em 20 de Outubro de 1943 Irena Sendler foi presa pela Gestapo e levada para a infame prisão de Pawiak, onde foi brutalmente torturada. Num colchão de palha encontrou uma pequena estampa de Jesus Misericordioso com a inscrição: “Jesus, em Vós confio”, e conservou-a consigo até 1979, quando a ofereceu ao Papa João Paulo II.
Aos 98
anos de idade, Irena Sendlerowa faleceu em 12 de maio de 2008. Conhecida como "o anjo do Gueto de Varsóvia", sua história é uma lição de vida que merece ser perpetuada.
Durante a 2ª Guerra Mundial, Irena conseguiu uma autorização
para trabalhar no Gueto de Varsóvia, como especialista de canalizações.
Mas os seus planos iam mais além... Sabia quais eram os planos
dos nazistas relativamente aos judeus (sendo cristã e alemã!).
Irena trazia crianças escondidas no fundo da sua caixa de ferramentas e levava um saco de sarapilheira na parte de trás da sua caminhoneta (para crianças de maior tamanho). Também levava na parte de trás da caminhoneta um cão a quem ensinara a ladrar aos soldados nazis quando entrava e saia do Gueto. Claro que os soldados não queriam nada com o cão e o ladrar deste encobriria qualquer ruído que os meninos pudessem fazer.
Irena trazia crianças escondidas no fundo da sua caixa de ferramentas e levava um saco de sarapilheira na parte de trás da sua caminhoneta (para crianças de maior tamanho). Também levava na parte de trás da caminhoneta um cão a quem ensinara a ladrar aos soldados nazis quando entrava e saia do Gueto. Claro que os soldados não queriam nada com o cão e o ladrar deste encobriria qualquer ruído que os meninos pudessem fazer.
Enquanto conseguiu manter este trabalho, conseguiu retirar e salvar cerca de 2500 crianças.
Por fim os nazistas apanharam-na. Souberam dessas atividades e em 20 de Outubro de 1943 Irena Sendler foi presa pela Gestapo e levada para a infame prisão de Pawiak, onde foi brutalmente torturada. Num colchão de palha encontrou uma pequena estampa de Jesus Misericordioso com a inscrição: “Jesus, em Vós confio”, e conservou-a consigo até 1979, quando a ofereceu ao Papa João Paulo II.
domingo, 3 de fevereiro de 2013
Identidades Vazias artigo de Slavoj Žižek
Eleger a internet como exemplo
democrático é esconder diferenças sociais, institucionais e psicológicas entre
as vidas “real” e “virtual”
Slavoj Žižek
Na
edição de 25 de dezembro da revista “Time”, o prêmio tradicional de “Pessoa do
Ano” não foi concedido a Mahmoud Ahmadinejad [presidente do Irã], Kim Jong-Il
[ditador norte-coreano], Hugo Chávez [presidente venezuelano] ou qualquer outro
membro da gangue dos usuais suspeitos, mas a “você”: a todos e a cada um de
nós… usuários e criadores de conteúdo na web. A capa mostra um teclado branco
com um espelho para uma tela de computador onde cada um de nós, leitores, pode
ver seu reflexo. Para justificar a escolha, os editores mencionaram a transição
das instituições para os indivíduos, que estão ressurgindo como cidadãos da nova
democracia digital.
Há coisas que os olhos não conseguem ver, nessa escolha, e em um sentido mais amplo do que o comum nessa expressão. Se algum dia já houve uma escolha ideológica, esse é um caso que merece perfeitamente a classificação: a mensagem -uma nova democracia cibernética na qual milhões podem se comunicar e organizar diretamente, contornando o controle estatal centralizado- encobre uma série de brechas e tensões perturbadoras.
A primeira e mais evidente das ironias é que cada pessoa que olhe a capa da “Time” não verá as demais pessoas com quem supostamente se relaciona diretamente, e sim um reflexo de sua própria imagem. Não admira que Leibniz [1646-1716] seja uma das referências filosóficas preferenciais dos teóricos do ciberespaço: afinal, a imersão das pessoas no ciberespaço não se enquadra perfeitamente à nossa redução a uma mônada leibniziana que, embora “sem janelas” capazes de se abrir diretamente para as realidades externas, espelha em si mesma todo o universo?
Será que o típico internauta atual, sentado sozinho diante da tela de seu computador, não representa mais e mais uma mônada sem janelas diretas para a realidade, envolvido apenas com simulacros virtuais, e no entanto mais e mais imerso na rede mundial, e se comunicando de maneira sincrônica com todo o planeta?
Uma das mais recentes modas entre os radicais do sexo são as maratonas de masturbação, eventos coletivos nos quais centenas de homens e mulheres se autopropiciam satisfação sexual para fins de caridade. A masturbação cria uma coletividade a partir de indivíduos dispostos a compartilhar uns com os outros… o quê?
O solipsismo de uma diversão estúpida. Seria possível propor que as maratonas de masturbação são a forma de sexualidade que se enquadra de maneira mais perfeita às coordenadas do ciberespaço.
Há coisas que os olhos não conseguem ver, nessa escolha, e em um sentido mais amplo do que o comum nessa expressão. Se algum dia já houve uma escolha ideológica, esse é um caso que merece perfeitamente a classificação: a mensagem -uma nova democracia cibernética na qual milhões podem se comunicar e organizar diretamente, contornando o controle estatal centralizado- encobre uma série de brechas e tensões perturbadoras.
A primeira e mais evidente das ironias é que cada pessoa que olhe a capa da “Time” não verá as demais pessoas com quem supostamente se relaciona diretamente, e sim um reflexo de sua própria imagem. Não admira que Leibniz [1646-1716] seja uma das referências filosóficas preferenciais dos teóricos do ciberespaço: afinal, a imersão das pessoas no ciberespaço não se enquadra perfeitamente à nossa redução a uma mônada leibniziana que, embora “sem janelas” capazes de se abrir diretamente para as realidades externas, espelha em si mesma todo o universo?
Será que o típico internauta atual, sentado sozinho diante da tela de seu computador, não representa mais e mais uma mônada sem janelas diretas para a realidade, envolvido apenas com simulacros virtuais, e no entanto mais e mais imerso na rede mundial, e se comunicando de maneira sincrônica com todo o planeta?
Uma das mais recentes modas entre os radicais do sexo são as maratonas de masturbação, eventos coletivos nos quais centenas de homens e mulheres se autopropiciam satisfação sexual para fins de caridade. A masturbação cria uma coletividade a partir de indivíduos dispostos a compartilhar uns com os outros… o quê?
O solipsismo de uma diversão estúpida. Seria possível propor que as maratonas de masturbação são a forma de sexualidade que se enquadra de maneira mais perfeita às coordenadas do ciberespaço.
Mas isso é apenas uma
parte da história. O que se torna preciso acrescentar é que o “você” que se
reconhece enquanto imagem em uma tela padece de uma profunda divisão: eu jamais
me limito a ser a persona que assumo na máquina. Primeiro, existe o (bastante
evidente) excesso do eu como pessoa corpórea “real” além da persona virtual.
sábado, 2 de fevereiro de 2013
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