A nossa pouco gloriosa mídia comercial – liderança sem contendor da oposição da direita - vive um dilema angustiante desde que as manifestações populares voltaram às ruas. Dizer que é uma dúvida hamletiana, seria uma concessão indevida à baixíssima qualidade do jornalismo, hoje; o melhor seria enunciar que se trata de um impasse “tostines”, mais adequado à compreensão dos arrivistas que se impõem às redações.
A hesitação é: apoiar ou condenar as manifestações? Mostrar simpatias ou demonizar os Black bloks? Estimular ou condenar a repressão? Lei anti-terrorismo, sim ou não?
Depois da perplexidade inicial quando, seguindo seus instintos, desancou os “baderneiros”, a mídia realinhou-se, tão férteis e prolíferas as possibilidades do movimento. A sua natureza golpista vislumbrou “janelas de oportunidades” para fazer sangrar o governo petista.
Assim, vândalos e arruaceiros transmudaram-se em ativistas e militantes; jovens rebelados contra a má qualidade dos serviços públicos e a corrupção; e a desordem de antes passou a ser acolhida como manifestação apartidária e apolítica. É claro, com todas as advertências da mídia, notadamente o seu comando político-ideológico, as Organizações Globo, para que as massas se comportassem educadamente, sem violência, quebra-quebra e outras expressões de incivilidade, para não assustar a classe média, as senhoras católicas e os veteranos de 32, 45, 54, 55, 56, 59 e 64, e tantas outras memoráveis batalhas.
A velha mídia, comercial e venal, e a velha oposição que ela comanda, agora acrescida dos tais “socialistas”, esqueceu-se, no entanto, de que, quando você tira o diabo para dançar, quem muda é você, não o diabo. É quem convida que se enquadra ao ritmo, não o tinhoso. Os demônios estão soltos e não há como recolhê-los. Logo mais, não haverá como domá-los também.
A crítica de figuras estelares da mídia a possíveis legislações anti-manifestações, gestadas pelos sempre disponíveis Romeros Jucás, por exemplo, mostra com que ansiedade os conservadores aguardam a chegada dos meses de maio e junho, quando, rezam aos céus, será enterrada a reeleição da presidente.
Quer dizer, o diabo está sendo insistentemente convidado para dançar. E, solto no redemoinho das manifestações, com máscara ou sem máscara, com fadas ou sem fadas, vai perder o controle e a Globo terá que se encarapitar nos prédios para fugir da turba multa, regerá o coro conservador exigindo lei e ordem, sairá à caça do demônio para trancafiá-lo, novamente.
E poderão ter êxito, ainda mais uma vez, desgraçadamente.
Afinal, o diabo ou a extrema direita, incluindo a PM de São Paulo e Rio de Janeiro, está animado: amontoa a Internet com piadas e mensagens grosseiras, atacando o PT por suas qualidades, nos tempos que ainda dependia da mobilização, aguerrida, da sua militância. Ataca o Senado e os petistas porque não passou o projeto reacionário que alterava a maioridade penal. E ataca também o ex-ministro Padilha por causa dos médicos cubanos. São os generais de pijama, e outros atuais, encarnados no diabo e saudosistas dos tempos de terror da ditadura.