Por Mauro Santayana
A recepção do corpo do Presidente
João Goulart, em Brasília, esta semana, com honras de chefe de Estado, é um
importante passo para a consolidação e o fortalecimento da democracia em nosso
país.
Ao contrário do que muitos
pensam, Jango nunca foi comunista. Fiel seguidor do Presidente Getúlio Vargas,
ele era, pelo contrário, filho de uma rica família de fazendeiros gaúchos, que
aprendeu, com Getúlio a se preocupar com as condições de vida dos mais pobres.
Foi levado, pela história, a
assumir o Brasil em um momento difícil – criado pela irresponsável renúncia do
Presidente Jânio Quadros. Ele sabia que o país não iria progredir se não
fizesse várias reformas que ainda hoje estão pendentes, como a própria reforma
agrária.
Foram os mesmos golpistas que
mataram Getúlio – levando-o a suicidar-se, com um tiro no coração, em 24 de
agosto de 1954, no Palácio do Catete - que derrubaram Jango dez anos depois,
com o Golpe Militar de 1964.
Antes, já haviam tentado impedir
a eleição e o extraordinário governo de Juscelino Kubitscheck de Oliveira. Carlos Lacerda dizia aos militares golpistas
– é preciso ressalvar que muitos militares defendiam a democracia e pagaram
caro por isso mais tarde – que JK não podia se eleger. Se eleito, não podia
tomar posse. E se tomasse posse tinha que ser derrubado.
Se isso tivesse acontecido, não
existiriam hoje Brasília, nem as grandes
rodovias, nem grandes hidroelétricas, nem a indústria automobilística,
conquistas alcançadas por JK em um governo totalmente democrático, que resistiu
a várias tentativas de golpe, como a “Crise de Novembro” , Jacareacanga e Aragarças.
Pressionado pela necessidade
imperiosa de mudar o país, mas também pela constante sabotagem dos golpistas -
esses dirigidos e apoiados por uma potência estrangeira, os EUA – que não
aceitavam um projeto independente e soberano de desenvolvimento para o Brasil -
Jango finalmente foi derrubado.
Uma frota norte-americana já se
aproximava das costas brasileiras, para, se necessário, desembarcar tropas para
ajudar os golpistas, caso houvesse resistência, organizada, de início, por
corajosos chefes militares que depois tiveram de render-se.
Antes disso, em sua Carta
Testamento – na qual denunciava as forças e interesses nacionais e
internacionais que se organizavam contra o Brasil – Getúlio Vargas afirmou,
dirigindo-se ao povo brasileiro:
“Eu vos dei a minha vida. Agora
vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no
caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História.”
Esta semana, em Brasília, Jango
entrou mais uma vez para a história, agora com a pompa, as circunstâncias e as
honras que lhe cabem como ex-Presidente da República e um dos principais
líderes de nosso país no século XX.
São Borja que nos desculpe, mas
seu corpo – assim como de outros presidentes que lutaram pela liberdade e o
estado de direito - deveria ficar na Capital da República, no Panteão da
Liberdade e da Democracia.
Fonte: http://www.maurosantayana.com
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